Pepe Escobar, Asia Times Online – The Roving
Eye
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Como Asia Times Online já noticiou
(7/8/2012: Pepe Escobar: “Ardo em febre!” E a única receita é
bombardear o Irã?!), Telavive pode estar a um palmo de converter a guerra
econômica já declarada contra o Irã, em guerra quente.
Considerem
essa loucura: [1]. O duo
Bibi-Barak de fazedores de guerras (Primeiro-Ministro Bibi Netanyahu e o
Ministro da Defesa Ehud Barak) pode estar bem próximo de decidir por um ataque
ao Irã – contra o conselho dos principais especialistas da defesa e da
inteligência israelenses.
Barak
pode até já ter acesso a inteligência secreta dos EUA. Disse que “é provável que
realmente haja relatório da inteligência dos EUA – não sei se é uma NIE [National Intelligence
Estimate] – circulando pelos
principais gabinetes [em Washington]”.
“É
provável”? “Realmente”? “Não sei”? E essa floresta de hipóteses seria
justificativa para guerra?
Então,
Barak acrescentou: “Tanto quanto sabemos, isso põe a avaliação dos americanos
muito mais perto da nossa”.
Não,
senhor, nada disso. A resposta, de um porta-voz do Conselho de Segurança
Nacional da Casa Branca foi: a avaliação, pela inteligência dos EUA, continua
inalterada. Em outras palavras: o Irã não mantém programa de armas
nucleares.
E
se alguma confirmação extra fosse necessária, Washington parece ter quadro bem
claro dos progressos nucleares do Irã. [2]
Segundo
o porta-voz da Casa Branca, Jay Carney: “Nós saberíamos se e quando o Irã
fizesse o que se chama um movimento claro para comprar uma
arma”.
Para
o letal Bibi, isso, obviamente, não basta. Não importa que – tecnicamente e
logisticamente – Israel simplesmente não tenha sequer o mínimo indispensável
para mover ataque bem-sucedido contra instalações nucleares
iranianas.
Examinem
esses concisos infográficos [3].
Para começar, Israel não tem bombas de penetração de última geração modelo MOP
GBU-57A para conseguir atingir instalações subterrâneas profundas do Irã. Não
tem os bombardeiros B-2 stealth da Northrop Grumman para descarregar as tais
bombas. E não tem transportadores aéreos Lockheed Martin KC-130 em número
suficiente (Israel só tem 5; os EUA têm 80) para reabastecer os F-15s e F-16s de
ataque.
Não
há qualquer sinal de que o governo Obama considere autorizar o Pentágono a
fornecer os itens acima à dupla Bibi-Barak, pelo menos por
enquanto.
É
hora de injetar alguma sanidade nessa loucura – cortesia do bom velho Guerreiro
da Guerra Fria, Yevgeny Primakov, ex Supremo da KGB e Ministro de Relações
Exteriores da Rússia. Na narrativa de Primakov, a coisa é simples: OK, ataquem o
Irã. Inevitavelmente, em seguida, o Irã fabricará sua bomba atômica. [4]
Enquanto
isso, em Ankara...
Estará
a Turquia adentrando o nono círculo (curdo) do inferno?
A
secretária Hillary Clinton dos EUA esteve na Turquia recentemente, em viagem
muito do tipo “Viemos, vimos, ele morreu”, à moda líbia; como se voltasse ao
palco em seu personagem de Anjo da Morte, comandando o iminente passamento de
Bashar al-Assad da Síria.
Muita
calma nessa hora. O mesmo vale para a decisão Shakespeareana – “invadir” ou “não
invadir” o Curdistão Ocidental/sírio? – do Primeiro Ministro turco Recep
Tayyip Erdogan, que influencia o
Departamento de Estado.
Fato
é que o partido AKP ainda não pediu autorização ao parlamento turco para invadir
o Curdistão sírio. Mas, sim, invadirão o Curdistão sírio – apesar de grande
número de generais turcos estarem no xilindró, acusados de planejar um golpe.
Três brigadas turcas, tanques e artilharia já estão a apenas dois quilômetros da
fronteira síria.
Ankara
já invadiu o Curdistão iraquiano dúzias de vezes, caçando guerrilheiros do PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). O
enredo adensa-se, porque, ao mesmo tempo, Ankara mantém relações muito próximas,
diplomáticas e comerciais com o Governo Regional do Curdistão (KRG); de
fato, Ankara está hoje em rota de colisão contra o governo de Nuri al-Maliki em
Bagdá – depois que começou a importar petróleo diretamente dos curdos,
marginalizando o governo central iraquiano.
Ahmet
Davutoglu, ministro de Relações Exteriores da Turquia foi pessoalmente a Kirkuk
e Irbil, para fechar o negócio com Massoud Barzani, presidente do Governo
Regional do Curdistão (KRG).
Em termos de
Oleogasodutostão, é o
seguinte: o Grande Petróleo Ocidental está enlouquecidamente em cólicas para
conseguir o máximo de energia que possa humanamente arrancar do Curdistão
iraquiano (e do Azerbaijão) – o que significa marginalizar, no processo, Irã e
Rússia.
Uma
“invasão” turca ao Curdistão sírio nem seria problema muito grave em termos das
relações entre Turquia e aquelas exemplares “democracias” reunidas no Conselho de Cooperação do Golfo.
Afinal, o Qatar e a Casa de Saud já estão trabalhando com a Turquia para
construir a total desestabilização da Síria.
Mas
o regime de Assad interpretará o movimento como guerra contra a Síria, não
contra, só, o Curdistão sírio. Afinal de contas, a Turquia hospeda e alimenta
não só o Conselho Nacional Sírio como, também hospeda e alimenta milhares de
gangues que compõem o Exército Sírio Livre Que De Livre Pouco Tem, incluídos
os jihadis salafistas. A Turquia é a base logística
desse pessoal todo.
E
o que acontecerá se começarem a chegar navios e mais navios carregados de
cadáveres em sacos plásticos, de volta a Ankara e
Istambul?
Pode
estar chegando ao fim a encenação de poder de Erdogan, O Turco Louco. O exército
turco, a burguesia comercial, a burocracia secular, todos dão sinais de, cada
dia mais, estarem já fartos dos sonhos napoleônicos de Erdogan; de a Turquia
garantir apoio ao ESL, que pulula de jihadis; de a Turquia contrabandear
armas para dentro da Síria, aliada ao Qatar e aos sauditas; de a Turquia estar
posicionando baterias antiaéreas e até mísseis na fronteira síria; de a Turquia
ter-se posto a ameaçar que invadirá o Curdistão sírio. Não dá. Demais é
demais.
Mas,
também aí, talvez não seja demais. O sonho desejante de Ankara, de um grande
cenário – em roupagens neo-otomanas – certamente incluiria algum tipo de
anexação econômica do norte do Iraque e nordeste da Síria; as duas áreas são
ricas em energia – e a Turquia carece desesperadamente daquela energia. O
problema é que essas duas regiões são habitadas quase exclusivamente por
curdos.
Até
os curdos iranianos já começam a movimentar-se. [5] O que acontece quando 17 milhões de
curdos turcos também decidem entrar em ação? Erdogan pode estar a caminho de encarar o pesadelo
dos pesadelos da Turquia: o surgimento do Grande
Curdistão.
A Turquia tem fronteiras
com o Iraque, a Síria e o Irã. Os curdos começam a sentir a deriva histórica.
Rick Rozoff, em Global
Research [6] argumenta, com razão, que “a Turquia dá à
OTAN – e, via OTAN, também ao Pentágono – acesso direto àquelas três nações”.
Mas isso pode ir muito além de “uma nova redivisão do Levante, modelada depois
do Acordo Anglo-francês Sykes-Picot de 1916”.
Uma
Turquia neo-otomana, a OTAN e o Pentágono podem estar na mesma página, pelo
menos por enquanto. Mas uma balcanização do Levante só favorecerá a emergência
do Grande Curdistão. Pode servir aos interesses estratégicos de Washington. Mas
quando Erdogan acordar para a nova realidade – para a qual suas próprias
políticas podem ter contribuído – talvez já seja tarde
demais.
Notas
de rodapé:
[1]. 13/8/2012, “Decision by Netanyahu, Barak to strike Iran is almost
final - Israel TV”,Times of
Israel,
[2]. 13/8/2012, “We would know if Iran had made ‘a breakout’ to the bomb,
White House says”, Times of Israel,
[3]. 13/8/2012, “Likely Scenarios for Israeli Attack Against
Iran”, RIA NOVOSTI,
[4]. 8/8/2012, “Iran to Make own WMD if Israel Delivers Airstrike –
expert”, RIA NOVOSTI,
[5]. 12/8/2012, “Kurds’ have the right to demand federal areas: Kurdish
Iranian MP”, Al Arabiya News,
[6]. 8/8/2012, “Turkey: NATO’s Neo-Ottoman Spearhead in the Middle
East”, Global Research.
Do Redecastorphoto
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