Elas contam porque aceitaram o Mais Médicos
Pediatra Beatriz Thome é mestre em saúde pública e já trabalhou em vários países
Duas médicas do grupo de 45 profissionais que passará a atuar em SP revelam porque encararam desafio
FILIPE SANSONE
filpe.sansone@diariosp.com.br
Beatriz
da Costa Thome tem 35 anos, estudou em uma universidade pública da
capital, já trabalhou em Moçambique, Quênia, Congo, Ruanda e Costa do
Marfim, na África, e em Seattle e Nova York, nos Estados Unidos. Agora
ela vai atuar em São Paulo. Kátia Regina Marquinis tem 39 anos, estudou
em uma faculdade pública do interior, trabalhou quase toda carreira na
capital e, em breve, estará em São Bernardo do Campo, na região do ABC.
Ambas
fazem parte do grupo de 45 médicos que passará a atender em setembro na
capital e demais regiões do estado de São Paulo pelo programa Mais
Médicos do governo federal.
A
primeira é pediatra especializada em saúde pública e, a segunda, é
oftalmologista com especialização em uveítes (inflamações em diversas
estruturas do olho, associadas a outras doenças). Apesar das diferenças,
ambas têm algo em comum: a vontade de retribuir a oportunidade de ter
cursado medicina em uma instituição pública prestando atendimento às
camadas mais pobres e vulneráveis da sociedade.
SONHO/ Após
se formar e fazer residência na Escola Paulista de Medicina, Beatriz se
inscreveu em um programa da Universidade de Columbia, dos EUA, para
tratar de crianças em Moçambique, onde 16% da população têm Aids. “Além
de problemas de saúde corriqueiros, me especializei em HIV.”
Foram
quatro anos e, em seguida, a pediatra foi fazer um mestrado nas duas
cidades norte-americanas. Há seis meses ela retornou ao Brasil, mas
retornava à África em viagens esporádicas. Quando soube do Mais Médicos,
não teve dúvida em inscrever-se.
“O SUS é um modelo visto como exemplo no exterior, mas aqui é pouco valorizado. Como trabalhei muito tempo fora, sempre quis ver o sistema de saúde fortalecido no Brasil, que é a nossa solução. É um desafio, mas a saúde precisa chegar a quem vive em locais mais distantes”, diz. Ela escolheu São Paulo pela família, mas a segunda opção era o Distrito Sanitário Especial Indígena do Xingu.
“O SUS é um modelo visto como exemplo no exterior, mas aqui é pouco valorizado. Como trabalhei muito tempo fora, sempre quis ver o sistema de saúde fortalecido no Brasil, que é a nossa solução. É um desafio, mas a saúde precisa chegar a quem vive em locais mais distantes”, diz. Ela escolheu São Paulo pela família, mas a segunda opção era o Distrito Sanitário Especial Indígena do Xingu.
‘Como cidadã brasileira decidi fazer minha parte’Kátia
Regina Marquinis fez medicina na Faculdade de Medicina de Jundiaí, mas,
assim que se formou, veio para São Paulo para cursar o período de
residência no Iamspe (Instituto de Assistência Médica ao Servidor
Público Estadual). Lá, começou a se especializar em cardiologia, mas
resolveu mudar de área e optou, depois, por oftalmologia.
Dentro
dessa especialidade, Kátia se aprofundou em uveítes porque normalmente
há outras doenças associadas à inflamação nos olhos e, por esse motivo,
ela também precisava ter um denso conhecimento de clínica geral, com a
qual tinha afinidade. “Gostei muito da área pois precisava tratar quase
todo tipo de doenças mais comuns, como tuberculose e hipertensão”,
explica.
A
oftalmologista também sempre teve gosto por ensinar e aprender e, por
isso, tornou-se preceptora (professora médica que ensina os residentes)
voluntária do Iamspe. Depois desse período, Kátia foi trabalhar em um
hospital privado com um setor filantrópico (que atende pelo SUS), onde
ela também foi preceptora. “Ali eu percebi a demanda por médicos, as
filas enormes na espera por atendimento”, conta. “Mas era algo que já
vinha me incomodando, sempre tive isso dentro de mim e vi no Mais
Médicos a oportunidade de atender a população mais carente do entorno da
Grande São Paulo. Como cidadã brasileira decidi fazer minha parte
oferecendo meu trabalho a áreas onde há maior vulnerabilidade social.”
Maior parte das vagas não foi preenchida
Lançado em 8 de julho, o Mais Médicos quer melhorar o atendimento no SUS, acelerar os investimentos em infraestrutura nas unidades de saúde e ampliar o número de médicos nas regiões carentes do país. A bolsa federal é de R$ 10 mil. Mas, até agora, só 938 das 15.460 vagas que os municípios informaram precisar foram preenchidas.
Lançado em 8 de julho, o Mais Médicos quer melhorar o atendimento no SUS, acelerar os investimentos em infraestrutura nas unidades de saúde e ampliar o número de médicos nas regiões carentes do país. A bolsa federal é de R$ 10 mil. Mas, até agora, só 938 das 15.460 vagas que os municípios informaram precisar foram preenchidas.
6% das vagas abertas foram preenchidas
Dilma quer médicos das Forças ArmadasA
presidente Dilma Rousseff quer que os médicos das Forças Armadas possam
trabalhar no SUS. O fim da restrição está previsto na PEC aprovada no
Senado na semana passada e agora em análise na Câmara.
Foto: Marcello Palhais/Diário SPKátia vê no programa federal a oportunidade de tratar os mais carentes
Foto: Marcello Palhais/Diário SPKátia vê no programa federal a oportunidade de tratar os mais carentes
Kátia Regina Marquinis fez oftalmologia
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