Guerrilheiro Virtual

sábado, 9 de junho de 2012

Em Goiás, todo mundo tem culpa no cartório


Oposição e situação, ninguém está livre de ter o que responder e explicar em Goiás; questionamento atinge desde o governador Marconi Perillo (PSDB) a Iris Rezende (PMDB), Paulo Garcia (PT) e Demóstenes Torres (ex-DEM), seja por Cachoeira ou pelo mensalão

Está proibida em Goiás a sentença bíblica: quem não tem o que explicar, que atire a primeira pedra. Ela constrange geral, de mensalão a Cachoeira, ou vice-versa, ou tudo junto e misturado. De maneira geral, os políticos de ponta - e muitos coadjuvantes também - no xadrez eleitoral goiano, uns mais, outros menos, têm o que explicar. Como na expressão popular, "eles têm culpa no cartório".

Eis uma explicação razoável para os desacertos do governo, que quanto mais tenta explicar o inexplicável mais se afunda nas desconfianças, e o silêncio, bem, sepulcral da oposição, que diante do bombardeio do inimigo, faz de conta que não existe.

Mas não é apenas o governador Marconi Perillo (PSDB), atolado até o alicerce no caso mal explicado da negociação da casa que vendeu e onde Cachoeira foi preso, que está emparedado e desgastado. É o que mais está, porém não é o único.

Há outros. Muitos outros. Alguns:

Demóstenes Torres (ex-DEM)

Basta dizer que era o braço político do contraventor Carlinhos Cachoeira. Tudo, do caso, surgiu com ele e a partir dele. Está por um fio para perder o mandato no Senado.

Iris Rezende (PMDB)

Segundo o secretário de Articulação Institucional do Governo de Goiás, Daniel Goulart (PSDB), o dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, e o diretor da empresa para o Centro Oeste, Cláudio Abreu, visitaram na segunda quinzena de maio de 2009 o então prefeito Iris Rezende com duas sacolas. Nelas havia, disse, dinheiro. Testemunha da história: o secretário da Educação e deputado federal Thiago Peixoto, eleito pelo PMDB mas agora no PSD, para desgosto de Iris.

Outra: segundo reportagem da revista Veja, dados do Coaf, o órgão do governo federal que identifica transações suspeitas de lavagem de dinheiro, a Delta Construções, considerada braço empresarial de Cachoeira, repassou R$ 6 milhões a uma empresa cujo proprietário trabalhou para a prefeitura durante a gestão de Iris.

O dono da empresa, Alcino de Souza, foi nomeado para cargo comissionado no município, e disse à Veja que sacou o dinheiro na conta e entregou a Fábio Passaglia, ex-diretor de Compras e Licitações da prefeitura de Goiania e presidente do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Aparecia (Ippua), que cuida de obras na administração de outro peemedebista, Maguito Vilela, em Aparecida. Fábio, disse Iris depois, foi para a prefeitura por indicação de Thiago, seu amigo de infância.

Paulo Garcia (PT)

O prefeito de Goiânia, Paulo Garcia (PT), assinou Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o Ministério Público, oficializando a suspensão junto ao órgão de obras tocadas pela Delta Construções. Uma das obras contestadas é a do Mutirama. Gravações apontam conversas de assessor de Garcia com vereadores para evitar uma CPI. Segundo o prefeito, a prefeitura ficou de contratar de forma emergencial empresas para substituir os trabalhos que estavam sendo executados pela Delta Construções.

Outro ponto negativo para Paulo Garcia: ele chegou a anunciar publicamente o cancelamento do contrato da prefeitura com a Warre Engenharia para as obras do Mutirama, mas nada fez; o contrato, portanto, foi mantido. Meses depois, a suspensão do mesmo contrato da obra foi determinada pela Justica Federal, e a Warre Engenharia, incluída entre as empresas com negócios ligados a Carlos Cachoeira.

Ainda sobre Paulo: candidato à reeleição em outubro, terá de conviver, por seu lado, com o desgaste do julgamento do mensalão, e por outro, com os desdobramentos do caso Cachoeira, que chegou a Iris, seu principal cabo eleitoral, e a ele próprio, com os contratos da Delta na prefeitura e os assessores que pediram para sair por aparecem em gravações da Polícia Federal relacionadas à Operação Monte Carlo.

Rubens Otoni (PT), Vanderlan Cardoso (PMDB) e Júnior Friboi (PSB)

O primeiro teve vídeo divulgado pela revista Veja em que aparece negociando apoio financeiro de Cachoeira para sua campanha à Prefeitura de Anápolis, em 2004. O segundo, foi citado por ter feito doação, durante sua campanha ao governo, em 2010, para um jornal ligado ao Cachoeira. O terceiro é sócio da JBS, que quis comprar a Delta e recuou, e está na linha de tiro dos tucanos.

Os três tem três coisas em comum, neste momento: são oposição a Marconi Perillo, são pré-candidatos a governador em 2014 e estão em completo silêncio sobre Cachoeira. Evitam tocar no assunto e adotaram estratégia de ir para o interior do Estado para não ter de falar para a imprensa da capital.

Maguito Vilela (PMDB)

A informação já havia saído no 247 e agora está no site Congresso em Foco: “Em mais um desdobramento das revelações da Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que desmontou a quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira, o Ministério Público de Goiás abriu dois procedimentos que, se aceitos pela Justiça, podem levar à prisão e ao bloqueio de meio milhão de reais em bens e contas bancárias do ex-governador e ex-senador de Goiás Maguito Vilela (PMDB). Hoje prefeito de Aparecida de Goiânia, Maguito contratou a Delta Construção para fazer a coleta de lixo na cidade que administra, que é a segunda maior cidade do estado. De acordo com a PF e a Procuradoria Geral da República, Cachoeira e o senador Demóstenes Torres são sócios ocultos da empreiteira de Fernando Cavendish.”

O prefeito de Aparecida de Goiania, ja foi governador do estado e e citado como a pessoa que entregou a loteria do estado para cachoeira. Quando foi senador Maguito também atuou para a legalização dos bingos no pais, projeto de sua autoria e que foi motivo de conversas entre Cachoeira e Demostenes.

Alcides Rodrigues (PP)

A contratação dos carros da Delta para a Secretaria de Segurança Pública foi feita durante o governo do ex-governador Alcides Rodrigues (PP). O contrato é alvo de desconfiança e é usado pelo atual governo para tentar dividir responsabilidades com o anterior.

Mensalão X Cachoeira

Uma palavra: todos os candidatos a prefeito e vereador do PMDB e PT em Goiás vão sofrer as consequências do julgamento. Inevitável. A aliança entre os dois partidos está selada, a partir de Goiânia, e um terá de conviver com o outro na adversidade.

O mesmo vale para todos os candidatos ligados ao governador de Goiás, Marconi Perillo.

Ou seja: está todo mundo pago pra ficar calado. Ou não?

Tudo junto e misturado

Além dos envolvidos acima, foram citados no caso Cachoeira ou têm o que explicar sobre negócios com a Delta Construções, políticos e não políticos: deputados federais Leonardo Vilela e Carlos Alberto Lereia (PSDB), Armando Vergílio (PSD), Sandes Junior (PP), Jovair Arantes (PTB); os prefeitos de Anápolis, Antônio Gomide, de Aguas Lindas de Goiás, Geraldo Messias (PP), e de Nerópolis, Gil Tavares (PTB); os secretários estaduais de Educação, Thiago Peixoto, e de Segurança Pública, João Furtado Neto; o presidente da Agetop, Jaime Rincon; o ex-presidente do Detran, Edivaldo Cardoso; a ex-chefe de gabinete, Eliane Pinheiro, e o ex-Assessor Especial da Governadoria, Lucio Fiuza; o ex-prefeito de Catalão e presidente estadual do PMDB Adib Elias, e os vereadores de Goiânia Elias Vaz (PSOL), Santana Gomes (PSD) e Mauricio Beraldo e Geovani Antônio (ambos PSDB).

Naturalmente, todos ou estão diretamente na política, com cargos e mandatos, ou indiretamente, como indicações.

Ministério Público

Também entra no rol de questionados o Ministério Público de Goiás. O procurador-geral de Justiça, Benedito torres, irmão do senador Demóstenes Torres, é citado em conversa com vereadores, em ação de interesse de Cachoeira para que o beneficiasse, via MP, em negócios próprios, como a investigação de licitação das obras do Mutirama.

Um desgaste contornado foi a ida do promotor Umberto Machado para a Secretaria de Meio Ambiente. Os promotores agiram nos bastidores e derrubaram a autorização da instituição para que assumisse o cargo. Ele teve de sair.

Mas saiu chorando por Marconi, e fazendo esta declaração de amor: “Vim para compor o seu governo por acreditar na sua firmeza de propósito, na sua honestidade... (aqui, o momento do choro)... no seu caráter. E, talvez, em função das questões que todos têm conhecimento também, há uma atmosfera que não corresponde à realidade, e o tempo dirá que o senhor está com a verdade.” Outro constrangimento anotado.

Goiás é bom

Isso não quer dizer que em Goiás só tem notícia ruim e o Estado está perdido. Nada disso. Goiás é um Estado com crescimento industrial forte, agronegócio consolidado e de beleza natural por todos os cantos. Não tem culpa se os políticos estão com culpa no cartório. O Estado está acima dos erros de seus filhos. Vai sobreviver.

Ao fim de tudo, o que pode acontecer? Como no poema de Drummond... “Chega um tempo em que não se diz mais meu amor, porque o amor resultou inútil... Tempo de absoluta depuração.”

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