Guerrilheiro Virtual

domingo, 18 de dezembro de 2011

A crise do Poder Judiciário e a importância do Conselho Nacional de Justiça

Fernando Montalvão
 
O Poder Judiciário sempre foi uma caixa preta, fechada em torno de si mesma, a amparar antigos vícios e privilégios não mais suportados pela sociedade moderna que exige transparência. Mário Albiani, ex-presidente do Tribunal de Justiça da Bahia dizia que o Judiciário vivia em uma redoma, embora o sentido atribuído à palavra tenha sido para exigir uma participação maior do juiz na comunidade.

A ministra corregedora do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Dra. Eliana Calmon, fez uma afirmativa que sacudiu a nação quando disse que no Poder Judiciário havia bandidos de toga que corresponderiam a 1% da magistratura. A maioria dos Conselhos do CNJ, capitaneado pelo min. Cezar Peluzo, presidente do Supremo e do CNJ, rebateu a afirmativa e emitiu nota de repúdio à ministra, nota que não contou com a adesão dos representantes do Ministério Público e da OAB no CNJ.
 
O Conselho Nacional da Justiça surgiu como pressão da sociedade para que se tivesse algum controle administrativo-financeiro-disciplinar sobre o Judiciário. O CNJ é instituição recente e nasceu com a emenda 45, que tomou o nome de Reforma do Poder Judiciário, mas que efetivamente ainda não aconteceu. Com o surgimento do CNJ a Associação dos Magistrados Brasileiros e outras congêneres se ouriçaram.

O CNJ veio como resposta à letargia das Corregedorias Internas das Cortes, especialmente das Estaduais, e o corporativismo reinante. Logo depois da instalação do CNJ, as Cortes de Justiça, como a dizer que o CNJ não era necessário, passaram a ter uma atuação disciplinar maior em relação aos magistrados. Mas as Cortes Estaduais de Justiça de São Paulo, Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro são fechadas e agem com toda resistência.

Por falar em Tribunais, enquanto o STF, a quem compete o resguardo da Constituição, tem 11 Ministros, o STJ a quem compete interpretar a legislação infraconstitucional é composto de 33 ministros. Já os Tribunais de Justiça de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas Gerais apresentam mais de uma centena de desembargadores cada. O Tribunal da Bahia é composto de 35 desembargadores e pretende chegar a 53, número que se acredita ideal. Particularmente, acho um exagero, e quantificação não significa qualificação.

O desembargador Antonio Pessoa, um dos grandes magistrados baianos, afirmou em artigo no jornal A Tarde que o magistrado no Brasil folga demais, já que por lei há uma previsão de 99 dias/ano de descanso. Se transformar a previsão em horas a coisa fica mais acintosa.

A grande massa dos magistrados brasileiros é de homens íntegros e merecem credibilidade. Mas há juízes com desvio de conduta, que deve ser considerado não somente quando o magistrado age sob tráfico de influência ou mediante paga, devendo ser entendido como desvio de conduta o juiz despreparado, quando então é sempre arbitrário, ou o desidioso. Tem juiz que passa uma eternidade sem proferir sequer uma sentença de mérito.

Embora o juiz tenha a obrigação de residir na sede da Comarca, nem sempre isso significa dizer que ele esteja sempre ali. Para atender a exigência, o juiz loca um imóvel e viaja quando quer. Raro é encontrar magistrado trabalhando na comarca das 2ª e 6ª feiras. O normal é seu expediente começar ma terça à tarde e se prolongar até a manhã de 5ª.

A Justiça Federal se revelava como incólume à corrupção e a desvios de conduta, o que não se tem revelado com certeza depois da atuação do CNJ.

Segundo o Consultor Jurídico, edição de 07.12.2011, o STJ afastou desembargador Francisco de Assis Betti do Tribunal Regional Federal da 1ª Região e o Ministério Público acusa Betti, a desembargadora Elisângela Maria Catão Alves, também do TRF-1, e outras cinco pessoas de montarem um esquema de liberações de mercadorias apreendidas pela Receita Federal e de venda de decisões para a liberação indevida do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) a prefeituras mineiras em débito com o INSS. À época da denúncia (2008), Betti e Alves eram juízes federais. Outros magistrados são acusados de favorecer donos de bingos com decisões.

Noutros Tribunais Federais a dinâmica vem sendo a mesma e juízes (de primeira instância e dos tribunais) vão sendo afastados, e não são poucas as denúncias. A maioria das queixas no CNJ é por retardo na prestação jurisdicional pelo juiz. Se for realizado levantamento dos processos licitatórios das Cortes para construções faraônicas, a coisa ficará mais séria. As denúncias envolvendo o Poder Executivo Nacional residem nos processos licitatórios, com foi o caso do Tribunal Regional do Trabalho, em São Paulo.


Do Tribuna da Imprensa

Nenhum comentário:

Postar um comentário

”Sendo este um espaço democrático, os comentários aqui postados são de total responsabilidade dos seus emitentes, não representando necessariamente a opinião de seus editores. Nós, nos reservamos o direito de, dentro das limitações de tempo, resumir ou deletar os comentários que tiverem conteúdo contrário às normas éticas deste blog. Não será tolerado Insulto, difamação ou ataques pessoais. Os editores não se responsabilizam pelo conteúdo dos comentários dos leitores, mas adverte que, textos ofensivos à quem quer que seja, ou que contenham agressão, discriminação, palavrões, ou que de alguma forma incitem a violência, ou transgridam leis e normas vigentes no Brasil, serão excluídos.”