A placa giratória da riqueza
Por Jorge Messias
Por Jorge Messias
O grande problema que se coloca ao Vaticano é o da salvaguarda da própria imagem pública. Por isso mesmo, os papas colocam as Comunicações sociais no centro da suas complexas questões. Porque não têm ilusões. Sabem que as grandes religiões (e não só a católica) lutam com um crescente alheamento religioso por parte das populações. O povoamento disperso rareia, os pobres procuram em vão empregos nas cidades, a pobreza transforma-se em miséria e a miséria em descrença. A religião na sua forma inicial passou a segundo plano.
No pólo oposto, quando os pobres vêm para as cidades e enriquecem (ou aparentam enriquecer) o resultado para as grandes religiões é idêntico. Formam-se fortunas e estas transformam-se em cultos pessoais. O novo-rico vive para si mesmo e para os lucros do seu clã, da sua «família» ou do seu bando – para nada mais. E o proselitismo transforma-se em marketing.
O mal da indiferença também atinge as hierarquias. Os «príncipes das igrejas» cercam-se de cortesãos e acantonam-se nos aposentos doirados dos seus paraísos artificiais do Vaticano, de Jerusalém ou de Riad. Também eles sofreram grandes mudanças. Agora são simplesmente mandantes, políticos, accionistas e gestores. Embolsam as fortunas, controlam os câmbios e dirigem de longe, através dos meios audiovisuais, as obscuras hostes menores do clero secular e do laicado.
Mas a chama íntima da fé, essa ... apagou-se!
Justiça social é ponto de ruptura
Num tão ambíguo quadro geral, toda a actividade milionária do clero mergulha num opaco nevoeiro. Nada é transparente. Mas por vezes há pequenas abertas que deixam entrever a realidade.
Foi o caso de um investigador norte-americano falecido em 1990, Avro Manhattan, em cujos dados podemos confiar, apenas acrescentando à sua intervenção a noção de que foi precisamente nos últimos vinte anos que a Santa Sé mais enriqueceu.
Nessa altura, o Vaticano controlava a maioria do capital dos grandes bancos mundiais, nomeadamente do Bank of America onde detinha 51% da carteira de acções. Ocupava posições idênticas noutros gigantescos grupos financeiros tais como o Rothschih, o Ambros, o Crédit Suisse, o Chase Manhattan, o City Bank, o Morgans, o Bankers Trust, etc. Na grande indústria do petróleo, aço, electricidade, aviação, motores e noutros importantes subsectores da economia americana, era accionista de referência na Gulf Petroleum, na Shell, General Motors, General Electric, Bethlem Steel, Boeing, Lockeed, Curtis Wright, e outras. Grandes fontes dos lucros da Igreja católica vinham ainda dos subsídios do Estado, das isenções de impostos, das mais-valias das ordens religiosas, das vendas de terrenos para a construção, dos jogos de lotarias, da produção de bebidas alcoólicas, da exploração de «paraísos fiscais», da indústria publicitária, dos laboratórios químicos e farmacêuticos, etc., etc. O lobby católico americano era já esmagador. Actualmente, em plena crise financeira, mercê das falência e das operações especulativas das bolsas, o gigantismo católico não cessa de aumentar.
Articulada a esta tremenda rede financeira, o Vaticano dispõe nos EUA (tal como na Europa) de uma extensa malha de colégios privados, hospitais, lares, escolas paroquiais, jardins de infância, universidades, refúgios e dormitórios, estações de rádio e de televisão – todas essas organizações com finalidades lucrativas e subsídios estatais – instituições perfeitamente integradas no modelo norte-americano de «sociedade civil».
Recorde-se, finalmente, que o Vaticano aplica rigorosamente no seu aparelho financeiro as regras da «organização em dominó». Cada acção detida pela Igreja nos principais bancos ou grupos económicos e financeiros valoriza-se à custa das empresas mais pequenas dependentes dos favores do grande capital acumulado. Nessas áreas – geradoras de muitas falências e desemprego – a influência da Igreja expande-se permanentemente.
Afirma A. Manhattan (um outro analista norte-americano): «A igreja exerce controle em todos os sectores da sociedade americana, horizontal e verticalmente. O resultado é que praticamente todas as estruturas dos EUA estão interligadas, directa ou indirectamente, com as estruturas católicas. As consequências dessa interligação assemelham-se às de um velho carvalho abraçado por um parasita vigorosamente saudável».
Em breve veremos aquilo em que tudo isto dá. Nas Américas, na Europa, nas «pátrias do petróleo» enfim, por toda a parte onde a miséria alastra ...
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