As revelações são poucas, as alfinetadas são muitas e o arrependimento, nenhum. Ainda assim, a autobiografia do ex-vice-presidente Dick Cheney provocou convulsões políticas entre correligionários e opositores antes de chegar às livrarias, nesta semana.
"In my time" ("Na minha época"; Simon and Schuster, US$ 19,25 impresso e US$ 16,99 no Kindle, só em inglês) é parte da enxurrada de livros, filmes e programas que abordam o legado dos atentados do 11 de Setembro dez anos depois.
Trechos vazados na mídia dos EUA incluem críticas aos ex-secretários de Estado Condoleeza Rice (descrita como "chorona") e Colin Powell --que chamou de "golpe barato" a acusação de fazer em público críticas que, diz Cheney, nunca levara ao presidente George W. Bush.
A CIA --principal agência de inteligência americana-- é responsabilizada sozinha pelas falhas de informação que levaram à Guerra do Iraque, em 2003. E a relação com o ex-secretário da Defesa Donald Rumsfeld, que deu a Cheney seu primeiro emprego na política, em 1968, é pintada como conturbada.
"Cheguei ao Congresso com uma bolsa de um ano para estudar o Senado e a Câmara, voltar para a Universidade de Wisconsin, completar meu doutorado e virar professor", diz Cheney.
"Mas 12 meses viraram 40 anos quando descobri que preferia lidar diretamente com política a estudá-la."
Veterano de cinco gestões republicanas, Cheney ficou conhecido como eminência parda do governo Bush e o mais poderoso dos ideólogos neoconservadores.
Alguns críticos o veem como presidente de fato e arquiteto da política antiterrorismo que regeu o país de 2001 a 2009.
Cheney nega essa versão no livro, coescrito com a filha Liz, mas não diminui seu papel central. As revelações "surpreendentes" prometidas antes do lançamento, porém, não estão na autobiografia, segundo quem teve acesso antecipado a ela.
"In My Time" vem na esteira das autobiografias de Rumsfeld, do estrategista Karl Rove e do próprio Bush. Em se tratando de Cheney, contudo, já projetou uma discussão relevante diante da efeméride em vista:
Apesar do rechaço público, da promessa (vã) do presidente Barack Obama de que fecharia Guantánamo e da mudança retórica que extinguiu a "guerra ao terror", talvez suas ideias não estejam de todo enterradas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
”Sendo este um espaço democrático, os comentários aqui postados são de total responsabilidade dos seus emitentes, não representando necessariamente a opinião de seus editores. Nós, nos reservamos o direito de, dentro das limitações de tempo, resumir ou deletar os comentários que tiverem conteúdo contrário às normas éticas deste blog. Não será tolerado Insulto, difamação ou ataques pessoais. Os editores não se responsabilizam pelo conteúdo dos comentários dos leitores, mas adverte que, textos ofensivos à quem quer que seja, ou que contenham agressão, discriminação, palavrões, ou que de alguma forma incitem a violência, ou transgridam leis e normas vigentes no Brasil, serão excluídos.”