Após a derrota, candidato tucano José Serra disparou emails e
telefonemas a aliados criticando a proposta de rejuvenescimento do PSDB,
feita pelo ex-presidente FHC; a ele, Serra dirigiu impropérios
impublicáveis; nesta quarta, Elio Gaspari, amigo de Serra e FHC, sugere
que o partido não renove apenas suas pessoas, mas também suas ideias.
247 – José Serra é, para a política, o que Bruce Willis representa
para o cinema. Em 2010, ao ser derrotado por Dilma Rousseff, fez seu
discurso dizendo um “até breve”. Em 2012, após a derrota para Fernando
Haddad, afirmou que saía da disputa “revigorado e com ideias novas”, ou
seja, pronto para futuras batalhas.
Antes mesmo da apuração das urnas, quando não se conhecia o resultado
oficial mas já se pressentia que Serra seria derrotado, o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso propôs a renovação do PSDB, ao dizer que “a
renovação é necessária sempre e o Brasil está mostrando isso mais uma
vez”.
Serra não gostou. E em telefonemas e emails disparados a aliados nos
últimos dias, ele passou a dizer que “renovação é coisa do PT”, além de
dirigir impropérios impublicáveis a FHC. Ou seja: ele se mostrou
disposto a continuar lutando por espaços num partido que tenta se livrar
dele. Muitos tucanos gostariam de já sacramentar Aécio Neves como
candidato à presidência em 2014 e Geraldo Alckmin à reeleição no mesmo
ano. A Serra, restaria tentar o Senado.
Ele, no entanto, não parece disposto a ceder. E assim como Bruce
Willis pode protagonizar diversas batalhas – a série “Duro de Matar” já
produziu cinco filmes e, em todas, o protagonista sobreviveu.
No entanto, nesta quarta-feira, um dos melhores amigos de José Serra
(e também de FHC), o jornalista Elio Gaspari, sugere que o PSDB renove
não apenas seus quadros, mas também suas ideiais, eliminando o que chama
de “demofobia”. Leia:
Uma vinheta da eleição paulistana
Elio Gaspari
Em agosto, quando o candidato Fernando Haddad prometeu a criação de
um Bilhete Único Mensal, pelo qual o cidadão poderia comprar um passe
livre para os ônibus municipais, a marquetagem tucana acusou-o de propor
uma taxa, um "bilhete mensaleiro".
Dividia-se o eleitorado em dois grupos. Um, que já foi a Londres,
Nova York ou Paris e sabia que esse tipo de bilhete com desconto não é
uma taxa, pois ninguém é obrigado a comprá-lo. Noutro grupo estava a
população que usa os ônibus. Para ela, bastava fazer a conta: se o novo
bilhete custar R$ 150 e o cidadão fizer duas viagens por dia, a tarifa
de R$ 3 cai para R$ 2,50.
Com o início da propaganda eleitoral gratuita Haddad tinha 16% nas
pesquisas, bem atrás dos 35% de Celso Russomanno, que sobrevivia ao
raquitismo de seu tempo de exposição e de uma ofensiva de parte da
hierarquia católica. Uma semana antes da eleição, o "fenômeno
Russomanno" começou a evaporar. Na véspera, tinha 27% das preferências.
Abertas as urnas, ficou com 22%, fora do segundo turno. O que houve? No
final de setembro Russomanno prometera a cobrança de tarifas
diferenciadas nas viagens de ônibus. Simples assim: quem anda muito
pagaria mais, como quem viaja muito é o trabalhador, lá vinha tunga. Até
hoje a explicação mais convincente para a implosão de Russomanno está
na migração dos eleitores mais pobres. Perceberam o perigo e saltaram.
O tucanato, que condenara o Bilhete Único Mensal acordou e, no
segundo turno, correu atrás, propondo a extensão da sua validade. Desde
2004, quando a prefeita Marta Suplicy foi a primeira a instituir essa
modalidade de tarifa numa grande cidade brasileira, governantes e
candidatos do PSDB olham para a iniciativa com cara feia. Primeiro
porque criticavam-na nos seus aspectos técnicos. Depois, porque ela
parecia coisa do adversário. Acordaram com oito anos de atraso.
É uma exagerada temeridade atribuir o resultado eleitoral de São
Paulo ao item do Bilhete Único, mas certamente ele foi um dos
ingredientes do naufrágio, pela percepção oferecida ao eleitorado. No
primeiro turno uma parte dele saltou de Russomanno porque o doutor
queria cobrar mais caro pelas tarifas de quem fica duas horas no ônibus
para chegar ao trabalho. Não se deve esquecer que os transportecas da
prefeitura defenderam a instituição do pedágio urbano para veículos
sobre pneus numa cidade em que a municipalidade nada cobra pelos pousos
de helicópteros. Com uma cabeça dessas, um candidato tucano poderá
ganhar a eleição em Fort Worth, no Texas, pois lá está a fábrica das
aeronaves Bell.
A renovação de que o PSDB precisa e que o ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso vocalizou é de nomes mas, sobretudo, de ideias. Não só
de propostas novas, mas sobretudo de uma faxina nas velhas, demofóbicas.
Os candidatos do PSDB deveriam ser obrigados a usar a rede de ônibus
todos os dias, durante pelo menos uma semana. A experiência valeria mais
que sete seminários com ex-ministros tucanos reapresentando ideias de
um governo que acabou em 2002. Algo como barões do Império amaldiçoando a
República em 1899, durante o governo Campos Salles.
Do 247
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