Uma nova empresa deve entrar na lista de investigadas pelo Minis-tério
Publico Estadual por participação no cartel de licitações de trens em
São Paulo. Trata-se da Façon Eletromecânica; que foi subcontratada pela
Alstom para as obras de extensão da Linha 2 Verde do Metrô (Vila
Madalena a Vila Prudente), mas seria usada para camuflar o pagamento de
propina. Um gerente do Metrô que tinha ligação com a empresa foi
exonerado do cargo ontem.
Sérgio Roxo
A Façon deveria executar serviços de montagem e testes de sinalização,
tração e manobra, pelos quais receberia R$ 8,949 milhões. Porém, acabou
embolsando R$ 28,3 milhões, valor equivalente a 17,21% dos R$ 164,5
milhões pagos por todo o contrato. A empresa recebeu diretamente do
Metrô.
A extensão da Linha Verde faz parte do grupo de obras em que o cartel
denunciado pela Siemens teria agido. O consórcio vencedor, formado pela
Siemens e pela Alstom, subcontratou as companhias que formavam o
consórcio derrotado.
O contrato do consórcio foi homologado em abril de 2005, e o pedido da
Alstom para que o Metrô contratasse a Façon foi feito dois meses depois.
Segundo denúncia apresentada à Polícia Federal, a Façon era uma das
empresas subcontratadas para camuflar o pagamento de propina. De acordo
com as denúncias, a Siemens usava a empresa MGE para esse propósito. No
fim de novembro, o líder do PT na Assembleia Legislativa, Luiz
Marcolino, entregou uma representação ao Ministério Público Estadual
pedindo que o contrato da Façon seja investigado.
No endereço da Façon Eletromecânica registrado na Junta Comercial, na
Zona Norte de São Paulo, funcionam a sede de uma distribuidora de peixes
e de uma empresa de contabilidade. Um funcionária disse que Façon já
ocupou o imóvel.
Em 2007, ainda no curso dos trabalhos da Linha 2, dois sócios da
empresa, Eduardo Kengi Hirai e Edson Buono Nakano, formaram a Façon
Empreendimentos e Participações. Entre 2008 e setembro de 2010, a Façon
Êmpreendimentos foi sócia da Celog III, que teve entre seus sócios
Nelson de Carvalho Scaglione e o filho dele. Scaglione é gerente de
manutenção do Metrô, vinculado ao setor de Engenharia. No período da
sociedade, a Façon ganhou sete licitações do Metrô.
Ontem à noite, após ser procurado pelo GLOBO, o Metrô informou que
exonerou Scaglione. Por e-mail, ele disse que não tem relação com a
Façon e que a Celog é um condomínio com o objetivo de construir galpões
industriais. Afirmou ainda que, de outubro de 2008 a setembro de 2010,
não ocupava o cargo de gerente de manutenção do Metrô.
A Controladoria Geral dè SP vinha investigando Scaglione, que foi ouvido
duas vezes nas últimas semanas. Também recomendou ao Metrô sua
exoneração. A controladoria verifica sua evolução patrimonial e a
relação com empresas privadas O Metrô informou que tem auxiliado a
controladoria na apuração sobre a regularidade dos contratos. A Alstom
informou que a Façon foi subcontratada de forma regular. "Os serviços
efetivamente executados pela Façon foram devidamente pagos pela Alstom. A
subcontratação de empresas em projetos de infraestrutura é uma prática
usual e necessária, dada a complexidade técnica envolvida. A Alstom
trabalha com base em um rígido código de ética, de maneira a respeitar
todas as leis e regulamentações dos países em que atua".
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