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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Metade da dívida de 5 europeus vence até abril; Brasil se preocupa



Enrolados com 'mercado', Itália, Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha têm de pagar de janeiro a abril 283 bi de euros, dos 613 bi a vencer em 2012. Segundo BC brasileiro, concentração 'deve ser acompanhada com cuidado'. Brasil também precisa liquidar em quatro meses 43% do que vence em 2012, mas está 'descolado' da crise e fechará 2011 com dívida pesando menos.

BRASÍLIA – Os cinco países europeus atolados numa crise de suas dívidas que arrastou o continente e sacudiu o mundo em 2011 terão um início de 2012 complicado. Complicado e, para autoridades brasileiras, preocupante. Quase metade das dívidas que Itália, Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha terão de liquidar no ano novo vencerá entre janeiro e abril. Serão 283 bilhões de euros, de um total de 613 bilhões a pagar em 2012.
 
A necessidade de o quinteto rolar 40 bilhões em janeiro e depois uma média de 80 bilhões pelos três meses seguintes mostrará se os países já conseguem administrar seus papagaios – com ou sem ajuda de fora, como os socorros do Fundo Monetário Internacional (FMI) – e qual é tamanho da desconfiança dos “mercados” credores (explicitada no valor de eventuais descontos e do juro cobrado na rolagem).
 
O processo de pagamento/refinanciamento evidenciará ainda se os líderes políticos dos devedores e, também, dos dois principais países da Zona do Euro, Alemanha e França, entram em 2012 com mais capacidade ou se repetirão o bate-cabeça de 2011.
 
“Será um momento em que um avanço [político] será necessário para que esse refinanciamento das dívidas dos países afetados seja feito com maior tranquilidade”, disse o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, ao participar, dia 20 de dezembro, da última prestação de contas trimestral ao Senado em 2011.
 
Na audiência pública, o banqueiro deixou claro como o vencimento de 280 bilhões do quinteto europeu em apenas quatro meses causa apreensão no governo brasileiro. “De fato é uma concentração que deve ser acompanhada por nós com cuidado.”
 
Se os cinco grandes devedores europeus tiverem dificuldade para atravessar o quadrimestre, é possível que em 2012 toda a economia global volte a sofrer as consequências da crise, na forma de outro crescimento reduzido. Essa é a grande expectativa do governo brasileiro, que vem insistindo que, no ano que vem, o país vai se sair melhor do que em 2011.
 
Brasil: calmaria
 
Do ponto de vista da rolagem da própria dívida brasileira, porém, problemas no Velho Continente não preocupam. Durante todo o ano de 2011, o país teve sossego nas negociações com o “mercado”, que não estendeu até aqui a suspeita de calote que alimenta do outro lado do Atlêntico.
 
Por isso, não provoca o mesmo frio na espinha o fato de o país também ter um cronograma de pagamentos da dívida pública concentrado no início de 2012. De janeiro a abril, terá de rolar 164 bilhões de reais, o equivalente a 43% do total de 381 bilhões previstos para o ano todo. Até o fim do governo Dilma, o vencimento geral será de 1 trilhão de reais.
 
“O Brasil está melhor do que muitos países industrializados”, afirmou José Franco de Morais, coordenador de operações da dívida pública da Secretaria do Tesouro Nacional, ao divulgar dados sobre a evolução do débito brasileiro em novembro, dia 21 de dezembro.
 
Por causa disso, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, vem repetindo que, em meio à crise europeia da dívida, o Brasil terminará 2011 diminuindo a sua, quando ela é medida pelo peso que tem no produto interno bruto (PIB). A expectativa do ministro é que a dívida líquida, que estava em 40% do PIB em 2010, feche 2011 em 37%, “uma excelente performance”, como Mantega a definiu durante café de fim de ano com jornalistas, dia 22 de dezembro.
 
Até novembro, segundo dados divulgados pelo Banco Central (BC) nesta quarta-feira (28), a dívida estava em R$ 1,5 trilhão, o equivalente a 36,6%. Contribuiu para a queda da dívida o enorme saque de recursos arrecadados em impostos em todo o país para, com eles, os governos pagarem juros da dívida pública. O chamado superávit primário em onze meses de 2011 sonegou R$ 126 bilhões em políticas públicas, investimentos e outros gastos, para pagar o “mercado”.
 
André Barrocal

No Carta Maior
Do Contexto livre

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