Devido a grande quantidade de brasileiros que viviam no exterior estarem retornando ao Brasil, e devido a imensa dificuldade de readaptação e reintegração ao mercado de trabalho brasileiro, o Itamaraty lançou o “Guia de Retorno ao Brasil”, distribuído nas embaixadas.
O sonho de viver nos Estados Unidos ou na Europa está chegando ao fim. Pelo menos para uma parcela dos brasileiros que migraram para lá e que agora, principalmente após a crise mundial, decidiram voltar para a terra natal. Dados do Censo Demográfico 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados no fim de abril, revelam que aumentou o número de imigrantes vindos do exterior para o Brasil.
Entre 2005 e 2010, aproximadamente 286 mil imigrantes internacionais aportaram em terras tupiniquins -- uma alta de 86,7% em relação ao Censo de 2000. Dos 286 mil, 175 mil (o equivalente a 65%) eram brasileiros retornando do exterior. Um número 61% maior do que o apurado entre 1995 e 2000. Outros 88 mil (35%) eram efetivamente estrangeiros natos que decidiram tentar a vida no Brasil.
De voltaO Paraná, assim como São Paulo e Minas Gerais, são os estados que mais receberam este tipo de imigrante (tanto o estrangeiro como o brasileiro que retorna). O demógrafo Wilson Fusco, pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, lembra que as pessoas se dirigem para esses três estados porque da década de 80 até início dos anos 2000 elas saíram justamente dessas regiões para o exterior e, agora, retornam para casa. “O Paraná aparece na lista porque teve muitos filhos de japoneses que foram para o Japão e estão voltando. Minas Gerais, por causa da cidade de Valadares, também foi um estado que mandou muitas pessoas para os EUA e que fazem atualmente o mesmo movimento de retorno. Com São Paulo a questão se repete”, explica. Os imigrantes do exterior que chegaram ao Brasil em 2010 vieram principalmente dos Estados Unidos, Japão, Paraguai, Portugal e Bolívia.
O Paraná recebeu, em 2010, 39 mil imigrantes do exterior, mas a maior soma fica para São Paulo, com a chegada de 82 mil deles. É o caso de Tatiana Sorrente, que voltou para a capital paulista há três anos depois de ficar cinco fora: ela morou na Áustria, onde trabalhou em um hotel, e depois nos EUA, onde trabalhava com turismo. “Quando recebi a notícia de que minha irmã ia casar, voltei. Comecei a pensar nas raízes que tinha no Brasil e resolvi ficar em definitivo”, conta.
A imigração de estrangeiros ao Brasil não aparece com destaque no Censo porque a quantidade ainda é pequena e se diluiu com os números de brasileiros que estão voltando do exterior. “O Brasil tem menos de 1% da sua população formada por imigrantes internacionais. No Canadá, a taxa é de 15%. E ainda, quando a taxa aumentar, é de se desconfiar porque haverá ainda a migração dos filhos de brasileiros nascidos no exterior que estão migrando para cá também”, explica Fusco.
Depois de EUA e Japão, o Paraguai, Portugal e Bolívia foram os países que mais enviaram “estrangeiros” para cá. No caso dos bolivianos mais do que dobrou o número de cidadãos daquele país que se estabeleceram no Brasil.
Exterior já não é mais atraente
É inevitável. Quando se fala em brasileiros voltando do exterior já se sabe que os fatores estão direta ou indiretamente relacionados com a crise financeira mundial e com os abalos naturais que atingiram o Japão. O fato é que a migração ocorre fundamentalmente por uma questão econômica (fora quando ocorre uma guerra ou uma grande seca).
“Uma parte dos brasileiros que estava lá fora trabalhava em empregos precários [como doméstica e pedreiro] e esses são os primeiros a serem cortados quando ocorre uma crise. Por isso, tiveram de voltar”, diz o sociólogo Márcio de Oliveira, da Universidade Federal do Paraná.
O professor Alisson Flávio Barbiere, do Departamento de Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais, observa vantagens no retorno dos brasileiros. “O Brasil se torna competitivo em relação aos países mais desenvolvidos em termos de mão de obra, porque quem retorna costuma vir com um nível melhor de qualificação profissional e vai usar aqui estas habilidades adquiridas”, afirma.
Ao contrário das crises financeiras mundo afora, o Brasil se tornou um país atraente, principalmente entre 2004 e 2005, quando cresceu a taxas bem razoáveis de 6% a 8%. “Essa pujança brasileira também atraiu muita gente que decidiu voltar.”
Questões de fronteira
O Paraguai foi o terceiro país que mais enviou imigrantes ao Brasil. Neste caso, a influência da fronteira é indiscutível, principalmente em Foz do Iguaçu, onde existe um número elevado de paraguaios que cruzam a fronteira diariamente e muitos não voltam para casa. Mas, além disso, houve também uma forte migração de brasileiros para lá – das décadas de 70 a 90 – por causa da grande disponibilidade de terra naquele país. “Havia terra para plantio e era barata. Muitos brasileiros decidiram migrar. Recentemente apareceu a briga entre brasileiros e o MST do Paraguai, mas a verdade é que o movimento de retorno dos agricultores brasileiros ao seu país existe há algum tempo”, explica o professor Alisson Flávio Barbiere, do Departamento de Demografia da Universidade Federal de Minas Gerais.
Vizinhos
De 2000 para 2012, mais do que dobrou o número de bolivianos que vieram ao Brasil. Neste caso em específico, grande parte são de bolivianos natos e não de brasileiros que viviam lá e que decidiram voltar. “Os bolivianos (assim como os coreanos) vão para São Paulo por causa da indústria têxtil. Ao contrário do que se tem divulgado, eles não trabalham numa situação análoga à escravidão. É fato que o trabalho é duro e puxado, mas eles estão lá voluntariamente e em condições melhores que no país de origem”, afirma o pesquisador Wilson Fusco, da Fundação Joaquim Nabuco. (GP).
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