Em algumas postagens anteriores eu manifestava otimismo em relação ao
julgamento da 470 – o chamado mensalão do PT. Otimismo decorrente dos
argumentos da defesa dos réus, especialmente a dos caríssimos José
Dirceu, José Genoino e João Paulo Cunha.
Por menos entendido que eu seja do “juridiquês”, deu pra pescar o
basicão na fala dos advogados: nos últimos 7 anos, nem imprensa nem PGR
conseguiram encontrar provas que garantissem as condenações tão sonhadas
pelos anti-petistas de carteirinha. Gurgel pareceu ter seguido as
trilhas, tramas e distorções que jorraram na mídia desde a nefasta
tentativa de derrubar Lula em 2005.
Vários depoimentos de especialistas em Direito Penal dizem que a
acusação é inconsistente, furada tecnicamente. O julgamento só podia
avançar fora da lei. Descontando os editorialistas do PiG, não há um
único jurista que concorde com a tese do promotor.
Aos poucos, então, o julgamento começou a tomar ares duplamente
kafkianos. Primeiro, Joaquim Barbosa metamorfoseou-se. Virou um daqueles
executores mascarados que decapitavam cabeças em praças públicas
medievais. Depois veio O Processo diferenciado. Iniciou-se já com todos
os réus condenados sumariamente. A parte menor do Processo, a defesa dos
réus, foi peça de figurantes. Mal foram ouvidos.
Estamos assistindo a um tribunal de exceção. Criam-se “leis
instantâneas” cada vez que é preciso justificar uma condenação política.
Presumir a culpa vale mais do que prová-la.
O STF tornou-se a casa da Santa Inquisição que condenava bruxas à
fogueira em praça pública. Só mudaram os cenários: as bruxas são os
petistas, a fogueira é a imprensa e o crime é o “País Rico é País Sem
Pobreza” que o governo trabalhista do PT constrói.
A elite paulista não tolera a invasão das suas praias. Desde 2003 vem exigindo providências de seus editores…
Não é preciso mencionar as razões que levaram o STF a marcar o
julgamento para acontecer durante a atual campanha eleitoral. Nem é
preciso dizer o que a imprensa faria com os juizes caso não seguissem o
roteiro ou ousassem absolver os principais réus. Os petistas, claro.
Instalaram-se câmeras no tribunal, abriram-se as cortinas e Joaquim
Barbosa entrou em cena como um pavão ególatra. Distribuiu chiliques
contra os próprios colegas do Supremo que ameaçavam tirar-lhe o papel de
prima-donna e sentou em cima da bola do jogo. Negro que superou todos
os preconceitos e alcançou o topo, Talvez vja neste julgamento sua
consagração e seu lugar garantido na história. Será que é isso mesmo que
pode acontecer? Ou será que o relator vai ser lembrado como o juiz que
vendeu a alma ao PiG e condenou vários pais de família sem provar seus
crimes?
A história dá muitas voltas… mas raramente deixa que a verdade se
esconda por muito tempo. Ao ajoelhar-se para uma mídia que, aliás, é
deliberadamente racista – já que não aceita as cotas para os negros nem
os processos de inclusão promovidos por Lula e Dilma – Barbosa e sua
trupe de excelentíssimas excelências podem ter sentenciado a si mesmos a
prevalecer na história como traidores da pátria.
Uma coisa é eleitor da ultra-direita engolir o PiG de cabo a rabo e sair
por aí relinchando. Outra é um magistrado se fazer de cego para atender
ao golpismo.
Um artigo de Dalmo Dallari – um dos mais, se não o mais respeitável jurista brasileiro, faz uma análise demolidora sobre a participação da mídia e a inconstitucionalidade do julgamento do chamado mensalão do PT. Segue um trecho:
(…) Para que se perceba a gravidade dessa afronta à Constituição,
esses acusados não gozam do que se tem chamado “foro privilegiado” e
devem ser julgados por juízes de instâncias inferiores. E nesse caso
terão o direito de recorrer a uma ou duas instâncias superiores, o que
amplia muito sua possibilidade de defesa. Tendo-lhes sido negada essa
possibilidade, poderão alegar, se forem condenados pelo Supremo
Tribunal, que não lhes foi assegurada a plenitude do direito de defesa,
que é um direito fundamental da cidadania internacionalmente consagrado.
E poderão mesmo, com base nesse argumento, recorrer a uma Corte
Internacional pedindo que o Brasil seja compelido a respeitar esse
direito.
A imprensa, que no caso desse processo vem exigindo a condenação,
não o julgamento imparcial e bem fundamentado, aplaudiu a extensão
inconstitucional das competências do Supremo Tribunal e fez referências
muito agressivas ao ministro Lewandowski – que, na realidade, era, no
caso, o verdadeiro guardião da Constituição.”
Dalmo Abreu Dallari
Jurista, professor emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo
Agora imaginem como ficará o Brasil e o nosso judiciário perante a
opinião pública mundial quando os réus recorrerem a uma Corte
Internacional para para buscarem os direitos que NOSSA Constituição lhes
garante.
Precisamente, na condenação do grupo de réus chamado de “núcleo político
dO Processo”, reside o golpe contra Dilma. Não há outra explicação:
derrotados nas eleições de 2002, 2006, 2010 e provavelmente em 2014,
a direita retrógrada e seu partido midiático organizam um golpe
“paraguaio” para desalojar o PT do governo. E, por sua natureza
predatória e pelos antecedentes, não duvido que estariam dispostos a
apoiar e servir de porta-vozes a uma “tomada do poder pela força”.
Paralelamente à farsa do julgamento da farsa do mensalão, há outros
movimentos nas redações dos barões da mídia. Não é só no Paraguai que se
depõem presidentes com a colaboração imprescindível de sua imprensa. A capa
do último panfleto dos mafiosos da Abril não deixou dúvidas do quanto
serão capazes de mentir. Todo cuidado é pouco. Paraguai e Honduras podem
ter sido meros ensaios para o ataque à nossa Democracia.
Só o voto nas forças progressistas pode desencorajar os golpistas. Como foi em 2006…
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