Daqui a três semanas, a campanha dos candidatos a prefeito das capitais
entra em uma nova etapa. Na quarta feira, 22 de agosto, começa, nas
emissoras de televisão aberta e de rádio, a veiculação daquilo que nossa
legislação chama “programas eleitorais”.
De lá até 3 de outubro - sempre às segundas, quartas e sextas -, a
Justiça Eleitoral reserva uma hora ao dia - sendo meia hora no horário
do almoço e meia hora à noite - para que os partidos e coligações
apresentem os candidatos e exponham seus planos e propostas para
administrar as cidades. Todas as emissoras são obrigadas a entrar em
rede para fazer a difusão.
Como o nome indica, são “programas”, com hora marcada para começar e
acabar. Quem os assiste ou ouve é porque quer. Normalmente, as pessoas
que têm interesse elevado pela eleição.
O componente mais importante da propaganda eleitoral tem seu início, no
entanto, um dia antes. Na terça, 21 de agosto, entram no ar os
comerciais dos candidatos a prefeito.
Designados “inserções” pela legislação, ocupam, no total, meia hora ao
dia, mas são veiculados de domingo a domingo. Em uma semana, somam,
portanto, três horas e meia - mais que o tempo agregado dos programas
eleitorais.
Elas são distribuídas nos intervalos da programação normal das
emissoras, da manhã à noite, junto com as mensagens de patrocinadores e
sem aviso. Por isso, qualquer pessoa que veja televisão ou ouça rádio
termina por ser exposta a elas - mesmo as que não têm a menor
curiosidade por temas políticos (e não assistem aos programas).
Combinando programas e inserções, o eleitor comum é exposto a seis horas
e meia de propaganda por semana dos candidatos a prefeito - em cada uma
das emissoras de televisão e de rádio que existem no município. E a
mais três horas semanais dos programas dos candidatos a vereador, que
frequentemente fazem a divulgação dos nomes e marcas dos que concorrem
às prefeituras (pois são, habitualmente, as campanhas majoritárias que
arcam com os custos de produção de TV das proporcionais).
O que isso quer dizer é que o candidato de uma coligação de partidos com
bancadas grandes terá, de 21 de agosto em diante, mais tempo nos meios
de comunicação de massa que qualquer anunciante, por maior que seja. Em
alguns casos, suficiente para fazer com que uma coisa desconhecida
rapidamente se torne familiar para o eleitorado inteiro da cidade.
Não há como comparar o momento que vivemos com esse. Por mais que um
candidato se desdobre, por maior que seja sua disposição para percorrer
bairros e regiões, por mais carreatas, caminhadas e visitas que sua
agenda suportar, por mais enraizado que seu partido for, tudo que fizer
até 20 de agosto, é quase nada em comparação com um só dia de televisão.
É por isso que os prognósticos eleitorais baseados nas pesquisas feitas
atualmente são tão imprecisos e costumam errar. Pela nossa experiência
dos últimos anos, somente em casos excepcionais quem lidera antes de
agosto termina vencedor.
Isso, no entanto, não quer dizer que as campanhas dispensem as pesquisas na fase em que estamos. Pelo contrário.
Nas cidades maiores e nas candidaturas com maior capacidade de
mobilização, a regra é de intensa atividade nos bastidores, com os
profissionais de marketing fazendo uso constante de pesquisas para
definir as estratégias de apresentação dos candidatos na televisão.
Cada elemento costuma ser previamente testado - das cores à programação
visual, da marca ao slogan, da música às fotos. Tudo pode ser
pesquisado, sempre buscando aumentar a eficácia da comunicação.
Bons programas eleitorais e boas inserções requerem trabalho feito com
antecedência - e muita pesquisa. Mas não ganham a eleição.
Isso são outros quinhentos.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Nenhum comentário:
Postar um comentário
”Sendo este um espaço democrático, os comentários aqui postados são de total responsabilidade dos seus emitentes, não representando necessariamente a opinião de seus editores. Nós, nos reservamos o direito de, dentro das limitações de tempo, resumir ou deletar os comentários que tiverem conteúdo contrário às normas éticas deste blog. Não será tolerado Insulto, difamação ou ataques pessoais. Os editores não se responsabilizam pelo conteúdo dos comentários dos leitores, mas adverte que, textos ofensivos à quem quer que seja, ou que contenham agressão, discriminação, palavrões, ou que de alguma forma incitem a violência, ou transgridam leis e normas vigentes no Brasil, serão excluídos.”