Com o vale-tudo, não se sabe o que sucederá amanhã no STF ao pedido de condenação já apresentado pelo relator.
Ainda que não pareçam, até por não terem precedente, são palavras do
presidente do Supremo Tribunal Federal: "Cada ministro adotará a
metodologia de voto que considera cabível".
Ou seja, vota caso a caso, a cada réu do mensalão examinado pelo
relator, ou por blocos de personagens, ou por blocos de envolvimentos
assemelhados, ou vota considerando o todo. Inovação brasileira: a
solução de mais um desentendimento de magistrados pela criação do
populismo judicial.
Mas o Supremo tem um regimento que determina o sistema de votação. E não
oferece o "faça o que quiser" como exemplo de desordem a ser dado pelos
guardiães da ordem jurídica, ou seja, das normas. Com o vale-tudo,
ninguém sabe o que sucederá amanhã, no Supremo, ao primeiro pedido de
condenação, já apresentado pelo relator Joaquim Barbosa.
Acusado de receber R$ 50 mil provenientes de Marcos Valério e de usar
verba da Câmara em proveito próprio, o deputado João Paulo Cunha poderá
ver-se condenado ou (resultado improvável) absolvido amanhã mesmo, como
poderá depender do pinga-pinga de votos até um dia incerto.
E, por falar nisso, também não se sabe se as sentenças serão propostas
com cada voto ou só virão em outro dia incerto, chocando-se umas com as
outras, lá no final do julgamento.
2- A atual disposição de lugares na arena do Supremo situa lado a lado
Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes. Combustível junto de fogo. Duas cabeças
com peculiares sensos de convívio, de modos e de liberdade de opinião.
Aguardam-se bons espetáculos. Não percam. O Brasil ganhou três medalhas
de judô e duas de boxe em Londres.
3- Admitir que a acusação ao criador do WikiLeaks, Julian Assange, de
violentar duas mulheres na Suécia possa ser armação é, para muitos
sábios do jornalismo brasileiro, praticar a "teoria da conspiração". Mas
logo na Suécia é que Assange precisou violentar mulheres? E depois de
comprometer os Estados Unidos em graves denúncias. Então, pratiquemos a
teoria - não pela última vez.
À falta de qualquer reação ao levante para derrubar João Goulart, todos,
inclusive os golpistas, se perguntavam onde estava o "dispositivo
militar do Jango", a máquina imbatível em que os janguistas em geral, e
sobretudo os comunistas, depositavam confiança absoluta. Nem do
comandante do "dispositivo", general Assis Brasil, havia notícia.
Assis Brasil foi militar sóbrio, de vida pessoal bem ordenada - até
chegar a Brasília para montar o "dispositivo militar". Não demorou que
lhe faltassem tempo e cabeça, e talvez energia física, para ocupar-se de
sua missão.
O dispositivo feminino mobilizado por empresários golpistas batia
qualquer concurso de misses. No dia do golpe, como ocorria há meses, o
chefe do "dispositivo militar do Jango" estava sobrecarregado de uísque,
a que aderira, e não o usufruía sozinho.
Uns dez anos depois, o grupo do general Geisel tinha, cedo ainda, um
candidato em potencial para a sua sucessão. Discreto, com certas
qualidades intelectuais (o pai foi célebre como político e como
escritor), adepto do retorno progressivo ao Estado de Direito, sem
inimigos.
No caso, um grupo de militares e o SNI substituíram os empresários. A
vida do general em questão não precisou alterar-se em mais que um ponto:
o suficiente para muitas fotos no apartamento que passara a frequentar
em Brasília, dia a dia. A candidatura e o futuro do general foram
esvaziados para sempre.
Julian Assange fez o maior e melhor trabalho jornalístico desde o
Watergate. E foi com documentos da prepotência dos Estados Unidos.
Janio de Freitas
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