Guerrilheiro Virtual

domingo, 18 de setembro de 2011

A diz puta eleitoral

Quando o Coronel Eurico Rosado da Rocha Lisboa chamou o seu protegido para um conversatório particuloso, já estava de festa em dança no juízo, e se rindo de contente. Aquele, era o vivente mais ajuramentado em débito de favor, desbocado e caceteiro e foi realmente o escolhido. No vagão central do alpendre, fez uma recepção sem hem-hem-hem e sem noves-fora e foi logo dizendo:

- Nego Foda, o senhor vai ser candidato nesta eleição, Tá me entendendo?

Ao ser chamado de Nego Foda - apelido que detestava - Biu das Quenga ficou roxo, deu-lhe uma engrossadura de língua, um intestinamento de barriga e só não mandou o Coronel tomar no centroma, por se tratar de um Rosado Lisboa que não era pouca merda naquelas pastagens. Sem entender direito e engolindo uma carrada de desaforo indagou:

- Eu Coroné Rosado? - Sim senhor, é senhor mesmo.
Não esqueça que o senhor me deve uma soltura de cadeia, de onde nunca sairia! Agora chegou a hora do pagamento.

- Mas Coroné! eu não sou letrejado de ensino, tenho andado mais duro do que santo em procissão e não tenho um pingo, um pinguinho sequer de sintoma prefeituroso!
- Não é para prefeito, é candidato a deputado, que também não precisa nada de letrejamento nem desses sintomas todo! E eu disse que vai ser CAN-DI-DA-TO! não vai ganhar eleição coisíssima nenhuma! Só precisa atacar amundiçadamente o prefeito Mané Jipinho, que vai concorrer comigo, se apoderar dos votos dele, enquanto eu me reelejo pra lhe manter fora da cadeia, ENTENDEU?

- Olhe coroné! Como eu sou um cabra vivido e espromentado nas beira de postulança political, eu vou lhe dizer um retalho de sabença, que é a pronunça mais apronunciada sobre política, que inxeste nesse mundaréu selvageado pelos animá, vegetariado e barrido pelas palha dos coqueiro e aguado pelas onda do mar: Além de sintoma prefeituroso, embocadura deputadal, cancha pra governador e senador e sustança de presidente, o cabra pra ser político no Brasil, precisa no mini-minimóro dos seguintes adjutórios:

Começar a juntar dinheiro, pra depois começar a juntar gente; engolir muita rimunheta de cabra falso, felaputista e pidão; desatar nó-cego de convenção; escutar caquiado dificultoso de partidário que só tem um voto e olhe lá; entrar em embuança de campanha; prometer como sem falta e faltar como sem dúvida; ficar refém da língua do povo; pegar roleta de boca com camumbembe; fazer conchavo com reservista da ditadura; desgaviar o caminho mode os quixó da oposição; receitar pra má-de-monte; desmurmurar mulher falsa e coiseira; acompanhar inrrolamento de papé-de-justiça; levar fama de ter esfrabicado moça donzela; levar fama de ser corno, baitola e ladrão; agüentar fazimento de pouco de eleitor desbriado; botar tamanca pra opositor bom de peia; bater quinhento de bombo com xangozeiro; gritar aleluia em igreja Pegue & Pague; alegrar sessão espírita; assistir meia missa e sair comungado; batizar menino feio com o nome de Dysmeniélisson Jerry; dar dicomer do bom e comer porcaria; almoçar em lata de goiabada; despronunciar discurso má-feito de candidato tabacudo; aplaudir discurso desvirgulado, sem rumo e sem ponto final; cair do palanque e sair todo ralado e se abrindo; aturar converseiro duplicado mesmo depois de banzeiro; aturar gente furona e desconhecida dentro de casa; viver rindo e fumaçando pelo fundo, feito ferro de engomar; acabar sua D-vintezinha na buraqueira; aturar babões civis e militares; botar no braço menino novo do fundo cagado; tomar cerveja quente de espuma murcha; tomar uísque Drury's sem gelo, numa xícara de louça com tira-gosto de canjica; beber naquelas mesona de imbuia, numa saleta escura e abafada, encostado numa cristaleira, e cercado de cabos eleitorais com cada sovaqueira de torar; entregar taça de campeão a time safado; chorar em velório de desconhecido; escrever bilhete com lápis de ponta quebrada; professorar as iniciais do nome de campanha pra eleitor tapado; escorregar em lama de esgoto; gritar ô-de-casa em casa oca; se abrir pra eleitor desabrido; pagar cana pra pinguço desocupado; farejar poeira de bunda em palanque; levar dedada no cá-pra-nós quando está nos braços do povo; escutar destampatório de foguetão no pé do ouvido; magoar o dedo mindim em passeata; dormir chiqueirado da mulher e dos filho; apertar mão de cotó; ganhar abraço fedorento; receitar caixão de defunto e ambulânça; enfiar a mão em saco de dentadura pra distribuir com a mundiça; comprar votos em dia de eleição; estelionatar voto em boca de urna; entrar em embuança de apuração; dar cobro de voto roubado; apertar mão de traidor oportunista, e depois de eleito começar essa camumbembage toda de novo... DEUS O LIVE d'eu sair candidato! Chega me faltou suspiração... E eu vou epilogar por aqui, porque conversa de política é feito coceira, só quer um pezim Coroné!

- Peraí, peraí, paraí ...calma, seu Nego Foda! (ele DETESTAVA este apelido) Se num quer mofar a vida toda na cadeia, trate de assinar logo aqui esses papeis! - Exclamou o Coronel em voz pausada - É a papelada da candidatura. O senhor vai sair candidato com seu nome verdadeiro: SEVERINO DO RAMO que é nome de santo atochado de poder, e agora é que eu quero ver sua milagrura!

Assim, de livre e espontânea pressão, Biu das Quenga se atirou na campanha deixando praticamente de lado seus múltiplos afazeres de agricultor, cachaceiro poeta cantador e assessor de putaria do Cabaré de Luzia Manca, de quem era mancebo, sócio e confidente. Pelo seu desembaraço na assessoria putística, ganhou o carinhoso apelido de Biu das Quenga. Só uma coisa lhe agradava nessa história do Coronel: Era ver o "lado bom" de seu verdadeiro nome estampado nas paredes. Chamava-se Severino Degradável do Ramo. Severino do Ramo era o nome do avô, e o Degradável, seu pai havia tirado da embalagem de um detergente onde se lia biodegradável, que estava a um pulo de grilo do nome do filho. O apelido de Nego Foda - que só ouvia muito a contra gosto da boca do coronel - ganhou na penitenciária quando foi condenado a 453 anos de prisão por ter estourado um garrafão de água mineral - cheio - na cabeça de um senador de quem era motorista em Brasília, que no rastro da garrafãozada, passou quatro anos sem exercer o mandato e sem beber água mineral. O atentado ao senador foi o passaporte para o Coronel Eurico Rosado, na qualidade de suplente, botar o pezão corrupto na política, de onde nunca mais saiu. Julgado e condenado, Biu das Quenga cumpriu cinco anos de xilindró e só saiu por obra e graça do mesmo Coronel, líder político do município de Brasilzim de Dentro e do distrito de Vila Teimosa.

Cumprindo ordens do Coronel, emburacou na tal "politicura desaforada" e no forno da campanha, tratou de denegrir a imagem do ex-prefeito Mané Jipinho, que no passado foi o responsável por sua prisão ao denunciar às autoridades suas andanças na cidade, obedecendo o mandado da mulher que vivia fogueteando com os políticos em Brasília. Em praça pública certa vez insultou:

- Povo de Brasilzim de Dentro! O meu adversário Mané Jipinho, de jipe só tem o nome! Não tem lataria, não tem pára-choque e só anda em prise nas estradas da cornura! O par de chifre que véve monumentado no seu micoco, é matéria prima pra fazer uns quarenta time de botão, uns cento e cinquenta pente de cabo comprido, e as base grossa e maciça dá pra fazer uns quatro cabo de guarda chuva! Mané Jipinho meus senhores! numa festa de corno, fica mais animado do que petista em dia de greve! Mané Jipinho, meus senhores, quer se eleger pra sustentar os capricho daquela lambisgóia com o dinheiro da nação! Mas nem o dinheiro da Alemanha, por mais Italiano que seja na sustança e na robustura das bolsas mundievais, servindo de fundo pras despesas luxentas daquela Primeira Dama, é dinheiro que só se ver muito avexadamente! Aquela primeirona adamada minha senhora, quando sai depois da Voz do Brasil, é mais arrumada do que casa que não tem menino! Sai com uma saia mais curta do que escada de tirar maxixe, com um andar mais macio do que bosta de abacate, e com os beiço brilhando mais do que espinhaço de pão doce! Aquela bicha, anda mais pintada do que carroceria de mercede, mais aberta do que porta de funerária e com o olhar mais enxerido do que chuveiro de bidé! Aquilo é feito saguim do brejo, véve pulando de pau em pau, e é mais quente do que sopa de rodoviária! Aquilo é mais atraída por macho, do que sapo por olho de cobra! Numa saída dessas minha senhora! ela goza mais do que tocador de jazz! Aquilo na rua, é mais esperta do que freguesa em tabuleiro de retalho, e em casa é mais enjoada do que uma sapatão menstruada! Por isso meus amigo! aquele Mané não pode nem sequer se descuidar fazendo campanha muito menos representando o povo na assembléia congressosa que governa esta nação! Quem véve com mulher macheira, é mesmo que atucaiar leite fervendo: tucaia, tucaia, tucaia... descuidou uma coisinha... pou! derrama, e é aquele istrupiço da gota serena!

Esse Mané atuleimado coitado, gordo que nem cururú de goteira, fica cochilando que nem bêbo em fim de tarde e acorda mais triste do que comércio fechado! A vitória de Mané Jipinho meus amigo! é mais difícil do que cagar de macacão, sua campanha está mais emperrada do que janela de lotação e mais desorientada do que cotôco de rabo de lagatixa torado! Ele diz meus amigo, que vai trabalhar por Brasilzim de Dentro! Mas trabalho na vida desse Mané, é mais raro do que bailarina dos peitão! Aquilo pra trabalhar, faz mais pantim do que pai-de-santo em macumba de rico! Encontrar esse homem trabalhando é mais difícil do que encontrar um fí de rapariga com o nome de Júnior! Precisar da proteção dele no congresso é mesmo que dormir com lençol curto em casa mal-assombrada! Estadualisar uma deputança nas mão de Mané Jipinho meus amigo! é mermo que botar bordado e renda em caçola de mulher séria e recatada!

É por isso que eu peço meus senhores, que se adicida a votar in nêu! Peço e ao mesmo tempo despeço, porque acho que não sou o único merecedor do seu voto! Eu só peço meus amigo, que não vote em Mané Jipinho, que quer ver o esqueletamento de minha candidatura, arrebolando de mundo abaixo o meu passado de penitenciária! Eu quero dizer a vocês! que nada disso abala o meu catálogo político na democradura brasileira! Os meus outroras de condenado, não só me "vai e desce", como me detergenta e me agirafa! Me agirafa muito além das altura, onde asa de morcego não galopa, onde não chega esputinique da NASA e nem cometa luminoso adisparado pelos Russo comunista! Só quem chega nessas altura meus amigo! é a bala pontariosa da poesia e a brancura da honestidade que herdei do finado meu avô BIU RAMO CANTADOR o maior poeta de Vila Teimosa e dessas redondura de Nordeste sofrido e calejado! Eu só fui preso meus amigo! porque não sube atulerar fazimento de pouco de político da qualidade de Mané Jipinho cujo mandato, faz tanta falta quanto uma radiola em boca de cemitério!

Com sua oratória matuto-político-camumbembal, Biu das Quenga foi conseguindo atrair até criancinha de oposição, e aos poucos foi avessando a casaca de eleitor acabestrado não só com Mané Jipinho, mas também com o Coronel e demais políticos de Brasilzim de Dentro e Vila Teimosa. Mas foi o tiro de misericórdia aplicado em Mané Jipinho que disparou sua campanha. Com poesias feitas de próprio punho, meteu o sarrafo, caluniou o concorrente, além de divertir e atrair a atenção do povo para seu palanque. Com a ajuda de Luzia Manca que tirou as digitais matutas para melhor expressar a suposta fala do prefeito, soltou o falso, PENSAMENTO DE MANÉ JIPINHO, como sendo o proibido discurso de posse do concorrente quando eleito prefeito de Brasilzim de Dentro, onde se lia o poema com o mote de um poeta Potiguar Sempre Foi Meu Desejo Comer o Cu Desse Povo:

Adaptação do mote de Augusto Macedo

Assim que saio eleito
No fim duma apuração
Me dá muito mais tesão
Por o povo ter-me aceito
Se fui eleito prefeito
Com o voto deles de novo
Eu pago com um par de ovo
Um taco duro e gracejo:
Que sempre foi meu desejo
Comer o cu desse povo
Vou me mantendo fiel
A este povo bundeiro
Sou político verdadeiroNeste país de bordel
E desta lua de mel
Sei que jamais me demovo
E sendo eleito de novo
Como em grosso e varejo
Pois sempre foi meu desejo
Comer o cu desse povo.

Com o poema auto-falanteado no meio da feira pelos cordelistas de plantão, o povo ficou que nem romeiro em cima de Padre Cícero atrás de um folheto. Nesse dia, a feira de Brasilzim, assistiu ao maior engarrafamento de balaio que se teve notícia na história recente do país. Mané Jipinho ferveu o radiador, queimou a junta do tampão, entupiu o cano de escape e teve um entronchamento de boca tão desbalanceado que foi preciso interromper a campanha com problema de frouxura e derramamento de palavra, trimilique labial e uma baba que cachoeirava de queixo a baixo, pior do que boi pastando. Até os juizes da Justiça Eleitoral fizeram vista grossa para o processo de calunia, com pena de interromper uma campanha que arrancava de forma tão inusitada.

A ordem de interrupção veio porém da boca fumívora do Coronel Eurico Rosado, que depois de encomendar uma pesquisa sentiu que o feitiço tinha manobrado e vinha acelerado em sua direção.

A pesquisa dava larga vantagem 72% para Severino do Ramo, 19% para Eurico Rosado e 9% para os demais, inclusiveMané Jipinho, que enrolado na cornura asseverada por Biu das Quenga, e na poesia do falso discurso, não conseguiu desentronchar a boca nem fazer um único discurso desmentindo o espalhado. Como único consolo, ouviu de um vereador a expressão animadora:


- Deixá-los falá-los que eles calarão-se-ão e a gente arranjará-se! Jipinho não pára no atoleiro!

Para dar uma acabancia na euforia do povo e reverter o quadro, o Coronel mandou a Biu das Quenga, por seus capangas, a ordem de murchar a campanha loguinho loguinho, e que a estratégia dos versos fosse usada recomendando o seu nome. Como o poeta recusou de cara a proposta do coronel, surgiu um racha entre os dois da largura dum rio cheio. Indignado, Biu das Quenga saiu voando nas pontas dos dedos, de má sombra, alpercateou o alpendre do coronel e falando de poleiro atacou:

- É Coroné! Eu sei que o senhor é baludo, amarombado de poder e que, de mamando a caducando o senhor é quem dá as ordens de viver, morrer, comer, cagar e dormir por essas banda, dentro dos seus conformes! Mas agora eu vou descaroçar um assunto a respeito do seu, de uma vezada só! Se gostou gostou, se não gostou coma menos! e não venha tentar me engolir porque eu abro os braço e não entro: Saiba o senhor que eu sou cabôco de primeira apanha, e sou agradecido de minha soltura, dêreitamente como deve ser! mas me fazer de papangu na frente do povo o senhor não faz não! Se o senhor tem cabelo na venta, eu tenho pelo no coração! Brigar, eu não vou brigar, porque brigar com o senhor é mesmo que vadiar com terra, mas num ano de seca como esse, de muito chocalho e pouco pescoço, eu não vou deixar o senhor entrar de rédea frouxa nas cana dos deputado não senhor. Antes fanhoso que sem venta! Pra vaga de deputado eu também sou candidato ENTENDEU?

O coronel cresceu pra cima do matuto, que encarou o crescido com um inchar de alpercata do mesmo quilate. Sentindo a ponta de uma lambedeira de catorze polegadas alfinetar e seu terno branco, teve que bochechar e engolir o primeiro desaforo da vida. Em seguida, com distancia de uma braça, abriu a blusa da porta, enfiou corpão banhudo pela janela em tempo de arrancar os alisás e pegou lá dentro de casa um envelope graúdo e amarelo. Com dentes de cachorro abriu um rasgo na beira e tirou um papel falado de cima a baixo, carimbado e reconhecido em cartório. Era o documento de renúncia à candidatura de deputado já assinado por Severino do Ramo. Em seguida, elasticando o suspensório e assanhando o bigode caceteou:

- É seu Nego Foda! Infelizmente o senhor já renunciou à candidatura!

Biu das Quenga foi tomando a cor do nambú, sentiu a engrossadura de língua, o intestinamento de barriga e baixou a matéria pra cima do Coronel:

- Prêmeiramente, Nego Foda é a puta que o pariu! Seu coronezim varejado duma figa! Ladrão de cegar coruja, robador de leite de menino, usuráve calculista! Eu tou vendo que o senhor é mais egoísta do que buraco de funil! Mas fique sabendo que o senhor só é graduado mesmo é em filosofia da bufa! Tá pensando que hai home mais home do que outro home? Arrepare num espelho que coronezim da qualidade do senhor, é como circo, de beira de estrada só tem mermo a armação, e a ponta da minha pajeuzeira entra mais fácil do que trinchete em melancia! Se quiser encarar pode vir que eu agüento o canjirão! E segundamente, não hái dois altos sem uma baixa no meio! Sabendo que tipo de coroné é o Coroné, eu tratei de somar meus precavidos e registrei a candidatura de minha mulher Luzia Manca, que já pintou as faixa de campanha, só tava esperando o senhor findalizar a safadeza! Pode se preparar pra campanha quente, que de agora em vante o senhor vai ser mais pisado do que direito de pobre!

Botou o chapéu na cabeça, segurou as rédeas do seu cavalo e com o pé no estribo, Pedro Primeiramente bradou:

- DEPUTADURA OU MORTE!!!


O Estreito da Galheira ficou ainda mais estreito para caber tanta gente. Na frente do velho sobrado uma placa velha de ágate branca e letras azuis enfeitada de luzes vermelhas identificava: CABARÉ - SOFRIDO SONHO DE LUZIA. Ao lado, uma nova placa, moderna e bem legível foi elevada ao som do Hino das Prostitutas - O desprezo que tua mãe me deu- com os dizeres: COMITÊ CENTRAL DA FUDENE - Fudedeiras Desenvolvendo o Nordeste. Em cima dum caminhão Biu das Quenga abria oficialmente a campanha pedindo a todo eleitorado, para com o seu apoio, eleger sua mulher Luzia Manca Deputada Estadual. Quando se referia a mulher sempre frisava que era parida, mamadeirada, soletrada, e viajada na grã-finura, só caindo no gramado aos dezenove anos depois de um desgosto amoroso. Portanto mais apetrechada de que ele, na sabença e na palavra, para representar o povo de Brasilzim de Dentro e Vila Teimosa. No decorrer do discurso inaugural em certo momento falou:

- ...Foi por isso meus senhores! que eu tive que abandonar minha campanha, me livrando também daquele Coroné agalochado em roubo de esticão! Aquele virador de casaca, que cagou na palmilha do sapato do bispo, meus senhores! além de neolítico, paleolítico e ordinário, é capaz de botar um "cerca-lourenço" no povo e matar tudo de fome! Mais foi até bom meus amigo! eu me livrar daquela lacraia porque só quem acompanha o Coroné Eurico Rosado é aquela hemorróida braba de 500 anos. Agora meus amigo! nós vamos eleger Luzia Manca, com a ajuda de vocês e dos santos descedor das altura! inclusive Clementina de Jesus e Santa Paciência! Só não vem mesmo pro nosso palanque, o glorioso São Sebastião porque se encontra amarrado, mas mesmo assim vai mandar um representante! Votando em Luzia Manca meus amigo! vocês estão votando numa mulher que é danada pra achar doce onde só se ver amargura!

Para demonstrar que não existia conchavo político com os demais partidos e total transparência nas decisões da FUDENE, a cúpula do partido distribuiu um folheto intitulado Conversa de Bastidor, que dizia:

Pra mandar tudim pra PQP
Não pudemo se quer, se PDT
Que é mode o PSB
Amuntado no PVNão vir se aliançar

.PC-dê-Bando a hipótss
Dum PT, sem muito T
Nem que a legenda se mele
Ou de PF ou de L
Feito PMDB

Antes que o pau recomece
Vai assim asuceder:
PMN não manda
Já desanda o
PTB
PSDB
tira o S
Logo depois tira o BNo mei desse sururú
Nós pega o F e o U
E acunha tudo no D.

Nessa pisadinha de matutagem, Luzia Manca foi crescendo na disputa eleitoral com o mesmo sucesso de Biu das Quenga. No comitê, as putas devidamente organizadas formaram um cartel, super-faturaram os preços e foram conseguindo fundos de campanha. Toda estrutura de rua se limitava a três cornetas e um tarol, fazendo distribuição de folhetos desaforados atacando o coronel, que juntava gente como pó em serraria. Depois de receber um recado do Coronel avisando que se preparasse para uma "VISITINHA," Biu das Quenga contra-atacou em verso, que logo em seguida foi distribuído em forma de panfletos. Tinha o nome de Desaforismos Matuatais e dizia:

...O Coronezim Rosado?
Me fazer uma visitinha?
Pois diga a ele que venha!
Mas que venha apetrechado
Armado e municiado
Muntado na vovózinha!

Aquilo é veado môcho
Sabuguento duma figa
Fí de pai véi espantado
Bisneto de rapariga
Fí de feme de reboque
Boiôso que nem me toque
Fabricador de intriga.

Cara de pinha amassada
Cafifento e encostão
Maracujá de gaveta
Cadáve sem oração
Esprito papagaioso
Xexêro, testiculoso
Miséra, frouxo do cão.

Aquilo não tem registro
Muito menos escritura
Não tem fí que dê o nome
Tem metro e mei de altura
Aquilo é chei de mistério
É rato de cemitério
Roubador de sepultura.

Aquilo é bicho bargado
É coice de rifle ruim
Sujeito precipitante
Comedozim de capim
Mosca de fumo seboso
Ordinário e pegajoso
Danisco de pituim.

Pai de chiqueiro entufado
Gerente de traficança
Não vale o peido da gata
Essa vibra sem sustança
Insosso, despimbolado
Tirador de confiança.

Aquilo é veáco duro
Chupado da carochinha
Hotel de pulga e piolho
Que rouba fel de galinha
Não vale um grão de aval
E nem cocada de sal
Nem um guti de farinha.

Um bom trompaço eu dispêio
Na pessoinha do cujo
Com mantença de moral
Piso na raia e não fujo
Encaro o caceteado:
Bofetante e bofetado
Vira-latando o rabujo.

Depois dos Desaforismos, Luzia Manca subiu para 78% nas pesquisas à um palmo da eleição. O Coronel no desespero tratou de partir para a violência física como única forma de deter o avanço de Luzia e demonstrar autoridade. Na maior batalha de bufete já vista em Brasilzim de Dentro e Vila Teimosa, os FUDENISTAS saíram vitoriosos. Numa coletiva a imprensa, Biu das Quenga contou como se deu a batalha:

- O Coroné Rosado, já viu que seu partido tá mais dividido do que terra de herdeiro, minha gente! Veio com provocação pro meu lado, com os capanga dele mais armado do que navio de guerra! Eu que tava com Mané Perigo, Soldado Chico Veneno e Sargento Melhoral FUDENISTAS de torar, partimo pro ataque e foi briga de ser medida a metro: Eu dei um tabefe no porta orelha de Mané Capado que ele borboletou uns dois palmo e caiu no chão feito uma jaca mole! Chico Veneno fez judiária com uns dez capanga que saíram regando a terra com mijo! Um capanga lá dele omilhou Mané Perigo com uma dedada... Meu cumpade! Esse home ofendido na região glútea, virou uma fera, e entre a rapidez da dedada e a imediatidade do ÊPA!... deu um berro nas oiça do sujeito que escorregou na frouxura e caiu sentado. Mané Perigo aprumou-lhe um tabefe aparentado a um coice de mula, que o matuto não sabe como não morreu com um Pei-Bufismo tão da gota serena! Mané Perigo partiu pra cima dele com um gênio de 150 siri dentro duma lata de querosene, deu-lhe um sopapo no serrote dos dentes que choveu canino, molar e incisivo por três dias no síto Boca Funda! O Sargento Melhoral que tava meio desmotivado de briga, deu um cascudo na marmita dos pensamento de Luiz Cocada, que o pobre ficou com um sangror pelos esgoto da venta, que se não fosse a lona dum GMC que tinha lá, ele tinha caído numa morrença, pra nunca mais. No meio desse diálogo todo, eu ví foi o Coroné sair num derrapo de velocidade que espantou até os Emerson e demais Fittipaldes.

Na passeata rumo ao último comício, de aproximadamente vinte e duas mil pessoas - vinte e uma mil novecentos e noventa e oito bestas, acompanhando Biu das Nega e Luzia Manca - toda rua era estreita pro cuscuz de gente. No palanque armado no cruzamento da rua do Arrombado com o Estreito da Galheira, os clarins anunciavam a chegada de Biu das Quenga que vinha a cavalo nos braços do povo e Luzia Manca que vinha andando no meio do xerém. De vendedor de amendoim à contrabandista de computador, de tudo se via nas proximidades do palanque, além é claro dum carrossel de segunda e canoinha pra meninada. Num discurso puxado com sustança, e como disse Biu das Quenga: Mais bonito do que pé de macaíba na safra, Luzia Manca fez o seguinte pronunciamento em versos, apresentando sua equipe de trabalho, e denunciando as mazelas da cidade:

Meus amigos fudedores
Gigolôs e cachaceiros
Ilustres raparigueiros
E todos da região!

Se a FUDENE não fudesse
Não fosse mulher bolida
Se não quengasse na vida
Não tava na eleição.
Disputou com puta a puta
Mas trouxe no fim da briga
Um coral de rapariga
Pra cima do caminhão.

Trouxe Zefa Pragatão
Trouxe Priquito de Frande
Teinha do Obreiro Baixo
E com licença da palavra
Trouxe Roquete Cuzão.

Roquete é feito feijão
Quando esquenta dá o bicho
Mas andará no capricho
No rumo da eleição.

Reparem bem o estado
Dessa nossa região:
Do Estreito da Galheira
Do beco do Pinguelão
Lá do Buraco da Velha

Do Pau Torto e Suvacão.
Da Rua do Arrombado
Lá da Taiáda da Jega
Esquina do Lasca e Trinca
Suvaco de cururú
Atolado da Frieira
Rua da Beira Seca
E do Beco do Tejú.

Não queiram ver o estado
Do apertado da hora
Da Pinguela do Tauá
Do Beco do Quebra Pote
Da Rua do Quixelau
Rua do Grude e da Merda
Escorrega lá vai um
E Beco do Eita Pau.

Estão levando na zona
A nossa Zona sofrida
Zonaram da nossa Zona
Nunca nos deram carona
No trem que sobe na vida.

Mas esta bacafuzada
Tá com seus dias contados
Quem ganha a vida fudendo
Levando e sendo enganado
De tanto saber gemer
Quer "tanto assim" pra fuder
Prefeitos e Deputados.

Vote em nossa bandeira
De norte sul leste oeste
Vamos votar na FUDENE
A redenção verdadeira
Que são essas fudedeiras
Desenvolvendo o Nordeste.

Finalizo estas palavras
Clamando de braço aberto
Aos companheiros de luta
Que vamos votar nas puta
Pois nos filhos não deu certo.


Terminado o comício, o bolão de gente em passeata acompanhou o casal até a porta do comitê, que estranhamente tinha as portas encobertas por um painel enorme de fundo vermelho e letras brancas com a seguinte inscrição: EURICO ROSADO ESTÁ NA BOCA DO POVO. Sem entender direito como surgiu aquela palhaçada, Biu das Quenga foi se dirigindo para o painel quando foi atingido por uma bala na barriga. Ferido em tripa de segunda, com o corpo fora do prumo, viu o Coronel ensacando a pistola de volta na cintura em cima de um cavalo. Ainda teve força de puxar uma faca da meia e assim como um atirador de circo cravou-a no peito do coronel, que, com um vazamento de vida lavando-lhe o corpo, pensou: "Ainda vou ter fôlego para ver este infeliz morrer". O poeta baleado cambaleou, feito um morcego no chão, olhou para o painel pintado de vermelho e letras brancas e viu o que só um poeta pode ver: A última pá de terra no nome do Coronel: Passou a mão na barriga encharcada de sangue e com o pincel dos dedos pintou de "vermelho sangue" a perna de baixo de "E" de EURICO. Deu uma risada de acordar qualquer moco e entre AIS! e QUÁ-RÁ-QUÁ-QUAIS, caiu no chão para ser socorrido. Ao levantar a vista, o bolão de povo entendeu o motivo da gaitada do poeta: Em letras garrafais lia-se agora, "FURICO ROSADO ESTÁ NA BOCA DO POVO."

A Deputada Luzia Manca fez a maior passeata da vitória já vista nas redondezas. Neste mesmo dia, na capital, o Coronel Rosado, convalescendo da facada, morreu dum enfarto, ao saber que seu nome - já afuricado - foi usado no batismo de um partido gay no Paraguai. Biu das Quenga cachaceiro inveterado que tinha feito uma promessa de só beber na outra safra de caju - se escapasse do tiro - tomou umazinha só pra envinagrar a alma. Ao ver o estandarte da mangação com o nome de FURICO ROSADO desfilando rua abaixo, abriu uma garrafa e bebeu no gargalo, num risadeiro de afrouxar suspensão. Ria, ria, ria e... CANA. Viva! Viva! Viva! e.... CANA. Dança, dança dança e... CANA. Numa golada dessas ouviu um zunido contínuo, um claridão ofuscoso, uma infalência de indivíduo, dançou pra lá e dançou pra cá e... DANÇOU.

No aniversário de sua morte. Ao invés de tristeza, toda cidade ri de recordação. No Cabaré SOFRIDO SONHO DE LUZIA, passou a funcionar o MEMORIAL BIU DAS QUENGA onde numa lápide na base de seu busto lê-se a seguinte inscrição: " SEVERINO DO RAMO ( BIU DAS QUENGA). O homem pobre que derrotou, Senador, Deputado, Prefeito, e Coronel num país dominado pelo poder."

Certo dia um Presidente da Republica fazendo média com a pobreza em Brasilzim de Dentro, ao depositar uma coroa de flores na base do busto, lendo a inscrição da lápide falou de si pra si : "PÔ! ESSE NEGO ERA FODA!".

A estátua foi ficando roxa da cor dum nambu, teve uma engrossadura de língua, um intestinamento de barriga e falou: "NEGO FODA É A PUTA QUE O PARIU, PRESIDENTIZINHO BOSTA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!"

Poema do poeta matuto Jessier Quirino.

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