Segundo uma pesquisa da Mercer, São Paulo é, atualmente, a 12ª cidade
mais cara do mundo. Há alguns dias, a revista inglesa "The Economist"
apresentou um estudo no qual São Paulo aparecia como a 92ª cidade do
mundo no quesito qualidade de vida.
Ficava atrás de cidades como Buenos Aires, Santiago e Lima. A
discrepância entre o que se gasta e o que se tem deveria servir de motor
para uma profunda reflexão sobre o modelo falimentar de desenvolvimento
e planejamento que impera em nossa maior cidade.
Com isso em vista, era de esperar que a campanha para a prefeitura
estivesse embalada pela discussão de programas abrangentes e ousados de
governo. No entanto isso não aconteceu.
O fato é que São Paulo não precisa de um prefeito com mentalidade de
síndico de prédio, com propostas totalmente desconectadas da escala
monumental de seus problemas. Como se algumas ações cotidianas mínimas
pudessem mudar radicalmente a cidade.
Também não precisa de alguém que gosta de participar de eleições sem
nunca apresentar um programa crível, já que acredita que sua simples
presença no embate sirva como garantia para a solução de problemas.
Em momentos críticos de seu desenvolvimento, metrópoles que hoje são
sinônimo de qualidade de vida, como Paris, apelaram para grandes
intervenções urbanas para modificar seu destino. Certamente, São Paulo
precisa de algo parecido.
Nesse sentido, vale lembrar que um dos únicos candidatos a apresentar um
verdadeiro programa de remodelagem da estrutura urbana de São Paulo foi
Fernando Haddad com seu "Arco do Futuro": projeto que visa
descentralizar a cidade por meio de um corredor circular de grandes
avenidas capaz de expandir o centro.
Em qualquer lugar do mundo, os cidadãos teriam o direito de ouvir
análises de outros candidatos a respeito de ideias dessa natureza, seja
combatendo, seja defendendo. Os cidadãos poderiam comparar projetos,
seus custos, resultados e viabilidade. Mas em São Paulo, ao que parece,
quem tem menos ideias e quem tem o discurso mais genérico sai na frente.
Mesmo ideias importantes como a extinção do Tribunal de Contas do
Município a fim de liberar seu custo (R$ 260 milhões) para ações
sociais, como quer Carlos Gianazzi tendem a passar em branco.
Há de perguntar até onde irá essa espécie de consenso mudo em favor do
esvaziamento programático do debate sobre o destino de nossa maior
metrópole. São Paulo merece deixar de aparecer em artigos mundiais sobre
urbanismo apenas como sinônimo de fracasso.
Vladimir Safatle
No Falha
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