O jornalista-espião Policarpo Jr. participou de bate-papo com uma turma do Curso Abril de Jornalismo. Leia a seguir seus segredos da investigação jornalística.
Sobre ser inocente útil da fonte
O repórter recomendou que se fortaleça o contato pessoal com os informantes. “Combinar um almoço pode ser uma boa. Você tira o camarada de um ambiente formal, deixa-o mais à vontade.” No entanto, uma aproximação maior deve ser evitada, para manter a isenção que a profissão requer. “Quando você tem uma ‘fonte amiga’ ou um amigo ‘fonte’, pode ser um inocente útil também”, comentou.
Sobre câmeras escondidas
A câmera escondida foi outro tema do encontro. O repórter disse que em geral não concorda com seu uso (principalmente na televisão) e questionou a confiabilidade das informações, dada a forma sorrateira como as abordagens ocorrem. “Quando você chega em uma empresa investigada e faz perguntas à secretária de lá, por exemplo... Ela pode contar coisas de que não tem certeza, que supõe que tenham ocorrido... Será que ela pode ser responsabilizada pelo que diz nessas circunstâncias?”.
Sobre câmeras escondidas, quando utilizadas por ele
No entanto, Policarpo acredita que há exceções para o uso da câmera oculta. Como exemplo, citou a matéria sobre a propina dos Correios, que desencadeou as denúncias do “mensalão”. “Tratava-se de um funcionário público [Maurício Marinho, ex-chefe de Departamento de Contratação da estatal] recebendo propina em um local público. Não havia outra forma de se mostrar o caso”, ponderou.
Sobre gravar conversas com a fonte, sem informá-la
Sobre gravar as conversas sem o entrevistado saber, o jornalista mais uma vez se justificou com a omissão. “Ele não me perguntou se eu estava gravando. Se tivesse perguntado, teria que dizer que sim.”
Sobre corrupção na mídia
O repórter de Veja considera que o jornalismo investigativo brasileiro está mal. “Os jornais não investem mais nessa área.” Ele citou uma matéria que fez na Amazônia e que levou seis meses para ficar pronta. “Tem de ter verba para isso, tem de ter infraestrutura.”
À falta de investimento soma-se a sobrecarga dos jornalistas. “Tem pouca gente para fazer muita coisa.” Casos de repórteres em Brasília que fazem matérias para diversos meios (como jornais, sites e rádios) são comuns, como conta Policarpo.
Sobre “interferir na realidade”
Apesar das dificuldades, o jornalista lembrou da parte gratificante das investigações. “É muito bom ver as coisas acontecerem”, disse a respeito das denúncias que motivam ações judiciais e políticas. “É bom poder interferir na realidade de uma maneira unilateral”, completou.
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