Sempre
considerei o consumo de drogas um problema que assola o Brasil. Na
primeira semana de setembro, a Universidade Federal de São Paulo
divulgou um estudo, resultado do 2º Levantamento Nacional de Álcool e
Drogas, que aponta o Brasil como o maior mercado de crack do mundo e o
segundo de cocaína, correspondendo a 20% do consumo global de cocaína.
Esses números só reinteram a preocupação e a necessidade de políticas
públicas sérias, sobretudo, capazes de retirar o país deste ranque.
Na
semana passada, um episódio me chocou, pois não esperava que o ícone
da minha infância fosse protagonizar um filme junto aos meus maiores
vilões: crack, maconha e cocaína. Assim como eu, muitos são induzidos ao
erro, pelo fato do filme não trazer uma sinopse clara, além de ter um
ursinho de pelúcia, ícone incontestável do universo infantil.
Destaco
que o pôster do filme remete ao do filme “O Paizão”, uma comédia com
Adam Sandler, esta de classificação livre. Pode ser apenas uma
coincidência, mas não deixa de contribuir para a pré-concepção do que se
espera ver no cinema. Da mesma forma, não pode ser aceito que jovens
corram os riscos de ser expostos a filmes que utilizem personagens de
contos de fadas com cenas pornográficas, como por exemplo, utilizando a
Branca de Neve.
Talvez
aqueles que conheçam o trabalho de Seth MacFarlane na série “Uma
Família da Pesada” poderiam intuir que ‘TED’ não seria um filme
previsível, mas como nem todos conhecem esse viés politicamente
incorreto do autor, creio que tenha faltado um cuidado maior no que diz
respeito às advertências quanto ao conteúdo do filme, e uma sinopse
mais detalhada, porque muitos pais poderão ser induzidos ao mesmo erro.
Vale
salientar que desde que entrou em vigor a portaria 1.100 de 2006, é
perfeitamente lícito uma criança assistir um filme cuja faixa etária
indicada seja maior que sua idade, porém é necessária autorização ou a
presença de um dos pais, como foi o meu caso. Essa é mais uma razão
para que esse filme em especial tenha sua restrição ampliada para os 18
anos, pois é preciso evitar esse tipo de situação, ressaltando que o
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) aduz em seu artigo 2 que
adolescente é aquele jovem de 12 a 18 anos de idade, e por tal razão o
filme deve ser classificado como impróprio para menores de 18 anos, pois
o adolescente esta em formação intelectual e cultural.
O
próprio Manual da nova classificação indicativa afirma que: “(…) é
preciso garantir que os distintos públicos tenham uma informação
completa em relação às variáveis envolvidas no consumo de drogas legais e
ilegais, e não uma visão parcial da questão (…)”, fato este não
encontrado no filme que demonstra apenas a ótica do consumo.
Diante
do exposto, reitero que não sou contra o filme em si, embora
pessoalmente, considero seu conteúdo de gosto questionável, nem por
qualquer tipo de censura ou ataque a livre expressão, mas sou
definitivamente contra qualquer subterfúgio que possa expor nossas
crianças a mensagens inapropriadas, daí a necessidade imediata de
reclassificação etária do filme.
Desfecho
O
Deputado Delegado Protógenes (PCdoB/SP) despachou nesta quarta-feira,
dia 28, com o Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, um ofício
solicitando a alteração da classificação indicativa do filme de 16 anos
para 18 anos, tendo em vista que o mesmo possui conteúdo não apropriado
para crianças e adolescentes. O Ministro acatou o requerimento e
destacou que irá tomar as devidas providências para a mudança.
Protógenes Queiroz
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