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106º neto é recuperado por Avós da Praça de Maio |
Estamos no caminho para aliviar a dor, diz Avó da Praça de Maio
após restituição de outro neto. Associação anunciou nesta terça-feira a
identificação do 106º neto sequestrado durante a ditadura
As Avós da Praça de Maio anunciaram na tarde desta terça-feira (07/08) a
identidade do 106º neto recuperado pela associação. Trata-se de Pablo
Javier Gaona Miranda, de 34 anos, que foi sequestrado em maio de 1978,
com um mês de vida. Cerca de 400 bebês, entregues a outras famílias
durante a ditadura do país (1976-1983), continuam sem conhecer sua
verdadeira origem.
“Temos alegria de anunciar que um novo neto foi liberado da tortura que é
viver na mentira”, diz Estela de Carlotto, presidente das Avós da Praça
de Maio. Segundo ela, o bebê foi entregue a um casal que o adotou como
filho próprio. A pessoa que o entregou à família, primo do homem que
viria a ser ilegalmente pai de Pablo Javier, era um coronel aposentado,
que passou a ser seu padrinho.
Filho de Ricardo Gaona Paiva, de nacionalidade paraguaia, e María Rosa
Miranda, argentina da província de Tucumán, ambos integrantes do ERP
(Exército Revolucionário do Povo), Pablo Javier sempre soube que não era
filho biológico da família que o criou. Segundo Estela, no entanto, “a
história que lhe contavam é que o tinham trazido da província de
Misiones [localizada na fronteira com o Brasil]”.
“No dia 13 de abril de 1978, no Hospital Rivadavia, Pablo Javier nasceu.
Em 14 de maio de 1978, a família saiu de seu domicílio na cidade de
Buenos Aires e se dirigiu à Villa Martelli, para a casa dos pais de
Paiva, onde se reuniram para comemorar o aniversário da independência do
Paraguai. Se despediram e nunca mais se soube deles”, detalhou a Avó.
Segundo ela, Pablo Javier começou a questionar sua verdadeira origem em
2001. Em 2008, manifestou as dúvidas à mulher que o criou e esta, após
alguma resistência, confirmou sua apropriação (termo usado para a adoção
ilegal de bebês na ditadura). Ao realizar o exame de DNA, há um mês,
através da Conadi (Comissão Nacional pelo Direito à Identidade), o jovem
confirmou as suspeitas: seu material genético apresenta 90% de
coincidência com o da família do casal desaparecido.
“Pablo Javier esteve um mês com sua mãe e com seu pai. Ele, como o resto
dos nossos netos, certamente guarda em sua memória interior a lembrança
destes dias que terminaram de forma abrupta quando foi separado deles.
Esta dor profunda só pode ser curada com a verdade. A verdade é a única
explicação capaz de por fim ao tormento de viver sem saber quem se é”,
concluiu.
Apesar de expressar contentamento pela restituição de mais um neto
desaparecido, Estela lamentou que a luta de 35 anos das Avós da Praça de
Maio continue sendo “dolorosa e desesperada”. “Muitas de nós se foram
sem poder abraçar seu neto ou neta”, afirmou, “mas agora temos o
agravante de que nosso tempo está acabando”.
Netos desaparecidos
Estima-se que 500 bebês tenham sido apropriados ilegalmente na época da
ditadura. Muitos deles nasceram em maternidades clandestinas
improvisadas para serem entregues a outras famílias, geralmente de
militares ou relacionadas a eles. Neste ano, o primeiro presidente da
ditadura, Jorge Rafael Videla, foi condenado a 50 anos de prisão pelo
Plano Sistemático de Roubo de Bebês.
“A execução deste plano foi possível não só pela quase inconcebível
crueldade dos militares da ditadura, mas também pela anuência de uma
sociedade que já amparava, desde antes, a prática da apropriação de
menores”, afirmou Estela, convocando a que jovens argentinos que tenham
dúvidas a respeito de sua verdadeira origem procurem a associação, “como
Pablo Javier, que teve a valentia de enfrentar seus medos, sentimentos
contraditórios e um destino que lhe foi imposto à força”.
Segundo ela, resolver as dúvidas é o caminho para começar a aliviar
tanta dor. “Quem conhece alguém que tenha dúvidas ou que já saiba que
pode ser filho de desaparecidos, pedimos que os ajudem a se aproximar da
associação das Avós da Praça de Maio ou aa Conadi, para realização de
exames de DNA”. “As Avós, como há 35 anos, continuamos procurando e
esperando vocês”, concluiu.
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