247 - O
empresário Benjamin Steinbruch, dono da CSN, nega o risco de
"tempestade perfeita" na economia brasileira e afirma que 2014 será um
ano bom para a economia brasileira. Confira suas razões para otimismo,
expostas em artigo publicado na Folha de S. Paulo:
Que venha 14!
Fantasmas não amedrontam o setor produtivo; nem tempestades, sejam elas perfeitas, sejam imperfeitas
A Espanha, fortemente atingida pela
crise econômica, ensaia uma recuperação. No terceiro trimestre, o PIB
(Produto Interno Bruto) espanhol teve um ligeiro crescimento, de 0,1%.
Houve comemorações em Madri. Afinal, depois de 27 meses seguidos de
recessão, o país apresentava alguma expansão econômica.
Não tem sido fácil a vida dos
espanhóis nos últimos anos. Desde 2007, a economia do país já encolheu
7%. Quando a crise global começou, a Espanha era a 9ª maior economia do
mundo. Hoje é a 12ª ou a 13ª. Cerca de 6 milhões de pessoas estão
desempregadas, e o índice de pobreza atinge 28% da população.
A Espanha é um retrato ampliado do
que acontece na União Europeia. Com maior ou menor gravidade, o que se
passa na Espanha ocorre também na Grécia, em Portugal, na Itália, na
França. Desde o início da crise, os países da UE adotaram receitas de
austeridade que podem ter efeitos positivos no longo prazo, mas impõem
enormes sacrifícios à sociedade atual. O principal é o aumento constante
do desemprego.
É preciso ter em mente essa
realidade global quando se analisa o momento brasileiro. O baixo
crescimento, o aumento das despesas públicas, a falta de investimentos, o
juro elevado, o câmbio desajustado, a precariedade da infraestrutura, a
assustadora e crescente imobilidade urbana, a burocracia insuportável, a
corrupção, a impunidade e inúmeros outros problemas tiram o sono de
qualquer cidadão participativo.
A despeito de tudo isso, o país
continua crescendo --pouco, é verdade-- e em nenhum momento desde o
início da crise global, em 2008, entrou em recessão. Tão importante
quanto o crescimento da atividade é a geração de empregos. Em outubro,
mais uma vez, o índice de desemprego medido pelo IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística) caiu: estava em 5,4% em setembro e
recuou para 5,2%, o menor nível desde o início dessa série histórica,
em 2002.
Em outubro, foram criados 95 mil
empregos com carteira assinada. No ano, já há 1,4 milhão de novas vagas.
De 2007 até agora, o país criou 10 milhões de empregos. Ou seja, em
seis anos de crise, enquanto as oportunidades diminuíam nas grandes
economias desenvolvidas, o Brasil continuou a abrir vagas de trabalho.
Já entramos em dezembro. Mais alguns
dias e estaremos todos envolvidos com as comemorações de fim de ano.
Seria muito útil para o país se pudéssemos abaixar um pouco o volume das
vozes de fantasmas diversos que prenunciam o caos no novo ano. Não que
os problemas devam deixar de ser apontados ou que as críticas não devam
ser feitas. Apenas gostaria de sugerir que não se ofereça o domínio da
cena aos fantasmas, deixando de lado algumas virtudes da economia
brasileira em meio à crise global.
Talvez seja o caso de ouvir um pouco
mais a voz do setor produtivo do país. Tenho a nítida impressão de que
os clamores dominantes da área financeira dão um tom exageradamente
soturno ao analisar o ambiente econômico. O que é de certa forma pouco
compreensível diante dos bons resultados mostrados pelos próprios
balanços das instituições financeiras e do novo ciclo de elevação dos
juros. O setor produtivo, mesmo machucado pelo câmbio, pelo juro e pela
carga do custo Brasil, que tira a competitividade da indústria, tem um
olhar mais positivo e construtivo sobre o cenário do ano novo.
Que venha 2014! Fantasmas não
amedrontam o setor produtivo. Nem tempestades, sejam elas perfeitas,
sejam imperfeitas e venham de onde vierem. De avaliações de agências
internacionais de classificação de risco ou de efeitos de possíveis
reduções do estímulo monetário do banco central americano.
O país continuará sendo um grande
mercado consumidor. Tem pela frente um ano em que se misturam um grande
evento internacional, a Copa do Mundo, e outro nacional, as eleições
gerais, inclusive para presidente da República. No primeiro, a despeito
dos problemas, terá de demonstrar sua capacidade organização. No
segundo, sua capacidade de escolher bem seus representantes.
Dificuldades não podem amedrontar o
Brasil e os brasileiros. Elas devem ser enfrentadas com coragem,
determinação e pensamento positivo. Que venha o ano novo. Só com
espírito construtivo os brasileiros poderão fazer dele um ano de
recuperação econômica. Com a criação de mais empregos, é claro.
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