Guerrilheiro Virtual

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Imprensa paulista omitindo a informação, de pai para filho, desde 1924

 

Pesquisando o site do Museu da Imigração, que finalmente digitalizou parte de seu acervo, encontrei um periódico, que circulou em São Paulo de finais do século XIX à metade do século XX, com alguns períodos de interrupção, o “Diário Español”.
 
Já havia pesquisado periódicos de imigrantes espanhóis em São Paulo , por conta de minha dissertação de mestrado, sobre a imigração espanhola em São Paulo.
 
Os jornalistas da coletividade espanhola em São Paulo dessa época, tinham o ofício de tipógrafos, muitos trabalhavam na imprensa paulista e paralelamente editavam jornais no idioma espanhol, dirigidos aos imigrantes radicados em São Paulo, uma imprensa alternativa .
 
José Eiras Garcia, tipógrafo e militante pelas causas de seus compatriotas que estavam trabalhando em sistema de semi-escravidão nas fazendas de café, denunciava em seu jornal “Diário Español”, injustiças cometidas por fazendeiros e o abandono desses imigrantes por parte das autoridades consulares da Espanha.
 
Por conta dessas denúncias, sofreu por parte de autoridades diplomáticas espanholas, uma campanha de difamação e um processo da imprensa brasileira por ter defendido em seu jornal a vários espanhóis radicados no interior de São Paulo. Mesmo sem ter encontrado o nome do jornal que processou Eiras Garcia, tenho certeza que foi O Estado de São Paulo, já que era , “A voz dos cafeicultores Paulistas”.
 
Num dos números do “Diário Español”, digitalizado pelo Museu da Imigração encontrei o seguinte editorial:
 
“La Prensa Paulista y la Revolución”
 
O editorialista declara que, na condição de estrangeiro tinha que manter a neutralidade em relação à situação vivida em São Paulo.
 
A situação a que se refere o editorial era a revolta paulista de 1924 :
 
“...No dia 5 de julho de 1924, tropas de São Paulo tentaram promover um movimento de caráter nacional que deveria tomar conta de outras importantes cidades do país. Entretanto, a rebelião liderada por Isidoro Dias Lopes conseguiu acender outros focos somente em Mato Grosso, Amazonas, Pará, Sergipe e Rio Grande do Sul. No estado paulista, a ação tenentista conseguiu tomar pontos estratégicos da capital e atacar o Palácio dos Campos Elíseos, sede do governo estadual. http://www.brasilescola.com/historiab/revolta-paulista-1924.htm
 
Continua o editorial:
 
Mas a imprensa brasileira, principalmente nossos colegas de São Paulo não só podem como devem manifestar suas opiniões, seus pontos de vista sobre os atuais acontecimentos. Em uma palavra, marcar uma linha de conduta e segui-la com dignidade e honradez cidadã.
 
Hoje a imprensa paulista se apresenta como um simples boletim de notícias, que mais do que notícias são rumores, sem um comentário, sem um artigo, que julgamos vergonhosa para a atuação profissional.
 
Os jornais de São Paulo não tem opinião sobre os graves acontecimentos pelos quais o seu país passa e isto não é digno.
 
Que os periódicos manifestem suas opiniões e tragam à luz o sentir do povo é, sem dúvida, um bem para a Nação. (traduzido do espanhol)
 
Parece-nos que estamos vivendo um episódio semelhante no caso do ensurdecedor silêncio da imprensa brasileira sobre os fatos que dominaram as redes sociais na última semana:
 
o livro bomba do jornalista Amaury Ribeiro Jr., “A Privataria Tucana” e a CPI das Privatizações, encabeçada pelo deputado Protógenes Queiroz.
 
Não fosse a blogsfera, o Twitter e as redes sociais, o livro passaria em brancas nuvens e as assinaturas para o pedido da CPI, talvez não chegassem a meia duzia.
 
Porém, não podemos nos contentar com essa importante vitória para a cidadania.
 
O poder da mídia grande é, ainda, imenso frente ao ruído que a mídia alternativa possa fazer, assim como José Eiras Garcia com seu periódico alternativo, atingia a um público bem específico, as mídias alternativas atingem, ainda, apenas os que pensam como ela.
 
 
 
Do Contexto livre

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