Empresa já foi acusada de grilagem
Entregou-se ontem à
Polícia Civil do município de São Félix do Xingu, sul do Pará, o último
suspeito envolvido na morte do tratorista Webert Cabral Costa, morto no
dia 24 de julho, na fazenda Vale do Triunfo, unidade que pertence à
agropecuária Santa Barbara, controlada pelo grupo Opportunity, de Daniel
Dantas.
Como revelou reportagem da Repórter Brasil http://reporterbrasil.org.br/2013/08/policia-encontra-corpo-de-welbert-cabral-costa-em-fazenda-de-grupo-ligado-a-daniel-dantas/ )
o corpo de Webert Costa foi encontrado no dia 22 de agosto, já em
estado avançado de decomposição, dentro do terreno da propriedade, a
cerca de 20 quilômetros de uma das porteiras da fazenda, onde Webert foi
visto pela última vez.
O
capataz Maciel Nascimento, que se entregou ontem (11), na delegacia de
São Félix, acompanhado de dois advogados da Santa Barbara, negou
participação no crime.
No
começo do mês, dia 02, o outro suspeito, Divo Ferreira, funcionário da
fazenda, já havia se entregado. Divo Ferreira admitiu ter matado Webert
Costa, segundo ele, em legítima defesa.
A
família de Webert conta que ele fora até o escritório da fazenda
naquele dia, 24 de julho, para tratar de uma questão trabalhista.
Na
versão de Divo Ferreira, houve uma discussão. Webert teria feito menção
de pegar uma arma, foi quando Divo disparou contra ele.
A
família alega que Webert não estava armado. Segundo o delegado Lenildo
Mendes, encarregado pelo caso, a suposta arma de Webert não foi
encontrada.
Fato é que: Webert Costa foi morto com um tiro na nuca, o que segundo o delegado, é um indício de que a vítima foi executada.
Além disso, uma testemunha ocular, posta sob proteção do sigilo, presenciou a cena.
De
acordo com essa testemunha, Webert foi morto por Divo Ferreira que, com
a ajuda de Maciel Nascimento, colocou o corpo da vítima na caçamba de
uma camionete S-10, branca.
Segundo
o advogado Rivelino Zarpellon, que acompanha o caso pela Sociedade
Paraense de Defesa dos Direitos Humanos, essa testemunha reconheceu a
camionete branca entre outras três camionetes iguais, que foram
apreendidas pela polícia.
Ainda
de acordo com o advogado, que presenciou o exame pericial do carro,
apesar das lavagens feitas no veículo, o luminol (substância usada pela
polícia para detectar vestígios de sangue) detectou presença de sangue
na caçamba da camionete.
O exame de DNA foi pedido, mas a pericia ainda não foi concluída.
Lago da morte
Motivado
pelo caso Webert, e com base em outras denúncias, o presidente da
Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), instalou uma
Comissão Externa para investigar a fazenda Vale do Triunfo.
A
Comissão será coordenada pelo deputado Cláudio Puty, do (PT-PA), e terá
como relator o deputado Protógenes Queiroz, (PCdoB-SP).
Segundo
o deputado Cláudio Puty, Webert já havia dito à família que pessoas
eram mortas na fazenda: “Webert contou aos familiares que essas pessoas
eram jogadas em um lago, coincidentemente, o lago era chamado de ‘Justa
Causa’”, conta o deputado.
Além
da versão da família, fontes da região informaram à Comissão sobre a
existência de mais dois corpos, que teriam sido encontrados na mesma
fazenda.
O
delegado Lenildo Mendes confirma a existência de pelo menos mais um
caso, um assassinato ocorrido em janeiro desse ano na Vale do Triunfo.
De
acordo com o deputado Puty, um dos objetivos da Comissão é identificar
os mandantes do assassinato de Webert, e desses outros supostos crimes.
Para
o deputado Protógenes, a missão da Comissão é investigar um caso de
”genocídio”, ocorrido na fazenda Vale do Triunfo, em São Félix do Xingu.
A Comissão deverá viajar para o Pará, na próxima quarta-feira (17), com o apoio da Aeronáutica e da Polícia Federal.
Originalmente, a Comissão foi formada por três deputados.
Essa semana, às vésperas da viagem, foram incluídos outros quatro deputados, todos da linha de frente da bancada ruralista.
São eles: Wandenkolk Gonçalves (PSDB-PA); Paulo César Quartiero (DEM-RR); Josué Bengtson (PTB-PA) e Giovanni Queiroz (PDT-PA).
Santa Barbara
A Santa Barbara, agropecuária de propriedade do grupo Opportunity, tem sede em Campinas, São Paulo.
Está
no Pará desde 2005, onde já foi alvo de uma operação do Ministério do
Trabalho que, em 2009, libertou cinco funcionários em condições análogas
à escravidão (como noticiou o Conversa Afiada à épocahttp://www.conversaafiada.com.br/brasil/2012/04/11/dantas-barao-de-jeremoabo-escravista-sempre/)
Em 2009, a Comissão Pastoral da Terra, da diocese de Marabá, denunciou um esquema de grilagem envolvendo a empresa.
Segundo
a CPT, a Santa Barbara se apropriou, ilegalmente, de pelo menos 25 mil e
500 hectares de terras públicas no sul do Pará. (http://www.conversaafiada.com.br/brasil/2012/04/11/dantas-barao-de-jeremoabo-escravista-sempre/ )
A
Santa Barbara tem no Pará, dividida em cinco unidades de produção,
cerca de 500 mil hectares de terra – cada hectare corresponde, mais ou
menos, a um campo de futebol.
Nessas cinco unidades, a Santa Barbara mantêm um rebanho de mais de 500 mil cabeças de gado.
No site da companhia, a empresa destaca os trabalhos sociais que desempenha junto às comunidades em que atua.
A
certa altura do texto, descreve o que são os “valores” da empresa:
“somos objetivos, focados no resultado, não toleramos o baixo desempenho
e adotamos a meritocracia. Somos obsessivos no controle de gastos,
fazendo mais com menos, sem deixar de fazer o que é estratégico para o
negócio”.
Ao
relembrar sua viagem de volta do município de São Félix do Xingu –
quando foi tomar parte do caso de Webert Costa, em nome da Sociedade
Paraense de Defesa dos Direitos Humanos – o advogado Rivelino Zarpellon
narra uma triste coincidência: “me lembro que voltando de carro ouvi
aquela música do Xangai (músico baiano) ‘Mutirão da Vida’, que canta
assim: Nas frentes de trabalho/Nas terras do fazendeiro/A gente encontra
a morte/E ele muito dinheiro.”
Murilo Silva, editor do Conversa Afiada
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