Certa vez nestas andanças no mundão de Deus, uma pessoa me perguntou se eu acreditava em pesquisa eleitoral. E mais, se eu acreditava que elas poderiam realmente expressar com exatidão a intenção de um povo.
Eu disse que sim, sem dúvida. Acredito e acho que elas conseguem expressar fielmente o pensamento popular. Afinal, a matemática é imutável e a estatística é verdadeiramente, uma das ciências mais bem desenvolvidas de que se tem notícia no campo sociológico.
Ora, disse ela. Por quê então tantas pesquisas erram?
Erram por diversos motivos. O mais comum é pelo fato de que a captação dos dados possa ter sido feita de modo equivocado, não respeitando os requisitos científicos.
Mas um fator pouco considerado pela população, é que na verdade, poucas pesquisas "erram". A diferença é que elas NÃO querem mostrar a realidade. Simples assim.
Explicando. Suponha que você vá fazer uma mesma pesquisa de opinião no Higienópolis em São Paulo, e na Rocinha, no Rio de Janeiro. A probabilidade de você encontrar resultados absolutamente distintos para as mesmas perguntas é quase absoluta. A pesquisa não está errada, ela apenas mostrou o que os financiadores da enquete queriam que ela mostrasse. Se você quer dados isentos e realistas, precisa verificar todos os extratos sociais, se você quer dados distorcidos, verifica somente onde estão as respostas das quais você precisa.
A primeira pesquisa Ibope das intenções de voto para a Prefeitura de Curitiba neste ano, é um caso destes, a ser analisado. Este escriba teve acesso ao questionário usado na pesquisa (está registrado no TRE). É um rol de perguntas bom e comum a qualquer enquete do tipo. Por que então ela não mostra necessariamente a verdade? Porque muito possivelmente, a captação das respostas se deu de maneira orientada. Não posso dizer claro, onde está rigorosamente o erro porque por certo, eu não estava lá na captação, mas como tenho acesso a diversos extratos sociais e naturalmente, política é algo que me interessa bastante, a diferença entre os dados mostrados e a realidade, está, no meu modo de ver, demonstrada.
Analisemos algumas verdades históricas. É factível achar que Ratinho Jr, esteja realmente disputando as cabeças? Em Curitiba? Pouco provável. Não é o perfil da maioria dos eleitores daqui. Ratinho Jr. é bem posicionado entre uma certa qualificação de jovens de classe média baladeira, e outro percentual de moradores dos bairros mais afastados. Nos bairros mais tradicionais e entre as pessoas mais velhas, notadamente da classe média, ele sequer tem apelo eleitoral. No frigir dos ovos, em determinado extrato social, Ratinho disputa os mesmíssimos votos de Gustavo Fruet. No resto, Fruet se sai melhor.
De outro lado, o atual Prefeito aparece em terceiro lugar.
Ao andar na rua e ao conversar com a população, você dificilmente encontrará alguém que realmente se disponha a votar na reeleição de Luciano Ducci. A cidade virou uma baderna e a aparência do que ocorreu aqui, é similar ao caso clássico de São Paulo sob Paulo Maluf. Ele pediu ao povo que votasse em Celso Pitta. O povo votou e viram no que deu. Ducci é um Prefeito sem voto que herdou uma cidade que estava em vias de decomposição. Pela pouca habilidade em administrar, o lugar virou um caos, irreconhecível aos moradores mais antigos.
Você só vai chegar à conclusão que Ducci está em terceiro, se for perguntar aos comissionados da Prefeitura. E olhe lá. Nem os ricos votam nele. A cidade inteira o defenestra vigorosamente.
Mas a demonstração cabal de que a pesquisa é tendenciosa é a pergunta número 6 do disco 3 do questionário. Lá, se omite propositalmente o nome de Rafael Greca, Renata Bueno e qualquer outro candidato do PT, por exemplo. Do mesmo modo, na pergunta 7, a possibilidade de segundo turno também só aparece para Ducci, Ratinho e Fruet. Ora, Como é que antes de perguntar ao povo, o questionário "já sabia" que os três estariam nos primeiros lugares?
Assim, pela visão deste iletrado escriba a enquete só poderia mostrar o que mostrou. Serve para deixar incontestavelmente visível que acreditar em pesquisas, é perigoso. Não porque elas erram e sim, porque quem as financia* pode não querer saber a intenção verdadeira do eleitor.
* Um dos financiadores desta, é o filho do Governador tucano Beto Richa.
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