O juiz federal Alderico Rocha Santos, responsável pelo processo da
Operação Monte Carlo, que culminou com a prisão de Carlinhos Cachoeira,
afirma ter sido chantageado por Andressa Mendonça, esposa do
contraventor. Ela alegava ter um dossiê contra ele e que seria publicado
na revista Veja por iniciativa do diretor de redação em Brasília, o
jornalista Policarpo Jr.

Mulher de Cachoeira envolveu nome de jornalista da Veja em chantagem contra juiz federal (Foto: José Cruz / ABr)
“Narra o magistrado [Alderico Santos] que a requerida [Andressa]
noticiou a existência de um dossiê contendo informações desfavoráveis a
ele, que seria publicado pelo repórter Policarpo na revista Veja,
mas que ela poderia evitar a publicação. Para tal, bastaria que o juiz
federal concedesse liberdade ao réu Carlos Augusto de Almeida Ramos e o
absolvesse das acusações ofertadas pelo Ministério Público”, destaca o
juiz Mark Yshida Brandão, no texto de sua decisão que que determinou o
comparecimento de Andressa Mendonça à Polícia Federal e buscas em sua
residência.
O nome de Policarpo Junior coincidência (ou não) já apareceu outras vezes no círculo próximo de Carlinhos Cachoeira.
Em depoimento à Comissão de Ética da
Câmara dos Deputados, em 2005, Policarpo Junior ajudou Cachoeira a
comprovar que era vítima de chantagem pelo ex-deputado André Luiz, que
acabou cassado. O caso havia sido publicado pela revista Veja, com
exclusividade, cerca de três meses antes. A matéria “Vende-se uma CPI”,
de 27 de outubro de 2004, assinada por Policarpo Junior, denunciava
André Luiz e tratava Carlos Cachoeira como empresário do ramo de jogos.
Em maio deste ano, o site Carta Maior
publicou matéria com o título: “Os encontros entre Policarpo, da Veja, e
os homens de Cachoeira”. O levantamento apontou que o jornalista esteve
pelo menos 10 vezes com Cachoeira e membros de sua organização.
Encontros pessoais, ao menos quatro. Em geral, as conversas se
transformaram em matérias de Veja.
Gravações da Operação Monte Carlo também
indicam como Cachoeira seria beneficiado pela Secretaria de Educação de
Goiás na construção de escolas no modelo chinês. E como o “empresário
do ramo de jogos” buscou a revista Veja para divulgar o negócio.
Cachoeira ligou para Policarpo Junior,
pedindo que fosse feita uma matéria sobre a “revolução na educação” que
estaria sendo feita em Goiás. Na gravação, afirma que o secretário de
educação de Goiás “tá fazendo uma revolução na educação” e pergunta “com
quem que ele vê? (…) Como é que a gente pode fazer uma divulgação
disso?”.
Policarpo respondeu que a ligação estava
cortando. Em dezembro de 2011, a capa da revista é: “A arma secreta da
China: a educação de qualidade e baixo custo para milhões é o verdadeiro
segredo dos chineses em sua corrida para a liderança mundial”. Será que
agradou?
Outro indício de proximidade entre o
jornalista e Cachoeira é uma conversa telefônica entre o “empresário” e o
então diretor da construtora Delta no Centro-Oeste, Cláudio Abreu,
interceptada em 10 de maio de 2011, durante a Operação Monte Carlo da
Polícia Federal (PF). Na conversa, Cachoeira afirma que Policarpo Junior
queria sua ajuda para provar que o ex-ministro da Casa Civil, José
Dirceu, havia ajudado a Delta a “entrar em Brasília” durante a gestão do
ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda.
Policarpo ainda teria afirmado que o
acordo foi fechado em uma reunião em Itajubá e que estaria atrás de um
flagrante da entrega de “dinheiro vivo”. Cachoeira teria dito a
Policarpo que “não existiu essa reunião”.
Em determinado ponto da gravação, Cachoeira demonstra seu grau de proximidade com o jornalista. “O Policarpo, ele confia muito em mim, viu?”, afirma.
O deputado Paulo Teixeira (PT-SP), vice-presidente da CPMI, afirmou
que pretende convocar o jornalista da revista Veja para depor. “Com os
acontecimentos de hoje, está colocada a relação do jornalista com a
organização criminosa. Já iremos discutir a convocação na primeira
reunião da CPMI”, disse.
Cachoeira é apenas uma das peças do quebra-cabeça que pode ser
montado quando a história deste último período de Veja vier à tona. O
que o panfleto da editora Abril se tornou é algo que não se pode nem de
longe ser chamado de jornalismo. É algo que envergonha a profissão e
seus profissionais. E dá nojo.
Sempre mencionam Arruda, juro que ainda não entendi o porque. Se ele fosse culpado de algo Gurgel não estaria cogitando a possibilidade de arquivar a denuncia.
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