O novo assessor pessoal de Alckmin é, aos 37 anos, ideologicamente senil.
O mundo é dominado, hoje, por uma crescente irritação com a assombrosa desigualdade social surgida nos últimos trinta anos.
Reagan,
de um lado do Atlântico, e Thatcher, do outro, comandaram políticas
que se espalharam em escala planetária e levaram ao célebre 1% versus
99%.
Era uma situação insustentável, como sempre acontece nos extremos de iniquidade. E então as respostas começaram a aparecer.
Sarkozy
foi chutado na França. Romney deixou de ganhar uma eleição fácil, dada
a crise econômica americana, por causa da indignação dos americanos em
relação aos privilégios que ele tem e defende abertamente. Protestos
varrem as principais cidades do mundo.
Isto é o que se chama, enfim, Espírito do Tempo. Na célebre palavra alemã, Zeitgeist.
Feito
este introito, então observemos o que se passa no PSDB. Como um
partido que teve algum tipo de sensibilidade social se ajusta aos
ventos que empurram o mundo para a frente?
A resposta é: Ricardo Salles.
Alckmin consegue, neste momento, fazer o exato oposto do que deveria, como um líder influente dentro do PSDB.
Ele se junta a Serra e empurra com Salles, seu novo assessor particular, o PSDB rumo à direita selvagem da qual o universo
está se despedindo com fanfarras. A humanidade repudia o que se
plantou na década de 1980. O PSDB parece estar vivendo naqueles dias.
Salles
é um jovem velho como uma daquelas senhoras de Santana. Defende, por
exemplo, a ditadura militar. Ora, passado meio século do Golpe Militar,
é fácil ver o que ele trouxe.
A
ditadura destruiu a educação pública, o maior fator de mobilidade
social. Extirpou conquistas trabalhistas, como a estabilidade no emprego
depois de dez anos, e ao mesmo tempo proibiu greves. Isso levou a uma
brutal concentração de renda.
O Brasil sofreu, sob os militares, uma política econômica parecida com a que Reagan e Thatcher espalharam internacionalmente.
O
horror do legado de Reagan e Thatcher se estampou nos últimos anos. No
Brasil, isso já ficara claro muito antes: o país se favelizou.
A
ditadura defendeu os interesses de uma ínfima minoria – e os dos
Estados Unidos, naturalmente. A CIA não participou ativamente da
conspiração por amor incondicional a figuras como Carlos Lacerda,
Roberto Marinho e Golbery.
E então, em pleno 2013, Alckmin se cerca de um secretário que é a negação do Zeitgeist.
E
que por isso mesmo é um fracasso prematuro e irremediável: tentou em
vão se eleger deputado estadual em 2010. Postou na campanha um vídeo
com seu jingle no YouTube que arrebanhou, nestes anos todos, 951 exibições até esta amanhã.
É
um número similar ao angariado habitualmente por Reinaldo Azevedo e
amigos nos debates sobre o Mensalão no canal da Veja no Youtube.
FHC deve estar muito ocupado com a namorada 50 anos mais nova para se dar conta do melancólico, funéreo curso dado ao PSDB.
O PSDB, no qual votei a maior parte de vezes em minha vida adulta, não é mais um partido, mas uma morgue de homens e ideias.
Paulo Nogueira
No Diário do Centro do Mundo
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