Para
falar sobre os planos da ultradireita latino-americana, que é um
instrumento de Washington na região, e analisar a atual conjuntura
política do continente, o Observatório Sociopolítico Latinoamericano - http://www.cronicon.net/ dialogou, em Buenos Aires , com Stella Calloni.
Entrevista a Stella Calloni.
Cronicon.net
O Observatorio Latinoamericano
Adital
Tradução: ADITAL
Para falar sobre os planos da
ultradireita latino-americana, que é um instrumento de Washington na
região, e analisar a atual conjuntura política do continente, o
Observatório Sociopolítico Latinoamericano - http://www.cronicon.net/ dialogou, em Buenos Aires , com Stella Calloni.
Acompanhados por um bom café no Centro
Cultural da Cooperação Floreal Gorini, em plena Avenida Corrientes , a
investigadora nos fez uma consciente análise da realidade
latino-americana e da ingerência estadunidense.
Calloni é uma jornalista experiente;
escritora e poetisa. Foi correspondente de guerra na América Central e
se especializou em política internacional. Em sua vasta obra publicada
estão incluídas crônicas, ensaios e livros, entre outros, como Torrijos y
el Canal de Panamá (1975); La guerra encubierta contra Contadora
(1993); Nicaragua: el tercer día (1986); Panamá, pequeña Hiroshima
(1992); Los años del lobo: Operación Cóndor (1999); Operación Cóndor,
pacto criminal (2001); Argentina: de la crisis a la resistencia (2002);
la invasión a Irak, guerra imperial y resistencia (2002); América Latina
siglo XXI (2004); Evo en la mira. CIA y DEA en Bolivia (2009).
Atualmente, é correspondente do Cone Sul
para o diário La Jornada , do México e também atua como docente
universitária. Entre as múltiplas distinções que recebeu, destacam-se o
Premio Latinoamericano José Martí (1986); Premio Madres de Plaza de Mayo
(1998); Premio Margarita Ponce Derechos Humanos de la Unión de Mujeres
Argentinas y Premio Latinoamericano de Periodismo Samuel Chavkin, da
revista Nacla Report of the Americas de Nueva York, ambos em 2001; além
do Premio Escuela de Comunicaciones de la Universidad de la Plata ,
Argentina (2002).
Em função jornalística, percorreu
praticamente toda a América Latina, bem como vários países da Europa, da
África. Portanto, suas análises são feitas a partir de apalpar a
realidade no próprio terreno. É conferencista internacional sobre temas
de geopolítica latino-americana e sobre direitos humanos.
A INVASÃO SILENCIOSA DOS EUA NA AMÉRICA LATINA
- A senhora considera que a ingerência
dos Estados Unidos tem se configurado de maneira mais sutil, ou continua
sendo mantida a mesma estratégia de finais de século XX para dominar os
povos?
- Se eles, em todos os seus documentos
de política exterior, começaram a considerar que deviam levar em conta a
Doutrina Monroe ("América para os americanos") equivale assinalar que
ela continua sendo a base de muitas coisas que eles fazem, com algo
muito mais grave: agora o lema é "o mundo para os americanos". Tudo
isso, mais a reconfiguração que aconteceu após as Torres Gêmeas, que é
um fato que ainda não sabemos quem é o responsável; pois, poderão dizer o
que queiram, mas provas não existem de nenhuma espécie; é como se você
me dissesse que alguém possa me dar uma prova de que a pessoa que
mataram no Paquistão era Bin Laden. Não há provas; não existem e o que
Estados Unidos digam, para mim não tem nenhuma veracidade, porque mentem
eternamente. Após a configuração dessa doutrina de segurança
hemisférica, começa também a nova doutrina de guerra preventiva, de
guerra sem fronteiras e sem limites; desconhecendo as soberanias
nacionais, ao mesmo tempo em que executam outra vertente de trabalho,
que é sutil: o envio de todas essas fundações que nasceram durante o
esplendor conservador de Reagan para evitar a presença direta da CIA,
sobretudo depois de 1975, quando se formou a Comissão Church no Senado
estadunidense para investigar o papel dessa Agência de Inteligência no
golpe de Estado no Chile, o que motivou que, nos anos 80, a renovação da
estratégia de conflitos e de guerra de baixa intensidade, que tem como
base a contrainsurgência, que, em linguagem norte-americana, é a
permissão aberta para todo tipo de ilegalidade no plano militar,
político, cultural, social, econômico etc. Quando já se recicla para o
período dos anos 90, são conformadas a NED (National Endowment for
Democracy, fundação para a democracia; porém, teríamos que perguntar-nos
que tipo de democracia), a Usaid (a agência internacional para o
desenvolvimento, que nunca teve esse papel). Mas, sabemos que onde se
instala esse organismo, há uma interferência direta dos Estados Unidos e
a CIA está por trás. Com isso, conseguiram a invasão silenciosa na
América Latina. Pude verificar isso diretamente no próprio terreno, por
exemplo, na Bolívia, e observei como essas fundações trabalham, criando
ONGs, que cumprem um papel chave na guerra de baixa intensidade; isto é,
desestabilização de governos; intromissão em lugares; trabalho com
grupos indígenas, como é o caso boliviano, no qual buscaram um líder
indígena para fazê-lo aparecer, com o propósito de substituir a Evo
Morales. Infelizmente, os governos latino-americanos ainda são muito
débeis e não têm a suficiente clareza no sentido de que devem deter esse
intervencionismo que pode levar a situações muito complicadas. De fato,
no golpe de Estado na Venezuela, estavam a NED, a Usaid e outras
fundações, inclusive socialdemocratas da Europa, que ficaram metidas no
esquema internacional da CIA.
A ULTRADIREITA MILITAR LATINO-AMERICANA
- E no golpe de Estado em Honduras contra o presidente Manuel Zelaya?
- Em Honduras, também; e aí a
intervenção teve também a participação de Unoamérica, sobre a qual a
Colômbia deve ter muito cuidado e estar bem atenta às suas atuações. É
uma fundação que nasceu na Colômbia, com um grupo de militares da
ultradireita e com vários ex-militares de todas as ditaduras da América
Latina.
- Qual é seu propósito?
- O propósito é praticamente executar a
Operação Condor levada a outro plano. Apesar de que a Operação Condor
não pode ser repetida. Unoamérica coincide no trabalho supranacional
para poder mover-se sem nenhum limite nos vários países. Esses militares
de ultradireita sustentam o mesmo que na época do Plano Condor, no
sentido de que assim como o Cone Sul tinha que combater a coordenadora
guerrilheira que havia se integrado nos anos 70, agora tem que enfrentar
tanto os governos de esquerda, que participam no Fórum São Paulo,
quanto a Unasul, a qual consideram igualmente uma organização
supranacional; portanto, eles devem atuar para evitar o comunismo,
porque falam do comunismo como se fosse no tempo da Guerra Fria. Por
isso, nuclearam ao pior que encontram de militares envolvidas nas
ditaduras latino-americanas e realizam um trabalho especial dentro dos
grupos de segurança dos exércitos e das polícias, reciclando o discurso
anticomunista do passado. Fazem um trabalho nas Forças Militares da
região porque têm suas velhas conexões e, por isso, jogaram um papel
determinante no golpe de Estado em Honduras. Alejandro Peña Esclusa, que
hoje está preso na Venezuela e que é o presidente de Unoamérica, foi
condecorado por Roberto Micheletti por sua colaboração efetiva para dar o
golpe. Unoamérica provê mercenários, faz contrainsurgência para as
necessidades da CIA, se move por toda a América Latina; vários de seus
integrantes estiveram na Bolívia metidos no golpe de Estado que tentaram
contra Evo Morales e, sobretudo, na tentativa de assassiná-lo.
- Conhecendo o ex-presidente colombiano,
o tão questionado Álvaro Uribe Vélez, que papel ele joga em Unoamérica,
de acordo com suas investigações?
- Vários militares que fazem parte de
Unoamérica, segundo os registros que tenho, apóiam aos grupos
paramilitares na Colômbia e são muito próximos a Uribe. Na Argentina,
temos já a lista dos vinculados a essa fundação, que é encabeçada pelo
coronel do grupo de caras-pintadas, Jorge Mones Ruiz, bem como há
militares da ultradireita boliviana, uruguaia; eles buscaram os
remanescentes das velhas ditaduras latino-americanas e se apóiam
politicamente em grupos ultradireitistas da região.
- Geopoliticamente falando, nas atuais
circunstâncias, quais são os aliados mais importantes dos Estados Unidos
na América Latina?
- Geopoliticamente, enquanto está a
invasão silenciosa, por cima estão mandando tropas e o porta-aviões dos
Estados Unidos na região obviamente é a Colômbia com todas as suas bases
militares e com sua estrutura. Além disso, o golpe de Honduras
conservou a base de Palmerola e as novas como a Base de Gracia de Dios,
que lhes permite controlar a Nicarágua.
- Aqui na Argentina, existe o
convencimento de que na Colômbia estão operando as sete bases que o
governo de Uribe entregou ao Comando Sul dos Estados Unidos. No entanto,
a Corte Constitucional proibiu a utilização dessas bases. Segundo suas
investigações, ditas bases militares estão realmente operando?
- Na realidade estão aí. É algo muito
similar ao que acontece com a Base Mariscal Estigarribia, do Paraguai,
ou com a Base de Palmerola, em Honduras. Aí , o que existem são pistas
onde podem aterrizar aviões grandes, como têm feito na Colômbia. Essas
bases não estão ocupadas permanentemente por soldados norte-americanos
porque eles nunca se metem em lugares fechados. Agora, os Estados Unidos
não necessitam enviar soldados para fazer funcionar as bases militares;
mas as têm à sua inteira disposição. Obviamente, têm tudo preparado
para se acaso necessitam mandar tropas. Ou, como acontecia na Bolívia,
em que metiam uma estrutura da DEA dentro de uma base, que utilizaram
quando quiseram matar Evo Morales, na época em que era deputado. Algo
parecido estão fazendo na Colômbia.
JUAN MANUEL SANTOS E SUA RELAÇÃO COM O MOSSAD
- Na Colômbia também operam o
Mossad (Agência de Segurança Israelita) e o Mi6 (Serviço de Inteligência
Inglês). Em outros países latino-americanos também operam?
- O Mossad está no Paraguai, na Bolívia,
na Venezuela e na Guatemala. Na Venezuela, sua presença é muito forte e
na Colômbia opera há muitos anos, inclusive, antes que chegasse seu
agente Yair Klein, que treinava e trazia da Jamaica armas para os grupos
paramilitares. O problema é que o Mossad, atualmente, tem mais força do
que a CIA; vários de seus membros se infiltram em comunidades judias
dos países latino-americanos; porém, além disso, estão presentes no
Iraque e na Líbia. Nas tarefas e na direção de todas as movidas de
guerra suja, o Mossad é chave. No caso colombiano, o presidente Santos é
filho do Mossad e ele não pode separar-se de Israel. Não se pode
esquecer o papel que Santos jogou no ataque a Sucumbíos, quando a
soberania equatoriana foi violada, para atacar o acampamento de Raúl
Reyes. Recordo o sorriso de hiena de Santos quando mataram esse chefe
guerrilheiro. Não creio que Santos queira a paz na Colômbia, como Israel
tampouco a quer; o que ele deseja terminantemente é exterminar de
qualquer maneira a um grupo político-militar insurgente.
- E no México, cuja situação social é muito explosiva?
- Nessa ocupação geopolítica, do Plano
Colômbia, que é um plano de recolonização do continente, passaram para o
Plano Mérida, do México. Esse plano é uma cópia do Plano Colômbia e, de
fato, em seis anos, o México caiu em uma violência atroz. Nesse lapso,
temos o mesmo número de mortos que na Colômbia e a isso devemos somar a
destruição do campo mexicano e da cultura profunda dos povos, com o
Tratado de Livre Comércio que assinou com os Estados Unidos e com o
Canadá.
DESINFORMAÇÃO, ARMA DE GUERRA
- Falemos de outro aspecto fundamental para condicionar os povos, que é a guerra midiática...
- A guerra midiática é parte do projeto
contrainsurgente. Hoje, a desinformação é uma arma de guerra utlizada
para armar um projeto de guerra como aconteceu no Iraque, com a invenção
das armas de destruição massiva, ou com o que aconteceu na Líbia, onde
nunca houve um bombardeio de Gadafi contra a população civil, o que está
totalmente provado. Para controlar o mundo, necessitam controlar a
informação.
- A senhora denunciou o aproveitamento das máfias durante a etapa de esplendor do neoliberalismo...
- Um dos aspectos que temos que
identificar nesse período histórico é a presença mafiosa nos governos.
Os Estados Unidos estão sob o poder de máfias; sempre as usou para seus
jogos. Necessitam da máfia; não podem sobreviver a esse esquema sem ela.
Quem recebe a droga nos Estados Unidos: Onde é recebida? Mas, vem matar
no lado mexicano; porém, por que não se dedicam a pescar do outro lado
aos que recebem a droga? Por que os aviões carregados de droga chegavam
às bases do Comando Sul, na Florida? E não era Manuel Antonio Noriega
quem a mandava, porque ele não tinha nenhuma capacidade de operar com o
Comando Sul. Mentiram de uma forma descarada na invasão do Panamá (em
20/12/1989) e percebi tudo porque eu estava lá. A gênese de todas as
intervenções tem uma mentira por detrás e um aparelho de desinformação,
que agora é mais fácil porque controlam tudo.
A LIDERANÇA DE CHÁVEZ
- Apesar de uma matriz de
manipulação midiática, boa parte das pessoas na América Latina já não
acreditam, e isso pode ser observado em países como a Venezuela, o
Equador, a Bolívia, a Argentina, o Uruguai... Que pensa?
- O que acontece é que não entenderam
que o processo neoliberal iria trazer uma realidade social terrível e as
pessoas começaram a ter um olhar distinto. Isso aconteceu em países
como a Venezuela, com Chávez, cujo povo passou a ser pensante e
consciente.
- Falando da Venezuela, a senhora esteve
recentemente em Caracas. Como está a liderança de Chávez? Tem
possibilidade de reeleger-se em outubro de 2012?
- Sim, tem possibilidade de reeleger-se;
inclusive, os índices de popularidade e de apoio ao seu governo
aumentaram. Vejo que há uma grande consciência nas pessoas com relação
aos alcances positivos do processo político liderado por Chávez. As
coisas e os grandes avanços que foram feitos na Venezuela não são
divulgados; porém, há uma recuperação do sentido de pátria, de defesa,
de dignidade; e a enfermidade de Chávez produziu um apressamento nas
bases para solidificar a unidade e a organização.
- Processos integracionistas que estão
acontecendo na América Latina, como Unasul e Celac constituem uma pedra
no sapato de Washington?
- Sim; qualquer coisa que seja unidade e
integração é uma pedra no sapato. A unidade africana e a intenção que
tinha Gadafi de concretizar uma moeda comum na África incomodam aos
Estados Unidos. São coisas que eles não podem aceitar. Agora, tem uma
América Latina com uns países modelo de algo distinto. No começo, não
davam importância porque sempre os Estados Unidos conseguia interferir;
por exemplo, em processos como o Mercosul. Porém, agora, a coisa é
diferente, e nisso Chávez teve uma presença histórica, porque foi a
cabeça para produzir uma federação distinta. Essa nova integração
política e comercial dos países da América Latina é algo terrível para
os Estados Unidos e, sobretudo, os fatos protagonizados por presidentes
como Chávez e Evo Morales. No caso da Bolívia, Morales retirou a CIA e a
DEA. Desde que a DEA saiu da Bolívia, e isso para os colombianos é
essencial, o país deixou de ter uma violência no índice que tinha;
deixou de morrer gente por conta da suposta guerra contra o
narcotráfico. A embaixada norte-americana contava com um escritório na
casa de governo, junto a do presidente da Bolívia. Quando Evo Morales
assumiu perguntou por uma porta fechada junto ao seu escritório, que
conduzia aos escritórios da DEA e da CIA. Para que saibamos até onde
chegou a ingerência norte-americana sem que os países da América Latina o
soubessem.
O BLOQUEIO A CUBA, DELITO DE LESA HUMANIDADE
- Falemos de Cuba. Hoje, a
revolução cubana não é nenhuma ameaça aos Estados Unidos. No entanto, em
pleno século XXI, como se explica que Washington continue mantendo o
bloqueio econômico à ilha? Não é o caso de delito de lesa humanidade?
- Claro! É um delito de lesa humanidade.
Além disso, tudo o que o bloqueio produziu, as consequências das
agressões (como a guerra química e biológica contra Cuba), a cifra de
doentes, o número de mortes pela dengue hemorrágica, mais a invasão a
Bahia Cochinos, está reconhecido pelo próprio Congresso dos Estados
Unidos. Mas Cuba continua sendo um exemplo de como poder resistir a
noventa milhas do império para manter uma revolução que não quer sair do
socialismo. Em contraste, os Estados Unidos ficaram em mãos de uma
máfia que eles mesmos criaram. Uma máfia cubana que conta com senadores,
representantes, governadores, prefeitos, todos com um passado espantoso
e com relações profundas com o narcotráfico. Tentaram destruir Cuba por
todos os meios, o bloqueio foi feito, inclusive, mais forte; porém, não
puderam asfixiá-la e não creio que consigam.
AMÉRICA LATINA E SEU MELHOR MOMENTO HISTÓRICO
- Com exceção de países como o
México, a Colômbia, o Chile e algumas nações da América Central, a
América Latina está passando por um bom momento histórico, que pensa?
- Historicamente, a América Latina está
passando por seu melhor momento; tem conseguido salvar-se da crise
econômica e mostrar ao mundo que o remédio que estão utilizando na
Europa não serviu para nada; portanto, podemos dizer que estamos à
vanguarda da resistência, com lideranças como as de Chávez, Kirchner,
Evo, Correa que brotaram dentro de um jogo eleitoral que os Estados
Unidos impunham como salvação. Quantas tropas necessitarão para poder
controlar o mundo? O certo é que os Estados Unidos vão a caminho de
afundar. E em relação com a América Latina temos que dizer que nossos
governos não podem mostrar nem um pouquinho de debilidade, porque
qualquer abertura dá pé para que se meta esse poder imperial; temos tudo
para evitar e uma mostra disso é o que aconteceu com a OEA, que já não
tem voz; está falando como um afônico, porque a Unasul a substituiu
mesmo sem ser ainda um organismo totalmente sólido.
Do Pravda
Obs. Imagem ilustrativa adicionada por este Blog Guerrilheiro Virtual.
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