Internado desde o último dia 2 de novembro, o arquiteto de renome internacional completaria 105 anos no próximo dia 15. O estado de saúde de Niemeyer piorou muito nesta quarta-feira e, às 21h55, o arquiteto faleceu vítima de complicações renais e desidratação. Velório vai ocorrer no Palácio do Planalto, em Brasília. "O Brasil perdeu hoje um dos seus gênios. É dia de chorar sua morte. É dia de saudar sua vida", disse a presidente Dilma Rousseff em nota; confira algumas de suas obras em nossa galeria de imagens
247 - Chegou ao fim na noite desta quarta-feira, às
21h55, uma vida dedicada à arquitetura. Oscar Niemeyer, de 104 anos,
morreu no Rio de Janeiro, vítima de complicações renais e desidratação.
Ele estava internado desde 2 de novembro no Hospital Samaritano, em
Botafogo, na Zona Sul. Niemeyer completaria 105 anos em 15 de dezembro.
O velório do arquiteto vai ocorrer no Palácio do Planalto, em
Brasília. O enterro, contudo, será no Rio de Janeiro, na sexta-feira. O
corpo de Niemeyer sai do Rio de Janeiro às 10h desta quinta e chega a
Brasília por volta de 12h em avião da FAB. Bombeiros e pioneiros farão a
recepção na cidade.
"Assim que soube da morte de Oscar Niemeyer, a presidenta Dilma ligou
para a viúva, D. Vera, para prestar condolências e colocar o Palácio do
Planalto à disposição da família para o velório, que deve ocorrer nesta
quinta-feira", informou o Blog do Planalto via Twitter poucos minutos
após a confirmação da morte.
A presidente Dilma divulgou nota para homenagear o arquiteto. "O
Brasil perdeu hoje um dos seus gênios. É dia de chorar sua morte. É dia
de saudar sua vida", disse a presidente (leia a íntegra abaixo). O
presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), também telefonou para a
família de Niemeyer e ofereceu o Salão Negro do Congresso Nacional para
as homenagens.
Ao lado da família
O médico intensivista e clínico Fernando Gjorup, que nos últimos anos
foi o médico do arquiteto Oscar Niemeyer, disse que o arquiteto morreu
às 21h55 tendo ao lado membros da família, entre eles netos e sobrinhos.
Segundo Gjorup, "de ontem [4] para hoje [5], o
paciente apresentou uma piora. Os exames de sangue já vinham mostrando
isso. Hoje pela manhã, o estado de saúde piorou ainda mais e ele
precisou da ajuda de aparelhos para respirar", disse. Muito abalado, o
médico declarou que o arquiteto morreu vítima de infecção respiratória.
Gjorup declarou, ainda, que Niemeyer, neste último
mês, onde ficou internado por 33 dias no Hospital Samaritano, nunca
falou em morte, sempre falou da vida. Informou que ele vinha
apresentando sinais de piora dos exames laboratoriais e infecção
respiratória.
"Hoje pela manhã apresentou insuficiência
respiratória, teve que ser entubado e ventilado por aparelho e agora à
noite ele não tolerou e veio a falecer às 21h55".
Leia nota da presidente Dilma Rousseff:
"A gente tem que sonhar, senão as coisas não acontecem", dizia
Oscar Niemeyer, o grande brasileiro que perdemos hoje. E poucos sonharam
tão intensamente e fizeram tantas coisas acontecer como ele.
A sua história não cabe nas pranchetas. Niemeyer foi um
revolucionário, o mentor de uma nova arquitetura, bonita, lógica e, como
ele mesmo definia, inventiva.
Da sinuosidade da curva, Niemeyer desenhou casas, palácios e
cidades. Das injustiças do mundo, ele sonhou uma sociedade igualitária.
"Minha posição diante do mundo é de invariável revolta", dizia Niemeyer.
Uma revolta que inspira a todos que o conheceram.
Carioca, Niemeyer foi, com Lúcio Costa, o autor intelectual de
Brasília, a capital que mudou o eixo do Brasil para o interior.
Nacionalista, tornou-se o mais cosmopolita dos brasileiros, com projetos
presentes por todo o país, nos Estados Unidos, França, Alemanha,
Argélia, Itália e Israel, entre outros países. Autodeclarado pessimista,
era um símbolo da esperança.
O Brasil perdeu hoje um dos seus gênios. É dia de chorar sua morte. É dia de saudar sua vida.
Dilma Rousseff
Presidenta da República Federativa do Brasil
Leia Com pesar, Brasília se despede de seu principal criador, Brasília nasceu na Pampulha, Se vai o imortal Niemeyer e Niemeyer e o Parque Dona Lindu e a história, textos em homenagem a Oscar Niemeyer.
De mente e mãos rápidas, Niemeyer marcou um novo estilo de fazer arquitetura
Renata Giraldi
Repórter da Agência Brasil
Símbolo da vanguarda e da crítica ao conservadorismo de ideias e
projetos, o carioca Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares Filho,
de 104 anos, que morreu na noite desta quarta (5), é apontado como um
dos mais influentes na arquitetura moderna mundial. Os traços livres e
rápidos criaram um novo movimento na arquitetura. A capital Brasília é
apenas uma das suas inúmeras obras espalhadas pelo Brasil e pelo
mundo.Dono de um espírito inquieto e permanentemente em alerta, Niemeyer
lançou frases que ficaram na memória nacional. Ao perder mais um amigo,
ele desabafou: "Estou cansado de dizer adeus". Em meio a um episódio de
mais violência no Rio de Janeiro, perguntaram para Niemeyer se ele
ainda se indignava, a resposta foi rápida e objetiva. "O dia em que eu
não mais me indignar é porque morri."
Em 1934, Niemeyer se formou na Escola Nacional de Belas Artes do Rio
de Janeiro. De princípios marxistas, ele resistia ao que chamava de
arquitetura comercial. Até 2009, ele costumava ir todos os dias ao
escritório, em Copacabana, no Rio de Janeiro. A frequência caiu depois
de duas cirurgias – uma para a retirada de um tumor no cólon e outra na
vesícula. Em 2010, foi internado devido a um quadro de infecção
urinária.
Ao longo da sua vida, Niemeyer associou seu trabalho à ideologia.
Amigo de Luís Carlos Prestes, ele se filiou ao Partido Comunista
Brasileiro (PCB) e emprestou o escritório para organizar o comitê da
legenda. Durante a ditadura (1964-985), ele se autoexilou na França.
Nesse período foi à então União Soviética.
Em 2007, Niemeyer presenteou Fidel Castro, ex-presidente de Cuba, com
uma escultura na qual há uma imagem monstruosa que ameaça um homem que
se defende com a bandeira de Cuba. No mesmo ano, foi alvo de críticas
pelo preço cobrado, no valor de R$ 7 milhões, pelo projeto de construção
da sede do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília.
Independentemente das polêmicas, Niemeyer se transformou em sinônimo
de ousadia com a construção de Brasília. Os cartões-postais da cidade
foram feitos por ele, como a Igrejinha da 307/308 Sul, construída no
formato de um chapéu de freira cuja obra durou apenas 100 dias.
O Palácio da Alvorada, a residência oficial da Presidência da
República, foi o primeiro edifício público inaugurado na capital, em
junho de 1958. Na obra, Niemeyer colocou os pilares na fachada do prédio
para simbolizar o emblema de Brasília.
A sede do governo federal, o Palácio do Planalto, compõe o conjunto
de edifícios da Praça dos Três Poderes onde estão os prédios do Supremo
Tribunal Federal (STF) e o Congresso Nacional – formado por duas
semiesferas simbolizando a Câmara dos Deputados (voltada para cima) e o
Senado (voltada para baixo).
Porém, um dos símbolos mais visitados da capital é a Catedral
Metropolitana. Construída como uma nave, o acesso ao prédio é possível
por meio de uma passagem subterrânea. No teto da igreja, há anjos
dependurados.
Em janeiro deste ano (2012), Niemeyer enterrou a filha Anna Maria, de
82 anos, que morreu em consequência de um enfisema pulmonar, no Rio.
Desde então, segundo amigos, o arquiteto passou a sair menos de casa e
ficou mais fechado.
Do 247
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