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quinta-feira, 29 de novembro de 2012

MPF desmente Jornal Nacional: 'delator é um corrupto que denunciou porque não pagaram'

A procuradora da República Suzana Fairbanks, que coordenou a investigação no Ministério Público Federal (MPF) em São Paulo em conjunto com a Polícia Federal, e que resultou na operação Porto Seguro, deu uma explicação que desmente a versão apresentada pelo Jornal Nacional da TV Globo, sobre o papel do ex-auditor do TCU (Tribunal de Contas da União), Cyonil da Cunha Borges de Faria Júnior.
Suzana Fairbanks disse:

“Ele [Cyonil] é um corrupto que sofreu um golpe, porque recebeu um calote do pagamento, não pagaram tudo e ele resolveu denunciar o esquema. Eram R$ 300 mil [o prometido] e ele recebeu R$ 100 mil, e ficou cobrando os outros R$ 200 mil”, destacou.

A investigação da Operação Porto Seguro começou com um inquérito civil público para a apuração de improbidade administrativa. O ex-auditor Cyonil revelou ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal que lhe foram oferecidos R$ 300 mil para que elaborasse um parecer técnico a fim de beneficiar um grupo empresarial do setor portuário que atua no Porto de Santos, a empresa Tecondi (Terminal para Contêineres da Margem Direita), em um contrato com a Companhia Docas de São Paulo (Codesp).

O Jornal Nacional da TV Globo apresentou uma versão inversa dos fatos. Apresentou apenas uma entrevista com o ex-auditor, onde ele adota sua linha de defesa, dizendo ter fingido ser corrupto para recolher provas.

O Jornal Nacional não fez o dever de casa de ouvir o outro lado da notícia, na voz das autoridades, no caso, a procuradora, antes de "vender o peixe" ao distinto público só da defesa.

A própria edição da entrevista veio com forte cheiro de ter sido combinada e direcionada para exploração política oposicionista (pois jogou ao vento o nome do ex-ministro José Dirceu, que não aparece no inquérito, através de ilações, de "ouvir o outro falar, sem ficar muito claro..."). Para quem teve acesso a tal entrevista exclusiva com o ex-auditor, o Jornal Nacional deixou muitos buracos de informação em aberto para esclarecer o telespectador. Cito pelo menos seis:

1) Cyonil disse conhecer Paulo Vieira (considerado o líder da suposta organização criminosa) desde 2002. O bom jornalismo exigiria que a Globo perguntasse como e onde se conheceram, para situar o contexto do relacionamento profissional ou de amizade pessoal entre os dois. Em qual órgão público ou privado, por exemplo? A Globo omitiu.

2) Ele é apresentado como ex-auditor do TCU. Por que ex? Ele está em outro órgão? Foi exonerado por algum motivo? Poderia falar qual?

3) Na entrevista ele diz que reaproximou-se de Paulo Vieira em 2008, para dar uma palestra na AGU por ser especialista em portos. Como é que tornou-se especialista em portos? Trabalhando em alguma empresa? Estudando, fazendo cursos? Puxando todos os casos que caíam no TCU para si?

4) O ex-auditor disse que teve várias reuniões com Paulo Vieira no escritório da presidência da República em São Paulo, aparentemente a partir de 2008 (nem isso a Globo esclareceu). A emissora também "não teve curiosidade" de saber o motivo e o assunto destas reuniões, de novo fundamental para contextualizar a notícia.

5) A Globo também não teve a curiosidade de esclarecer quando foi recebido os 100 mil da propina, em que local, e nem quanto tempo depois disso ele levou para fazer a denúncia na PF. Nem teve a curiosidade de perguntar porque ele não procurou o Ministério Público antes para fazer uma ação controlada, produzindo provas, inclusive registrando o flagrante no recebimento da propina, e facilitando para a Polícia Federal a identificação da origem do dinheiro.

6) Também não explicou exatamente qual a vantagem indevida que a empresa Tecondi teria com o parecer fraudado (motivo da propina), uma informação essencial para entender o todo.

Bom Dia Brasil desmente Jornal Nacional
Que papelão, "dona" Globo!

Até o telejornal "Bom Dia Brasil" do dia seguinte (com audiência muito menor do que o Jornal Nacional), na própria Globo, desmentiu o JN, corrigindo alguns erros. Narrou: "Para o Ministério Público Federal, Cyonil só denunciou porque não recebeu todo o valor combinado. A procuradoria também informou que nos emails e nas gravações não existem registros da participação do ex-ministro José Dirceu".

Trinta anos após o escândalo Proconsult, a edição de ontem do Jornal Nacional mostra que a emissora continua a mesma assanhada com golpes midiáticos contra a soberania popular decidida nas urnas.

(Com informações do Brasil247. A matéria do JN está aqui e a do "Bom Dia Brasil" aqui). 

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