Relação com Lula explica influência de ex-assessora
A influência exercida pela ex-chefe do escritório da Presidência da
República em São Paulo, Rosemary Noronha, no governo federal, revelada
em e-mails interceptados pela operação Porto Seguro, decorre da longa
relação de intimidade que ela manteve com o ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva.
Rose e Lula conheceram-se em 1993. Egressa do sindicato dos bancários, ela se aproximou do petista como uma simples fã.
O relacionamento dos dois começou ali, a um ano da corrida presidencial de 1994.
À época, ela foi incorporada à equipe da campanha ao lado de Clara Ant,
hoje auxiliar pessoal do ex-presidente. Ficaria ali até se tornar
secretária de José Dirceu, no próprio partido.
Marisa Letícia, a mulher do ex-presidente, jamais escondeu que não gostava da assessora do marido.
A ex-servidora do Planalto em SP Rosemary Noronha, em viagem de Lula à Costa Rica, em 2009 |
Em 2002, Lula se tornou presidente. Em 2003, Rose foi lotada no braço do
Palácio do Planalto em São Paulo, como "assessora especial" do
escritório regional da Presidência na capital.
Em 2006, por decisão do próprio Lula, foi promovida a chefe do gabinete e
passou a ocupar a sala que, na semana retrasada, foi alvo de operação
de busca e apreensão da Polícia Federal.
Nesse papel de direção, Rose contava com três assessores e motorista.
Sua tarefa era oficialmente "prestar, no âmbito de sua atuação, apoio
administrativo e operacional ao presidente da República, ministros de
Estado, secretários Especiais e membros do gabinete pessoal do
presidente da República na cidade de São Paulo".
Durante 19 anos, o relacionamento de Lula e Rose se manteve oculto do público.
Em Brasília, a agenda presidencial tornou a relação mais complicada.
Quando a então primeira-dama Marisa Letícia não acompanhava o marido nas
viagens internacionais, Rose integrava a comitiva oficial.
Segundo levantamento da Folha tendo como base o "Diário Oficial", Marisa
não participou de nenhuma das viagens oficiais do ex-presidente das
quais Rosemary participou.
Integrantes do corpo diplomático ouvidos pela reportagem, na condição de
anonimato, afirmam que a presença dela sempre causou mal-estar dentro
do Itamaraty. Na opinião deles, a ex-chefe do escritório da Presidência
em São Paulo não era necessária.
Oficiais da Aeronáutica se preocupavam com o fato de que ela por vezes
viajava no avião presidencial sem estar na lista oficial. Em muitas
vezes, Rose seguia em voos da equipe que desembarca antes do presidente
da República para preparar sua chegada.
Nessas viagens, seguranças que guardavam a porta da suíte presidencial
nas missões fora do Brasil registravam ao superior imediato a presença
da assessora. Oficiais do cerimonial elaboravam roteiro e mapa dos
aposentos de modo a permitir que o presidente não fosse incomodado.
Durante esses quase 20 anos, Rose casou-se duas vezes. Seu primeiro
marido, José Cláudio Noronha, trabalhou na Casa Civil do então ministro
José Dirceu quando Rosemary assumiu o escritório de São Paulo.
Na chefia do gabinete, ela construiu a fama de pessoa de temperamento
difícil. Lula chegou a receber de amigos reclamações dando conta de que
ela tratava mal os funcionários.
Um deles descreveu um episódio em que ela teria pedido para serventes
limparem "20 vezes" o chão do escritório até que ficasse realmente
limpo.
Apesar do temperamento, Rose era discreta e não gostava de contato com a
imprensa. Em algumas festas e cerimônias, controlava a porta de salas
vips, decidindo quem podia ou não entrar. Também costumava se consultar
com o médico de Lula e da presidente Dilma Rousseff, Roberto Kalil.
Rose acompanhou o ex-presidente em algumas internações durante o período
em que este se recuperava do tratamento de um câncer no Sírio-Libanês,
em São Paulo. Mas só pisava no hospital quando Marisa Letícia não
estava por perto.
Na campanha presidencial de 2006, a chefe de gabinete circulou nos
debates televisivos que Lula teve com o tucano Geraldo Alckmin.
Ministros e amigos do ex-presidente não negam o relacionamento de ambos.
Foi de Lula a decisão de manter Rosemary em São Paulo, conforme
relatos de pessoas próximas.
Procurado pela Folha, o porta-voz do Instituto Lula, José Chrispiniano,
afirmou que o ex-presidente Lula não faria comentários sobre assuntos
particulares.
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