Não
se faz campanha eleitoral sem dinheiro. Essa é uma afirmação
redundante. Importante, porém, para projetar o pior efeito do dinheiro
no processo de escolha, a eleição é decidida antes das urnas. Há
exceções. Elas apenas confirmam a regra.
Com um olho muito além
da Constituição, Luís Roberto Barroso, um dos maiores
constitucionalistas brasileiros, faz uma afirmação dramática ao meditar
sobre o julgamento do chamado mensalão petista: “O sistema
político-eleitoral brasileiro iguala todos os partidos nessa prática”.
De fato. Há o mensalão do PT, o mensalão do PSDB e o mensalão do DEM.
São tantos que deu outro sentido à palavra: não se trata mais de
recebimento mensal. O que existe é a formação de caixa, legal e ilegal,
para disputar o pleito com chances de vitória.
Barroso
sentencia: “Os partidos, neste caso, só se diferenciam entre os que já
foram pegos e os que ainda não foram pegos”. Para mudar, ele faz uma
sugestão como ponto de partida: “Uma reforma política radical que
barateie o custo da eleição e crie um novo sistema de formação de
maiorias no Congresso”.
Inédito. A ministra Cármen Lúcia inaugura o julgamento virtual.
Foto: Carlos Humberto/SCO/STF
Fato relevante I
Ao
se desculpar por deixar a audiência de terça-feira 7, na sessão do
chamado mensalão, a ministra Cármen Lúcia explicou que receberia da TV
Justiça uma cópia das intervenções seguintes para vê-las em casa.
Ela
se ausentou para presidir reunião do Tribunal Superior Eleitoral e vai
se valer de uma tecnologia negada pelo STF aos advogados de defesa.
Mas a ministra protagonizou, também, uma cena inédita nos tribunais. O
criminalista Luís Guilherme Vieira fareja no acontecimento um
precedente capaz de transformar radicalmente a rotina dos julgamentos:
“Inaugurou-se às avessas o julgamento virtual nos tribunais superiores”,
constata.
Leia mais:
Fato relevante II
Vieira projeta o futuro. No presente, porém, pergunta se os advogados poderiam ter gravadas as sustentações orais em seus escritórios, enviando-as depois para os ministros ou optar por fazê-las por intermédio de videoconferência.
“Não poderiam agir assim porque
isso é inconstitucional, ilegal. A sustentação oral nos chamados
processos de réus com foro privilegiado é obrigatória”, explica o
criminalista.
“Não há dúvida que a ministra vai assistir
virtualmente às sustentações orais. Mas isso não encontra abrigo na
Constituição e na lei”, alerta Vieira.
Angu de caroço
Ganhou mais emoção a disputa travada entre o consórcio ABCDW 2000 e a Fundação Getulio Vargas (FGV). O foco é o terreno destinado à construção de uma torre de 19 metros, projetada por Oscar Niemeyer, onde a construtora Carioca Engenharia começou a obra com a autorização da Fundação, após ter rompido o contrato com o consórcio.
A FGV
pediu, em liminar, a reintegração de posse do terreno. No dia 3,
recebeu um “não” do ministro Paulo de Tarso, do Superior Tribunal de
Justiça.
Prefeito é na prefeitura I
Vai errar o candidato que tentar usar o julgamento do dito mensalão nas eleições municipais.
Mas, como em toda regra, pode haver exceções. Poderia ser o caso, por exemplo, daqueles diretamente envolvidos na história.
Os
números das pesquisas de intenção de voto mostram a forte influência
no eleitor do desempenho administrativo das prefeituras. Essa
influência, no entanto, não garante a vitória.
Dados do IBOPE
Prefeito é na prefeitura II
A referência sobre a avaliação da administração pode ser demonstrada a partir dos mais recentes números do Ibope em algumas capitais (tabela). Em Belo Horizonte, Marcio Lacerda, candidato à reeleição, lidera a pesquisa (43%) e tem apenas 17% dos eleitores com avaliação negativa da administração dele.
Salvador e Natal são exemplos ao contrário. A má avaliação das administrações dos prefeitos
de Salvador e Natal projeta o favoritismo da oposição: ACM Neto e Moroni, respectivamente.
Humberto Souto, no Recife, lidera. Mas tem apoio do prefeito João da Costa com 40% de avaliação negativa. Deve botar as barbas de molho.
Prefeito é na prefeitura III
José Serra, candidato tucano à prefeitura de São Paulo, é um caso à parte. Sujeito à regra da influência do atual prefeito – Kassab tem 43% de avaliação negativa –, pode estar sofrendo daquilo que é chamado de “fadiga de material”.
Nos últimos 12 anos, Serra disputou
eleições para o Executivo por sete vezes. Já há quem faça a avaliação
sobre a falta de fôlego dele para chegar ao segundo turno.
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