Por Mauro Santayana
Terminado o ano de 2011, o Brasil alcançou quase 30 bilhões de dólares de superávit em seu comércio externo, o maior nos últimos quatro anos, com o crescimento de 47% sobre o resultado do ano anterior – com volume de negócios de quase 500 bilhões de dólares.
Se alguém voltar à previsão do Boletim Focus, em dezembro de 2010, para o comércio externo em 2011, irá verificar que os “magos” do sistema financeiro previam o saldo de pouco mais de 9 bilhões e quinhentos milhões de dólares. Erraram por pouco, apenas pela “pequena” margem de 20 bilhões de dólares - mais de 200% sobre seus cálculos.
Um equívoco de dois, três por cento, ou, de, no máximo dez por cento seria aceitável, embora surpreendente, tratando-se de tão altos luminares. Mas errar por essa margem, e continuar sendo consultados, como se nada tivesse ocorrido, é um insulto à inteligência da nação.
Embora todas as previsões do “mercado” se baseiem não exatamente em fatos, mas na opinião pessoal dos chamados analistas, não era difícil prever o aumento do preço das commodities no início do ano de 2011. Nada indicava abrupta queda do ritmo da demanda chinesa, cada vez mais voltada para o atendimento de seu imenso mercado interno em expansão, e, logo, menos dependente do que está acontecendo na Europa e nos Estados Unidos. Se a demanda chinesa não diminuiu na crise de 2008, por que isso se daria em 2011 ou por que ocorrerá – a não ser que haja uma catástrofe, natural ou política – neste ano de 2012. Deduz-se que o ritmo da economia chinesa cresça acima de 9% nestes doze meses.
O Banco Central surgiu, em 1964, subordinado à ideologia do primeiro governo militar, o de Castelo Branco. Foram seus criadores intelectuais Roberto Campos e Otávio Gouveia de Bulhões, embora o projeto de sua criação viesse de Vargas, visto como importante para a soberania nacional. A idéia de Getúlio era a de que os bancos privados deveriam ser submetidos aos freios do Estado, e esses freios seriam manejados pela instituição que pretendia. Não conseguiu criá-lo por causa da oposição dos banqueiros paulistas, e dos acadêmicos monetaristas, liderados por Eugenio Gudin, que pretendiam um “banco central independente”. O Bacen nasceu assim submetido ao fetiche do “mercado” financeiro, uma vez que criado por economistas neoliberais (já então), como foram Bulhões e Roberto Campos, ambos pupilos diletos de Gudin, para quem a industrialização do país era um erro, e deveríamos ser apenas o velho país “essencialmente agrícola”. Bulhões e Campos foram francos defensores do capital estrangeiro. E ferozes inimigos da criação e manutenção da Petrobrás. Campos chegou a sugerir que a Petrobrás fosse chamada de Petrossauro.
Por isso, em lugar de reservar aos seus técnicos a elaboração dos estudos de previsão dos rumos da economia, a fim de orientar seu próprio comportamento e a ação do governo, o Bacen “ouve” o mercado. Ora, o mercado não fala: falam os seus operadores, interessados apenas nos próprios negócios. É de sua conveniência prever situação negativa para as finanças públicas, a fim de justificar o aumento de juros que o Tesouro , mediante a taxa Selic, paga aos bancos, e orienta as operações de crédito com comércio, a indústria e os cidadãos. Daí as estimativas, quase sempre furadas, do Boletim Focus, que, em todo o início de ano, passam a ser amplamente divulgadas pelos meios de comunicação, como verdades incontestáveis. Essas “profecias”, baseadas no “mercado” – incapaz de perceber, em qualquer lugar do mundo, o surgimento de crises, como a de 29 e as atuais - corroem a credibilidade do Banco Central, e deveriam estar sendo discutidas amplamente, pelos jornais, pelo Congresso e toda a sociedade brasileira. O mercado não existe como pessoa de direito. E isso faz lembrar a famosa resposta de Geisel, quando o advertiram de que deveria “ouvir o sistema”: o único sistema que conhecia era o sistema métrico decimal, que não fala. O mercado não opina, nem fala. Quem opina e fala são os seu agentes.
O Banco Central nesta nova administração não é o mesmo do passado, quando esteve sob a presidência do banqueiro Henrique Meirelles. A reversão da tendência de alta futura da SELIC já demonstrou que seus novos dirigentes – e o governo como um todo - não vão mais se submeter, dóceis, a esse tipo de pressão. A Nação não pode permitir que meia dúzia de usurários determine quanto devem pagar de juros os que trabalham e produzem.
Talvez fosse melhor acabar de vez com o Boletim, que só tem servido para dar fé aos maus augúrios das cassandras.
Postado por Mauro Santayana
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