Embaixador festejou acordo econômico em que os EUA levaram vantagem
sobre o Brasil, graças à espionagem feita pelo governo americano que
revelou as estratégias brasileiras
O jornalista Gleen Greenwald, que revelou as primeiras informações da
rede de espionagem mundial dos Estados Unidos a partir dos vazamentos
do ex-técnico terceirizado da NSA e da CIA Edward Snowden,
afirmou nesta terça-feira (6) que o embaixador dos Estados Unidos no
Brasil, Thomas Shannon, parabenizou a Agência de Segurança Nacional dos
EUA (NSA, na sigla em inglês) pela espionagem feita no Brasil.
De acordo com o jornalista, uma carta de Shannon festeja um acordo
econômico em que os EUA levaram vantagem sobre o Brasil, graças à
espionagem feita pelo governo americano que revelou as estratégias
brasileiras.
Em carta, embaixador dos EUA comemora espionagem no Brasil. Shannon
teria “festejado” acordo econômico em que EUA levaram vantagem sobre o
Brasil, graças à espionagem (Foto: Divulgação)
“Tem uma carta muito interessante assinada por Thomas Shannon onde
ele festeja com a NSA a espionagem que os Estados Unidos fizeram no país
antes de uma conferência internacional onde foi fechado um acordo
econômico. A espionagem deu ao governo amerciano muita vantagem para
saber as estratégias do Brasil”, revelou o jornalista nesta terça em
audiência pública na Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado.
A alegação do regime americano é que a espionagem tem o objetivo de
prevenir e identificar ações terroristas, mas o jornalista refuta a
hipótese. “Desde o 11 de Setembro a desculpa é que os americanos fazem
tudo pela segurança nacional, mas na realidade é o oposto. Há muitos
documentos que não falam em terrorismo ou proteção nacional, mas falam
sobre competição entre empresas, sobre acordos econômicos, sobre levar
vantagem em contratos multilaterais”, disse.
Greenwald também desmentiu a justificativa dada por Thomas Shannon ao
governo brasileiro de que os EUA estariam apenas monitorando
“metadados” – como tempo de ligações telefônicas e destino de e-mails.
“O governo americano tem capacidade de invadir e-mails, não só
metadados. Assuntos que estão sendo discutidos no e-mail, no telefone.
Esse programa é mais poderoso, o mais assustador sistema que já
tivemos”, afirmou.
Segundo o jornalista, a NSA tem acordo com as nove maiores empresas
de comunicação do mundo – incluindo Apple, Microsoft e Google – para ter
acesso aos sistemas dessas companhias. “O objetivo dos Estados Unidos é
eliminar a privacidade do mundo. Esse objetivo não é só teórico, já
está acontecendo. O sistema que está sendo construído tem muito poder
para coletar quase todas as informações trocadas no mundo. O balanço do
poder fica muito desequilibrado quando uma nação sabe tudo o que
acontece em outra nação”, afirmou o jornalista, em breve exposição no
início de audiência pública no Senado.
Greenwald foi procurado pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden para
divulgar documentos que comprovam que vários países, incluindo o Brasil,
estão sendo monitorados pelos Estados Unidos. Snowden é procurado pelas
autoridades americanas pelo vazamento de segredos sobre os sistemas de
monitoramento de telecomunicações do governo e foi provisoriamente
asilado na Rússia, após passar 40 dias refugiado no aeroporto de Moscou.
Greenwald afirmou ainda ao Senado que recebeu cerca de 20 mil
documentos de Snowden relacionados com espionagem. Greenwald, que não
informou sobre o conteúdo dos documentos, fez essa revelação ante a
Comissão de Relações Exteriores do Senado, que o convocou para abordar
as denúncias de espionagem por parte da NSA.
Logo após a denúncia, a diplomacia brasileira cobrou explicações do
governo americano. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota,
afirmou que o país reagiu com “preocupação” ao caso.
O embaixador dos Estados Unidos, Thomas Shannon negou que o governo
americano colete dados em território brasileiro e afirmou também que não
houve a cooperação de empresas brasileiras com o serviço secreto
americano.
Por conta do caso, o governo brasileiro determinou que a Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel) verifique se empresas de
telecomunicações sediadas no país violaram o sigilo de dados e de
comunicação telefônica. A Polícia Federal também instaurou inquérito
para apurar as informações sobre o caso.
Após as revelações, a ministra responsável pela articulação política
do governo, Ideli Salvatti (Relações Institucionais), afirmou que vai
pedir urgência na aprovação do marco civil da internet. O projeto
tramita no Congresso Nacional desde 2011 e hoje está em apreciação pela
Câmara dos Deputados.
Agências
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