O tenente-coronel Wellington Urzêda foi afastado do Comando de Missões
Especiais da Polícia Militar de Goiás. A decisão do governo do estado
foi anunciada após reportagem de CartaCapital mostrar a suspeita de
envolvimento do militar no desaparecimento de 26 pessoas nos últimos 11
anos. Urzêda é suspeito de ser o chefe do grupo de extermínio
responsável pelos crimes.
A suspeita levou a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência a abrir
um processo de investigação contra a PM de Goiás. Pressionado, o
governador Marconi Perillo anunciou na quarta-feira 12 a troca do
comando do grupo militar.
No dia seguinte, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos
Deputados (CDHM) comemorou a decisão. Na semana passada, representantes
da comissão estiveram em Goiânia para tratar da situação de insegurança
no estado. Na ocasião, segundo o presidente da comissão, deputado
Domingos Dutra (PT-MA), Perillo se comprometeu a avaliar a situação do
tenente-coronel com o comando da PM do estado.
Na próxima quarta-feira está prevista uma nova visita da comissão parlamentar à capital goiana.
Segundo a reportagem, Urzêda era a cara da linha-dura policial em Goiás.
Em 25 de setembro de 2007, então comandante da violenta Rondas
Ostensivas Táticas Metropolitana (Rotam), o então major liderou uma
tropa de homens armados e ocupou o plenário e as galerias da Assembleia
Legislativa de Goiás para intimidar o deputado Mauro Rubem, crítico
contumaz da violência policial no estado. Embora seja proibida pelo
regimento interno da Assembleia a presença de armas dentro do
Parlamento, o presidente da Casa, deputado Jardei Sebba (PSDB), não viu
problema na ocupação.
Na época, a reação do governador Alcides Rodrigues foi a de dar mais
força e poder ao aparato policial. Em 3 de outubro, a Rotam passou a
ter mais oficiais, efetivos, armamentos, munições e melhores instalações
físicas. Urzêda, ao invés de ser preso, deixou o comando da Rotam e foi
designado chefe da Comunicação Social da PM de Goiás. Iria, contudo,
passar pouco tempo por lá. Incrivelmente, depois de invadir o
Parlamento, o ex-comandante da Rotam seria nomeado comandante da
Assistência Policial Militar da Assembleia Legislativa.
O ponto de inflexão na questão da violência e da corrupção policial em
Goiás foi a Operação Sexto Mandamento (“Não matarás”), deflagrada pela
Polícia Federal para prender criminosos fardados em todo o País, em
2011. Ao todo, foram presos 19 policiais militares de Goiás, um deles o
subcomandante-geral da PM, coronel Carlos Cézar Macário. As
interceptações da PF demonstraram a existência de uma política de
favorecimento nas promoções do grupo investigado.
Na época, por causa da à fragilidade do presídio militar de Goiânia, os
detentos foram encaminhados para o presídio federal de Campo Grande. Em
14 de junho de 2011, os policiais foram transferidos de volta para a
capital goiana, para a Academia da Polícia Militar, onde foram
ovacionados pela tropa ao chegarem. Em 6 de setembro, um a um começou a
ser liberado por habeas corpus, até que só restasse um preso, o
sargento Geson Marques Ferreira, ex-integrante da Rotam, acusado de
triplo homicídio em Mato Grosso.
Um mês depois, em 23 de dezembro, o governador Perillo criou o Comando
de Missões Especiais, um superbatalhão que incorporou a Rotam, o
Batalhão de Choque e o Grupamento Aéreo. Para comandá-lo foi chamado
ninguém menos que o tenente-coronel Urzêda. Assim, apenas dez meses após
a Operação Sexto Mandamento ter revelado o grau de selvageria da PM de
Goiás, a doutrina repressiva da Rotam foi reafirmada como política de
segurança pública no estado.
Por essa razão, o deputado Mauro Rubem apresentou na Assembleia um
projeto alterando a lei de promoções de oficiais da PM, de forma a
substituir os critérios subjetivos por outros, técnicos e objetivos,
além de vedar a ascensão na carreira àqueles com processos e
condenações criminais. O texto nunca foi votado.
Da CartaCapital
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