Paulo Moreira Leite
Estou impressionado com a força ideológica de Adam Smith, aquele pensador escocês do século XVIII que — resumidamente — explicava o crescimento do capitalismo pela mão invisível do mercado.
Essa longa sobrevivência se explica por sua utilidade política.
A noção de “mão invisível” transforma os desastres econômicos — como aqueles que se vê na Europa e nos EUA de hoje em dia — em catástrofes naturais, contra as quais os homens e os governos pouco podem fazer.
Embora o mercado seja uma parte essencial da vida econômica de nossa época, o mundo se modificou bastante desde que Adam Smith formulou suas hipóteses de trabalho, num tempo em que não havia luz elétrica, nem avião nem linha de montagem.
Não se pode falar em “mão invisível” diante de corporações com poder de controlar a oferta mundial de mercadorias, matérias primas, tecnologia e saber acumulado.
É pura ingenuidade fingir que os juros sobem e descem por vontade propria, sem influência de ações de todo tipo, inclusive dos governos de Estado.
E é falta de conhecimento histórico argumentar que o crescimento econômico não pode ser estimulado por políticas adequadas e que uma depressão não possa ser induzida por programas de austeridade.
A diferença é que a noção de que somos governados por uma “mão invisível” ajuda a diminuir responsabilidades visíveis e escancaradas da economia atual.
Vamos reparar, por exemplo, na situação da economia americana. Ela vinha crescendo 3% em 2010. Entrou uma fase de crescimento moderado, em 2011, que ameaça prolongar-se para 2012 também.
A teoria da “mão invisível” vai encontrar causas no caráter da sociedade americana, nas dificuldades de sua economia, na concorrência externa e assim por diante. O esforço é conformista: dizer que o ambiente de anestesia economica é inevitável.
É certo que a economias desenvolvidas estão condenadas a crescer menos do que os países emergentes. A discussão real é outra, porém.
Os Estados Unidos pagam hoje o preço da ação conservadora do Tea Party, que sufocou o governo de Barack Obama por razões eleitorais — teremos eleiçoes presidenciais em 2012 — e ideológicas. Fanáticos do mercado, consideram que o Estado mínimo retrata o mundo ideal para homens livres e emancipados.
Ironicamente, aquilo que se vê nos EUA, hoje, é a ação visível daqueles que dizem que a economia se move por uma “mão invisível.”
É a política, estúpido!
Do UM SEM-MÍDIA
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