Há os que desgostam do PT, dos petistas e de tudo que fazem com tal
intensidade que qualquer explicação é desnecessária. Apenas têm aversão
profunda pelo que o partido representa.
Alguns a desenvolveram por preferir outros partidos e outras ideias. Mas
são a minoria. Os mais sinceros anti-petistas são os que somente sentem
ojeriza pelo PT. Veem um petista e ficam arrepiados.
Sequer sabem a razão de tanta implicância.
Detestavam o PT quando era oposição — dizendo que era intransigente — e o
detestam agora que está no governo pela razão oposta — acham que é
tolerante demais. Odiavam os petistas quando vestiam camiseta e
discursavam na porta das fábricas. Hoje, os abominam porque usam terno e
gravata e a fazem pronunciamentos no Congresso.
Um dos argumentos que invocam para justificar a birra é capcioso: o mito
da "infância dourada" do PT, quando ele teria sido virginal e puro. O
invocam com o intuito exclusivo de ressaltar que teria perdido algo que,
em seu tempo, não admitiam que tivesse.
O PT abstrato e irreal que criaram é uma figura retórica para denunciar o
PT que existe de fato — que não é menos, nem mais real que os outros
partidos que temos no Brasil e no mundo.
Além desse antipetismo figadal e baseado em pouco mais que um atávico conservadorismo, há outro. Que pretende ser mais sóbrio.
Nestes tempos de julgamento do "mensalão", é fácil encontrá-lo.
Seus expoentes são mais racionais e menos folclóricos. Usam uma lógica que parece sólida.
O que mais os caracteriza é dizer que não discutem os fins e, sim, os
meios do PT. Que não são anti-petistas por definição, mas que repudiam
aquilo que os líderes petistas fizeram para chegar ao Planalto — e
passaram a fazer depois que o partido lá se instalou.
Ou seja, sua oposição não questionaria o projeto petista, mas sua
tática. Não haveria problema no fato de o PT querer estar — e estar — no
poder. Mas em o partido ter usado meios inaceitáveis para lá chegar e
permanecer.
Parece uma conversa bonita. E nada mais é que isso.
No fundo, esse anti-petismo é igual ao outro. Sua aparente sofisticação apenas dá nova roupagem aos mesmos sentimentos.
O que o antipetismo não perdoa em José Dirceu — e outras lideranças que
estão sendo julgadas — não é ter usado "meios moralmente errados" para
alcançar "fins politicamente aceitáveis". Salvo os mal informados, seus
expoentes sabem que o que o ex-ministro fez é o mesmo que, na essência,
fariam seus adversários se estivessem em seu lugar — sem tirar, nem por.
Quem duvidar, que pesquise quem foi e como atuava Sérgio Motta, o popular "Serjão", "trator" nas campanhas e governos tucanos.
(Com ele, não havia meias palavras: estava em campo para garantir — seja
a que preço fosse —, 20 anos de hegemonia para o PSDB — e que ninguém
viesse a ele com a cantilena da "alternância de poder". Não foi por
falta de seu empenho que o projeto gorou.)
O pecado de José Dirceu é ter tido sucesso no alcance dos fins a que se propôs — um sucesso, aliás, notável.
Sem sua participação, é pouco provável que tivéssemos o "lulopetismo" —
um dos mais importantes fenômenos políticos de nossa história, gostem ou
não seus adversários. Sem ele, o Brasil não seria o que é.
Isso é muito mais do que se pode dizer de quase todos os contemporâneos.
Mas é essa a realidade. Enquanto José Dirceu vive sua ansiedade, Sérgio
Motta é nome de ponte em Mato Grosso, anfiteatro em Fortaleza, centro
cultural em São Paulo, praça no Rio de Janeiro, edifício em Brasília,
avenida em Teresina, usina hidroelétrica no interior de São Paulo e rua
na longínqua Garrafão do Norte, nos rincões do Pará.
E de um instituto em sua memória, patrocinado pelo governo federal, que distribui importante prêmio de arte e tecnologia.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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