Comemoram-se hoje os 20 anos do Plano Real.
Claro que ninguém
vai deixar de reconhecer que a inflação monetária baixar foi algo bom
para a economia e para a vida cotidiana brasileira.
Mas existe uma
espécie de cinismo nacional que atribui o sucesso do real à
“genialidade” da equipe econômica tucana que, desde o final do Governo
Itamar, o implementou, como se fossem os inventores da roda.
No início dos anos
90, embora a inflação brasileira já estivesse descontrolada por uma
série do abalos em dose para matar elefante – fim do regime militar,
Plano Cruzado, Bresser, Verão, Collor… – não era raro em países do 3°
Mundo processos inflacionários intensos. Com a crise da União Soviética,
o mesmo passou a acontecer nos países do Leste Europeu.
Taxas de inflação
de dois dígitos não eram nenhuma raridade no mundo e países como o
México, a Turquia, Argentina, Polônia e outros beliscaram os três
dígitos. Israel, a do meio milhar. Nós, a casa do milhar.
A globalização
financeira não podia, simplesmente, conviver com moedas tão erodíveis e,
portanto, com tanta insegurança ao capital que, ao entrar nestes
países, de uma forma ou de outra convertia-se em moeda local. Por mais
que as taxas de câmbio variassem, não se emparelha carros em alta
velocidade.
O capitalismo
internacional, portanto, tratou de impor políticas de estabilização
monetária de alcance global, através de seus organismos de intervenção
econômica, nomeadamente o FMI.
Tanto é assim que, quando uma oeda explodia, mesmo na mísera Tailândia, o edifício inteiro sacolejava.
Se a equipe de
Fernando Henrique Cardoso teve um mérito, este foi o de ser uma
competente aplicadora destas políticas, pelas quais os estados nacionais
abriram seu patrimônio ao investimento externo e substituíram a emissão
de moeda pela emissão de dívida em títulos, para fecharem suas contas.
Títulos, aliás, super-remunerados por uma política suicida de taxas de juros escabrosas.
Foi assim que o
Brasil, em apenas oito anos, duplicou seu endividamento em proporção ao
PIB – não se impressione com valores, porque dívida tem relação com a
sua renda, exatamente como ocorre com uma pessoa.
Os juros
estratosféricos cobriam, com vantagem, a defasagem cambial, resultado da
apreciação artificial da moeda brasileira e o capital estrangeiro se
remunerava muito bem, obrigado.
No seu segundo
governo, FHC passou a ter mais dificuldades e o mercado passou a querer
que o Governo, para honrar os juros, passasse, além de emitir dívida,
cortar gastos públicos.
Passamos, então,
àquela situação de um cidadão que corta todas as despesas da família,
arrocha a mesada das crianças, vende os móveis da casa e, no final das
contas, está devendo mais ainda.
O governo Fernando Henrique não sou um “sucesso em política monetária” e um desastre em políticas sociais e de desenvolvimento.
Foram faces da de
um processo do qual estamos saindo há dez anos, levando dele a única
coisa que presta: níveis civilizados de estabilidade monetária.
O resto, os tais
fundamentos econômicos e os “legados” do Real é algo que contém muita
conversa fiada, que a hipocrisia de tanta gente não tem coragem de
apontar.
tijolaço
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