Enquanto aprovava edifícios, diretor adquiriu 106 imóveis
Funcionário da prefeitura deixou cargo após Corregedoria iniciar investigação
Advogado de Hussain Aref diz que patrimônio de R$ 50 milhões veio de herança e de renda de um estacionamento
O diretor responsável pela aprovação de empreendimentos imobiliários de médio e grande porte em São Paulo durante a maior parte da gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD) tem 118 imóveis, 106 dos quais adquiridos nos sete anos em que esteve no cargo.
Com renda mensal declarada de R$ 20 mil, entre rendimentos de aluguéis e salário bruto da prefeitura de R$ 9.400 (incluindo aposentadoria), Hussain Aref Saab, 67, acumulou, de 2005 até este ano, patrimônio superior a R$ 50 milhões - entre os seus 118 imóveis estão incluídas 24 vagas de garagem extras.
A explosão patrimonial de Aref, como é conhecido, foi identificada pela Folha em levantamento feito nos últimos 45 dias em cartórios da Grande São Paulo, do litoral e parte do interior do Estado.
Aref deixou o cargo no mês passado, após a Corregedoria Geral do Município e o Ministério Público passarem a investigá-lo por suspeita de corrupção. A apuração na Corregedoria foi aberta por determinação de Kassab, que recebeu uma carta anônima com denúncias contra o ex-diretor. A defesa de Aref "contesta frontalmente a acusação".
Em depoimento à Corregedoria, Aref não soube informar seu patrimônio. "Está meio nebuloso hoje", disse.
Vista para o parque
Entre seus imóveis há, por exemplo, meia dúzia de apartamentos num prédio com vista para o parque Ibirapuera. Esses imóveis estão estimados, no total, em R$ 4 milhões.
Aref era funcionário de carreira da prefeitura. Já aposentado, foi nomeado em janeiro de 2005 pelo então prefeito José Serra (PSDB) - por indicação de Kassab, vice à época - diretor do Departamento de Aprovação das Edificações, conhecido como Aprov. O cargo de confiança é vinculado à Secretaria da Habitação.
Qualquer prédio para ser construído a partir de 500 m² precisa da liberação do Aprov. Depois de pronto, também cabe ao setor liberar o empreendimento para que os moradores possam ocupá-lo.
Até assumir o Aprov, pelo levantamento da Folha, Aref tinha 12 imóveis registrados em seu nome -três deles de herança, dos quais ele detém uma parcela de 1/12.
A estimativa é que esses imóveis valham, ao todo, cerca de R$ 1,5 milhão.
Esse é o mesmo valor que o funcionário aposentado diz ainda ter aplicado em bancos.
Pouco mais de um ano depois de assumir o cargo, Aref registrou em seu nome um loft na Vila Madalena. Seis meses depois comprou, por R$ 80 mil, um apartamento na Chácara Flora, que vale R$ 500 mil. E não parou mais.
Até julho de 2008, registrou 58 imóveis (apartamentos, casas, terrenos, prédios comerciais e vagas de garagem) em seu nome pessoal.
A partir de então, foram mais 46 registrados em nome da SB4 Patrimonial, uma empresa de capital social de R$ 10 mil criada em julho daquele ano que tem como sócios o próprio Aref, com 70%, a mulher e dois filhos dele, com 10% de cota cada um deles.
Aref não quis falar com a Folha, alegando problemas de saúde. O advogado do ex-diretor, Augusto de Arruda Botelho, atribui seu patrimônio a uma herança recebida de seu pai e à receita de um estacionamento da família.
O defensor aponta 11 imóveis de herança. Nos cartórios consultados pela Folha, há registro de só três de herança.
No Esquerdopata
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