O site True Activism
criou uma lista de fatos a respeito da grande mídia de massa
internacional, relacionados a casos recentes envolvendo jornalismo e
poder.
Confira:
1. Grande mídia só existe para dar lucro
Qual o propósito da grande mídia? Dizer que a imprensa existe para
informar, educar ou entreter é como dizer que a função principal da
Apple é fazer com que a tecnologia possa enriquecer nossas vidas. Na
verdade, a indústria de mídia de massa é igual a qualquer outra em uma
sociedade capitalista: ela existe para dar lucro. O MediaLens, site
britânico que critica o jornalismo convencional (ou empresarial), afirma
que todas as empresas, incluindo aquelas que lidam com a mídia, existem
apenas para maximizar o retorno aos acionistas – uma “lei”
universalmente aceita como algo divino, uma verdade incontestável. Sem
agradar os acionistas e um conselho de administração, as empresas de
mídia de massa simplesmente não existiriam. Assim que você entender
isso, nunca mais verá as notícias da mesma forma.
2. Os anunciantes ditam o conteúdo
Como é que a busca do lucro afeta a notícia que consumimos? Corporações
de mídia obtêm a maior parte - geralmente, em torno de 75% - de seu
lucro com publicidade, o que significa que são os próprios anunciantes
que ditam o conteúdo, não jornalistas. E certamente não são os
consumidores. Imagine que você é editor de um jornal de sucesso ou de um
canal de TV com altos índices de audiência. Você atrai receitas de
grandes marcas e corporações multinacionais como a BP, a Monsanto e
companhias aéreas dos Emirados Árabes Unidos. Como poderia, então, lidar
com temas importantes, como alterações climáticas, alimentos
geneticamente modificados ou desastrosos vazamentos de petróleo de uma
forma que fosse honesta com seu público e favorável a seus clientes? A
resposta é simples: não pode. Isso pode explicar porque Andrew Ross
Sorkin, do jornal The New York Times – patrocinado pela Goldman Sachs –,
é tão interessado em defender a corporação. Andrew Marr, correspondente
político da BBC, resume o dilema em sua autobiografia: “A grande
questão é se os limites de publicidade remodelam a agenda de notícias.
Eles fazem isso, claro. É difícil fazer as somas somarem quando você
está chutando as pessoas que assinam os cheques”.
3. Bilionários magnatas e monopólios de mídia ameaçam jornalismo de verdade
A monopolização da imprensa (pequenos grupos de indivíduos ou
organizações que controlam partes crescentes dos meios de comunicação)
está crescendo a cada ano, e isso é um grave perigo para a ética e a
diversidade. A política pessoal neoliberal do magnata da mídia Rupert
Murdoch é repassada por seus 175 jornais e endossada por especialistas
(vide Fox News) nos canais de TV que ele possui, 123 deles só nos EUA.
Qualquer pessoa que não esteja preocupada com a visão de mundo desse
homem sendo consumida por milhões de pessoas em todo o mundo – dos EUA
ao Reino Unido, da Nova Zelândia à Ásia, da Europa à Austrália – não
está pensando suficientemente sobre as consequências.
É um monopólio abrangente, que não deixa dúvida de que Murdoch é um dos
homens mais poderosos do mundo. Mas, como mostrou o escândalo de escutas
telefônicas, ele certamente não é o mais honroso ou ético deles. Assim
como não é Alexander Lebedev, um ex- espião da KGB e político que
comprou o jornal britânico The Independent em 2010. Com tanta influência
(o oligarca bilionário está envolvido em vários setores, desde bancos
de investimentos a companhias aéreas), podemos realmente esperar que a
cobertura de notícias dessa publicação, que já foi respeitada, vá
continuar na mesma linha? Obviamente que não: o jornal que sempre
carregou um banner em sua primeira página declarando-se “livre de
preconceitos político-partidários, livre da influência do dono”,
curiosamente o abandonou em setembro de 2011.
4. Imprensa corporativa está na cama com o governo
Além do óbvio, um dos fatos mais preocupantes que emergiu do escândalo
dos grampos telefônicos de Murdoch foi a exposição de ligações obscuras
entre altos funcionários do governo e magnatas da imprensa. Durante o
escândalo, e ao longo do Inquérito Leveson sobre a ética da imprensa
britânica (ou a falta dela), ficamos sabendo de encontros secretos,
ameaças de Murdoch a políticos que não queriam atender o que ele queria,
e que o primeiro-ministro David Cameron tem uma estreita amizade com o
então editor-chefe do Sun, Rebekah Brooks. Como os jornalistas podem
fazer o seu trabalho de manter os políticos prestarem contas quando eles
estão de férias juntos ou sentam um ao lado do outro em jantares
privados?
Mas o apoio do governo funciona em ambos os sentidos. Cameron tentou
ajudar o filho de Murdoch a vencer uma licitação para a BSkyB, enquanto
que, bizarramente, o belicista ex-primeiro-ministro Tony Blair é
padrinho de filha de Murdoch, Grace. Esse apoio bilateral também garante
uma tendência esmagadora na cobertura de notícias e campanhas
eleitorais, inundando jornais com artigos baratos e fáceis, de fontes
governamentais inquestionáveis. Além da ausência de criticas contra quem
está no poder. Essas conexões secretas também são responsáveis por
grande parte da futilidade incessante da mídia corporativa ao falso
patriotismo, especialmente em períodos que antecedem ataques contra
outros países.
Uma interessante análise da cobertura da atual situação na Síria, pelo
New York Times, por exemplo, demonstra como os jornalistas estão
deixando de refletir sobre o sentimento público a respeito da questão de
um ataque em grande escala contra Assad pelos EUA (Estados Unidos) e
seus aliados.
5. Histórias importantes são ofuscadas por trivialidades
Você poderia ser perdoado por assumir que a parte mais interessante da
situação de Edward Snowden, como denunciante, foi sua viagem de avião de
Hong Kong para a Rússia, ou sua longa temporada de espera em um
aeroporto de Moscou para alguém – ninguém – oferecer-lhe asilo. Isso
porquê, com a exceção do The Guardian, que publicou os vazamentos, em
geral, a mídia tem preferido não se concentrar nas condenatórias
revelações de Snowden sobre liberdade e tirania, mas sim sobre
trivialidades banais – como sua personalidade e antecedentes, se sua
namorada sente falta dele, se ele é realmente um espião chinês, e claro,
nos lembrar do desenho “Onde está Wally?” e como ele cruzou o mundo
inteiro como um fugitivo.
O mesmo poderia ser dito sobre a mudança de sexo de Bradley Manning que,
convenientemente, ofuscou a enorme injustiça de sua sentença. E o que
dizer de Julian Assange? Seu perfil na mundialmente respeitada rede BBC
foi dedicado quase que inteiramente a manchar seu caráter, em vez de
detalhar os profundos impactos do Wikileaks sobre nossa visão do mundo.
Em todos os casos, as principais histórias são desviadas de nossa
atenção, que fica perdida em um mar de curiosidades, e habilmente
retiradas dos problemas reais que temos nas mãos: aqueles que,
invariavelmente, o governo quer que esqueçamos.
6. A grande mídia não faz perguntas
“Verifique suas fontes, cheque os fatos” são regras de ouro do
jornalismo, mas você não iria supor que isso é feito a partir da leitura
da imprensa ou de canais de TV corporativos. Neste momento, Obama está
batendo os tambores para uma guerra contra a Síria. Após acusações dos
EUA e do Reino Unido de que Assad foi o responsável por um ataque
químico contra seu próprio povo, no mês passado, a maioria dos grandes
jornais, como o New York Times, não exigiu provas do ataque em grande
escala. Mas há várias boas razões para que os jornalistas questionem a
história oficial. Em primeiro lugar, o jornal de extrema-direita
britânico The Daily Mail publicou uma notícia, em janeiro deste ano,
sobre vazamento de e-mails de uma empresa de armas britânica, mostrando
que os EUA estavam planejando um ataque químico contra civis na Síria.
Eles, então, culpariam Assad para obter apoio público para uma posterior
invasão em larga escala. O artigo foi rapidamente apagado, mas uma
versão em cache ainda existe.
Veja abaixo a carta:
Outra evidência recente atinge o inacreditável. Verificou-se que os
produtos químicos usados para fazer o gás usados no ataque foram
enviados do Reino Unido, e a inteligência alemã insiste que Assad não
foi o responsável pelo ataque químico. Enquanto isso, um hacker ativista
revelou evidências de envolvimento de agências de inteligência
norte-americanas no massacre, que sugerem que houve uma conspiração
tramada por potências ocidentais. Nâo esqueça dos laços da mídia
corporativa tanto com grandes empresas como com o governo antes de
aceitar o que lhe é dito. Se o jornalismo está morto, você tem o direito
e o dever de fazer suas próprias perguntas.
7. Jornalistas corporativos odeiam jornalistas reais
Michael Grunwald, correspondente do Times, tuitou que não podia esperar
para escrever uma reportagem sobre quando um drone matasse Julian
Assange. O escritor David Sirota sublinhou a ironia do fato: “Aqui temos
a excitação expressa de um repórter sobre a perspectiva de o governo
executar o editor de informações que se tornou a base para algumas das
mais importantes informações jornalísticas da última década”. Sirota
passou a notar vários exemplos do que ele chama de “jornalistas contra o
clube do Jornalismo”, e cita vários exemplos, como o colunista do The
Guardian, Glenn Greenwald, que foi atacado pela imprensa corporativa por
causa dos vazamentos feitos por Snowden.
Andrew Ross Sorkin, do New York Times, pediu a prisão de Greenwald,
enquanto David Gregory, da NBC, declarou que Greenwald tem “ajudado e
instigado Snowden”. Quanto à questão de saber se os jornalistas podem,
de fato, ser francos, Sirota observa precisamente que tudo depende se
suas opiniões servem ou desafiam o status quo, e, assim, passam à lista
da hipocrisia dos críticos de Greenwald: "Grunwald tem dado opiniões
barulhentas que orgulhosamente apoiam os ataques aéreos do governo e de
vigilância. As opiniões de Sorkin promovem os interesses de Wall Street.
David Broder (do The Washington Post) tinha opiniões que sustentavam,
entre outras coisas, a agenda comercial do “livre” serviço corporativo
do governo. Bob Woodward (também do Washington Post) tem opiniões de
apoio cada vez maiores ao orçamento do Pentágono, que enriquece
empreiteiros do setor de defesa. Jeffrey Goldberg (The Atlantic's)
promove o complexo militar-industrial, e geralmente tem opiniões
pró-guerra. Thomas Friedman (New York Times) tem as mesmas opiniões de
todos os outros, promovendo o “livre” comércio, por exemplo. Essas vozes
lealmente promovem os pressupostos não declarados que servem às
estruturas de poder e que dominam a política americana. Todas as suas
opiniões particulares não são sequer tipicamente retratadas como
opiniões, pois geralmente representam "objetividade sem polêmicas”.
8. Má notícia vende, boa notícia é censurada, e fofocas de celebridades são questões importantes
É triste mas é verdade: uma má notícia realmente vende mais jornais. Mas
por quê? Será que estamos realmente tão pessimistas? Será que
saboreamos o sofrimento dos outros? Estamos secretamente felizes de que
algo terrível aconteceu com alguém, que não seja nós? Lendo a imprensa
corporativa como um alienígena em visita à Terra, você poderá achar
isso. Geralmente, a cobertura de notícias é sensacionalista e deprimente
como o inferno, com tantas páginas dedicadas a homicídios, estupros e
pedofilia, mas nenhuma (ou muito poucas) para as centenas de milhares de
boas ações e movimentos incrivelmente inspiradores que ocorrem a cada
minuto de cada dia em todo o planeta.
As razões para consumirmos más notícias é perfeitamente lógica. Em
tempos de paz e harmonia, as pessoas simplesmente não sentem a
necessidade de educar-se, tanto quanto o fazem em épocas de crise. Essa é
uma boa notícia para quem começava a se desesperar com a ideia de que
os seres humanos são apáticos, odiosos e mudos. Poderia-se argumentar
que esse fato preocupante e simples é um grande incentivo para a
indústria da comunicação social para fazer algo que vale a pena. Ela
poderia começar a oferecer um ângulo positivo e de esperança para uma
mudança. Poderia usar períodos obscuros de maior interesse público para
transmitir uma mensagem de paz e de justiça. Poderia refletir o desejo
da humanidade por soluções e nossas preocupações urgentes com o meio
ambiente. Poderia atuar como a voz de uma população mundial que sofreu
bastante com violência e mentiras, para fazer campanha voltada à
transparência, à igualdade, à liberdade, à verdade e à verdadeira
democracia. Venderia jornais? Acho que sim. Poderiam até mesmo defender
alguns políticos em nome do povo. Mas, para o futuro próximo, é provável
que a imprensa corporativa só venha a desviar nossa atenção com outra
foto da bunda da Rihanna, outro rumor sobre os hábitos de Justin Bieber
ou outro artigo sobre Kim Kardashian usando saltos altos com os
tornozelos inchados durante a gravidez.
9. Quem controla a linguagem controla a população
Você já leu clássico romance de George Orwell, “1984”? Ele tornou-se uma
referência-clichê na distopia de hoje, isso é verdade, mas com uma boa
razão. Há muitos, muitos paralelos entre o futuro obscuro e imaginário
de Orwell e nossa realidade atual, mas uma parte importante de sua visão
se concentra na língua. Orwell cunhou o termo “novilíngua” para
descrever uma versão simplista do idioma inglês com o objetivo de
limitar o livre pensamento sobre as questões que desafiam o status quo
(criatividade, paz e individualismo, por exemplo). O conceito de
novilíngua inclui o que Orwell chamou de “duplipensar” – como a
linguagem é construída de forma ambígua, ou mesmo invertida, para
transmitir o oposto do que é verdadeiro. Em seu livro, o Ministério da
Guerra é conhecido como o Ministério do Amor, por exemplo, enquanto o
Ministério da Verdade lida com propaganda e entretenimento. Soa
familiar?
Outro livro que investiga o tema mais profundamente é “Unspeak”, uma
leitura obrigatória para qualquer pessoa interessada em linguagem e
poder e, especificamente, em entender como as palavras são distorcidas
para fins políticos. Termos como “mísseis mantenedores da paz”,
“extremistas” e “zonas livres”, as armas sendo referidas como
“espólios”, ou eufemismos comerciais enganosos como “enxugamento” para
redundâncias e “por do sol” para o extermínio – esses e centenas de
outros exemplos demonstram como a linguagem pode ser poderosa. Em um
mundo de crescente monopolização da mídia corporativa, aqueles que
exercem o poder podem manipular palavras e, portanto, a reação do
público, para incentivar o cumprimento, defender o status quo, ou
provocar medo.
10. A liberdade de imprensa não existe mais
A única imprensa que está atualmente livre (pelo menos por enquanto) é a
publicação independente, sem anunciantes corporativos, conselho de
administração, acionistas ou diretores executivos. Detalhes de como o
Estado redefiniu jornalismo são mencionados no item nº 7, mas o melhor
exemplo recente seria o tratamento do governo ao The Guardian sobre a
publicação dos vazamentos de Snowden.
É bom ressaltar que é possível que esse jornal jogue conosco, assim como
qualquer outro – o Guardian Group não é peixe pequeno, afinal. Por
outro lado deveríamos achar difícil de acreditar que, depois da
publicação dos arquivos da NSA, o editor Alan Rusbridge relatou o que
foi dito pelas autoridades: “você já teve o seu divertimento, agora
devolva os arquivos”; que os funcionários do governo invadiram a redação
e destruíram discos rígidos, ou que o parceiro de Greenwald, David
Miranda, foi detido por nove horas em um aeroporto de Londres sob a Lei
de Terrorismo, e teve apreendidos documentos relacionados com a história
contada pelo colunista?
O jornalismo, lamentou Alan Rusbridge, “pode estar enfrentando uma
espécie de ameaça existencial”. Conforme escreveu o âncora da CBS
Evening News, Dan Rather: “Temos alguns príncipes e condes hoje, mas
certamente eles têm seus equivalentes modernos que buscam gerenciar a
notícia, fazer fatos desagradáveis desaparecerem e eleger os
representantes que estão a serviço de sua própria agenda econômica e
social. A 'imprensa livre' não é mais um fiscal do poder. Ela foi
transformada em parte do próprio aparato de poder”.
Sophie McAdam
No GGN
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