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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Merkel, Sarkozy e FMI deram ultimato à Grécia

 A convocatória do referendo grego ao pacote de ajuda europeia enfureceu os governos alemão e francês. O primeiro-ministro Papandreou lançou uma moção de confiança no parlamento e diz que a Grécia pode ir a referendo no dia 4 de Dezembro. Na passagem por Cannes, ficou a saber que o país só recebe a sexta tranche do empréstimo caso o referendo aprove o plano da troika.

Os oito mil milhões da sexta tranche do empréstimo, que deviam chegar este mês, ficam congelados até depois do referendo.

Os oito mil milhões da sexta tranche do empréstimo, que deviam chegar este mês, ficam congelados até depois do referendo. Foto Peer Grimm/EPA
 
Do Esquerda.net
O eixo franco-alemão, a Comissão Europeia, o Conselho Europeu, o FMI, o Banco Central Europeu e o Eurogrupo reuniram-se quarta-feira à tarde ao mais alto nível em Cannes, na véspera da reunião do G 20, para debaterem a situação criada pelo anunciado referendo na Grécia sobre o pacote “de ajuda” a Atenas aprovado pelo Conselho Europeu da passada semana. Os estadistas presentes exigem “clareza” ao chefe do governo de Atenas sobre o assunto do referendo e entretanto, pela voz de Durão Barroso, a Comissão Europeia anunciou que a Grécia não receberá a verba de oito mil milhões pendente ainda do primeiro resgate antes da realização da consulta popular.

Apesar das pressões surgidas de todo o lado, inclusivamente do seu próprio partido, Georges Papandreu mantém a convocação próxima de um referendo sobre o novo resgate de 130 mil milhões de euros acompanhado de um corte de 50 por cento da dívida soberana no âmbito do plano aprovado pelo Conselho Europeu. Quinta-feira decorre no Parlamento grego o debate de um voto de confiança ao governo, que será votado na sexta-feira. Na Praça da Constituição, onde se situa o Parlamento, estão convocadas grandes manifestações populares pelas centrais sindicais e partidos de esquerda, na quinta e sexta-feira, protestando contra as constantes medidas de austeridade que têm sido impostas ao povo grego no âmbito da política de resgates instaurada alegadamente para combater a dívida - e que só a tem agravado.

Depois da tempestade criada pelo anúncio da convocação do referendo e após uma reunião de sete horas do Conselho de Ministros, Papandreu afirmou que a pergunta prevista para a consulta será apenas se os eleitores aceitam ou não o plano de resgate. A consulta não terá qualquer alusão, segundo o primeiro ministro e outros porta-vozes oficiais, à continuação ou não do país no Euro ou na União Europeia.

A frase com que Papandreu explica a necessidade de um referendo é, de acordo com o comunicado do Conselho de Ministros: “a democracia está acima do apetite dos mercados”. Sectores de oposição à esquerda lamentam que o chefe do governo não se tenha guiado por esta frase antes de ter mergulhado o país na política de resgates e na austeridade quando explodiu o problema da dívida soberana e quando a intervenção popular tinha alternativas mais alargadas em vez do “quadro de chantagem” a que agora está sujeita. O próprio primeiro ministro confirma implicitamente, para sublinhar a sua confiança em que o voto popular será favorável ao resgate, que os gregos estão agora colocados perante a escolha entre mais austeridade ou a possibilidade de bancarrota – ameaça brandida a todo o momento pelos dirigentes europeus, desde Merkel a Barroso. O cancelamento da verba de oito mil milhões – que pode por em causa os compromissos da administração pública grega nas próximas semanas, já faz parte dessa operação de “chantagem” de Bruxelas sobre os gregos. Barroso deu a notícia e o FMI confirmou-a dizendo que, ao convocar o referendo, Papandreu não está em condições de “dar garantias” sobre esse empréstimo.

O Conselho de Ministros decidiu formar uma comissão de trabalho para montar o referendo, contra o qual estão numerosos deputados do PASOK de Papandreu e pelo menos o ministro da Saúde. Com as deserções que têm vindo a ocorrer no grupo parlamentar socialista, a maioria governamental está reduzida a dois deputados (152 em 300), tornando o cenário de queda do governo e eleições antecipadas bastante plausível. Na moção de confiança, porém, Papandreu necessita apenas de 120 votos, pelo que a questão poderá não se colocar já. Vários deputados do PASOK enviaram entretanto uma carta ao chefe do governo sugerindo a formação de um governo de unidade nacional para co-responsabilizar igualmente a direita pela crise humana e social do país.

O governo pretende entretanto acelerar o processo de convocação do referendo, inicialmente pensado para Janeiro mas que poderá realizar-se ainda em Dezembro, devido à urgência da situação.
Os dirigentes europeus pedem a Papandreu sobretudo “clareza”. O mote foi lançado em primeiro lugar pelo ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schaube: “Será útil saber com clareza e o mais depressa possível que caminho a Grécia quer seguir”, disse, corroborado pouco depois pela senhora Merkel. A recomendação foi adoptada ao princípio da noite de quarta-feira pela cimeira informal em Cannes, antes da qual Barroso já tinha ameaçado que “sem acordo com a União Europeia e o FMI as condições para os gregos serão muito mais dolorosas, principalmente para os mais vulneráveis”.

Outro assunto que agravou a polémica em que mergulharam a Grécia e as instituições europeus foi o anúncio da renovação total das chefias militares gregas decidida na reunião do Conselho de Ministros. O executivo afirma que já estava prevista, mas todas as forças de oposição salientam a inoportunidade e os riscos  desta decisão em momento de grande fricção política e social, conhecidos como são os tipos de intervenção dos militares na sociedade grega.

Artigo publicado no portal do Bloco no Parlamento Europeu.

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