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segunda-feira, 15 de agosto de 2011

‘Meus ativos são à prova de idiotas’ diz Eike Batista


Com as fortes quedas no valor de suas ações, as empresas do grupo EBX acumulam perdas de cerca de R$ 32 bilhões desde o início do ano. Na última sexta-feira, elas valiam, juntas, R$ 58 bilhões, segundo dados da Economática. Como tem entre 60% e 75% das companhias, o empresário Eike Batista, que controla o grupo, viu evaporar menos R$ 19 bilhões de sua fortuna em 2011, dos quais R$ 5,2 bilhões apenas este mês. Mas Eike diz não ter perdido o sono e que está rindo da crise. Ele garante que manterá os investimentos de US$ 15 bilhões até 2012 e estima que seu império vai gerar caixa de US$ 15 bilhões até 2015. Hoje, como a maior parte das companhias é pré-operacional, a geração de caixa não chega a US$ 1 bilhão. Eike diz que seu principal trunfo é o baixo custo de produção das empresas. “Os meus ativos são à prova de idiotas”, diz o empresário. Ele aposta que sua EBX, focada em petróleo, energia, minério de ferro, construção naval e logística, será a “Apple do Brasil”.

O GLOBO: Só neste mês, o senhor perdeu cerca de R$ 5 bilhões com a desvalorização das ações que detém do grupo EBX. Isso não tira seu sono?

EIKE BATISTA: Não. Como minhas companhias produzem matéria-prima e (constroem) infraestrutura a baixíssimo custo, minhas margens são muito altas. Elas vão gerar maciços dividendos. Então, por que eu não vendo (as ações)? Estimamos que as empresas do grupo vão gerar US$ 1 bilhão de caixa em 2012. No ano seguinte, serão US$ 2,5 bilhões. Em 2014, vamos para US$ 7,5 bilhões e, em 2015, para US$ 15 bilhões. Tenho entre 60% e 75% das empresas, você pode fazer seu cálculo. Muita gente prefere colocar dinheiro na poupança para ter um retorno de 6%. As minhas companhias são uma espécie de poupança, mas com retorno gigante. Um negócio desse você não vende.

O GLOBO: Mas suas empresas trabalham com ‘commodities’, que estão sujeitas a oscilações internacionais…

EIKE: O Brasil está numa posição muito, muito especial. Eu vou produzir petróleo a US$ 18 (o barril). Pergunta se eu estou preocupado se ele está caindo de US$ 100 para US$ 90. Se cair para US$ 80, tudo bem, who cares (quem se importa, em inglês)? Meu custo de produção de minério de ferro é de US$ 29. O minério chegou a mais de US$ 170 em meio à crise, subiu de preço. Meus ativos são à prova de idiotas porque são muito ricos.

O GLOBO: Da mesma forma que a S&P rebaixou a nota de crédito dos EUA, o senhor não tem medo de ser rebaixado na lista dos mais ricos da revista “Forbes”? (Eike ocupa a oitava posição)

EIKE: Não, porque todo mundo vai baixar junto, né? Quando a maré baixa, mademoiselle, os barcos bonitos, os iates de alto luxo e as canoas baixam.

O GLOBO: O senhor trabalha com um cenário de recessão mundial?

EIKE: Claro que a economia americana não vai crescer mais 3%. Talvez cresça 0,5% ou 1%. A Europa, idem. Mas no Brasil estamos vivendo uma inflação de demanda. Não tem engenheiro, não tem marceneiro. O valor da execução dos projetos (de infraestrutura) estava subindo muito. Então, é um benefício extraordinário para o Brasil que o mundo lá fora não esteja bombando. Vai sobrar gente para eu continuar contratando. Dei um aumento de 8,5% em plena crise para os meus funcionários porque o pessoal está vindo aqui pegar gente da minha empresa.

O GLOBO: Mas os indicadores econômicos americanos estão ruins…

EIKE: Duas indústrias vitais americanas levaram um tiro no coração, o setor imobiliário e o automotivo, que empregam muita gente. Então, estruturalmente, eles vão ter que conviver com desemprego alto. Agora, se eles crescerem 0,5% ou 1%, o mundo não vai acabar. Eles vão ter que passar pelo que nós, brasileiros, passamos entre 1985 e 2000. Tivemos que fazer nosso Proer (programa que socorreu bancos no governo Fernando Henrique) e apertar o cinto. Eles vão ter que passar por isso, a Europa ainda mais.

O GLOBO: De onde virá o crescimento mundial que compensará a desaceleração americana?

EIKE: Existe um mundo que não parou de crescer. Casos de China, Brasil, nossos vizinhos, Malásia, Tailândia. Esses países que não pararam de crescer vão gerar quase 30 milhões de empregos nos próximos anos.

O GLOBO: O senhor acredita, então, que a crise global no Brasil será uma marolinha como disse em 2008 o então presidente Lula?

EIKE: A gente só exporta 10% do nosso PIB. Os preços dos alimentos vão continuar altos. O Brasil tem a sorte de ter o que o mundo necessita, e a demanda por esses produtos não vai baixar. Está todo mundo chamando esse negócio de crise aí fora. Vamos crescer 3% em vez de 4%, e daí? Para conter a inflação, o governo teve que subir os juros para 12,5%, os mais altos do mundo. Isso tem consequências, mas pode ser calibrado depois. O Brasil é um dos únicos países em que o governo teve que usar uma ferramenta tradicional para frear a economia num momento de crise, porque está tudo pegando fogo.

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