Como Alstom e Siemens subornaram tucanos de São Paulo: testemunha
desvenda esquema de propina do Metrô de São Paulo e do Distrito Federal.
Dinheiro de “caixinha” vinha por meio de duas offshores do Uruguai,
segundo documentos.
Gilberto Nascimento, do Portal R7 via novobloglimpinhoecheiroso
Informações sigilosas de uma importante testemunha vão ajudar a
desvendar um esquema internacional de propina que, segundo denúncias,
teria sido montado no Brasil pelas multinacionais Alstom e Siemens.
Uma figura que acompanhou de perto contratos firmados nos últimos anos
pelas duas empresas com os governos do PSDB em São Paulo e do DEM no
Distrito Federal para a compra de trens e manutenção de metrô passou a
fazer novas revelações e a esmiuçar os caminhos do propinoduto europeu
em direção ao Brasil.
Supostos “acertos” e negociações atribuídos a representantes das duas
companhias estão em um documento elaborado por essa fonte e encaminhado
ao Ministério Público de São Paulo.
Contatada pelo R7, a testemunha – que se identifica apenas como F. e
teme ser fotografada por causa de represálias – dá detalhes de como a
propina chegava ao Brasil por meio de duas offshores (paraísos fiscais),
a Leraway e a Gantown, sediadas no Uruguai, e de como a Alstom e a
Siemens teriam se utilizado da contratação de outras empresas para
encaminhar o dinheiro da “caixinha” a políticos, autoridades e diretores
de empresas públicas de São Paulo e de Brasília.
F. relata esquemas supostamente arquitetados para a obtenção de
contratos da linha 5 do metrô no Capão Redondo, na zona sul de São
Paulo; para a entrega e a manutenção dos trens série 3000 (também
conhecidos como trem alemão) para o governo paulista, além da
conservação do metrô do Distrito Federal.
O deputado estadual Simão Pedro (PT) encaminhará ao Ministério Público
de São Paulo nos próximos dias uma representação pedindo a investigação
das denúncias feitas por F.
Sob investigação na Europa
A francesa Alstom e a alemã Siemens foram alvos de investigações na
Suíça e na Alemanha por causa da acusação de pagamento de suborno a
políticos e autoridades da Europa, África, Ásia e América do Sul.
Somente a Siemens teria feito pagamentos suspeitos num total de US$2
bilhões.
Um tribunal de Munique acusou a empresa alemã de ter pagado propina a
autoridades da Nigéria, Líbia e Rússia. O ex-diretor Reinhard Siekaczek
acrescentou que o esquema de corrupção atingiria ainda Brasil,
Argentina, Camarões, Egito, Grécia, Polônia e Espanha.
Já a propina paga pela Alstom em diversos países – incluindo o Brasil –,
pode ter sido superior a US$430 milhões, de acordo com os cálculos da
Justiça suíça. No Brasil, a empresa foi acusada, por exemplo, de pagar
US$6,8 milhões em propina para receber um contrato de US$45 milhões no
metrô de São Paulo.
A francesa Alstom fabrica turbinas elétricas, trens de alta velocidade e
vagões de metrô. Maior empresa de engenharia da Europa, a alemã Siemens
faz desde lâmpadas até trens-bala. As duas companhias são concorrentes,
mas em determinados momentos na disputa tornavam-se aliadas, conforme a
testemunha.
Para trazer o dinheiro ao Brasil
O esquema para mandar dinheiro ao Brasil via offshore, revela F., conta
com a participação das empresas Procint e Constech, sediadas na capital
paulista e pertencentes aos lobistas Arthur Teixeira e Sergio Teixeira.
As offshores Leraway e Gantown seriam sócias da Procint e da Constech.
F. mostrou cópias de contratos firmados pela Siemens da Alemanha com as
duas offshores. Segundo ele, esses contratos comprovam o envolvimento da
empresa alemã no esquema.
As offshores também teriam sido utilizadas, diz a testemunha, em outros
contratos com empresas como a MGE Transportes, TTetrans Sistemas
Metroferroviários, Bombardier (canadense), Mitsui (japonesa) e CAF
(espanhola).
Há dois anos, parte dos documentos em poder de F. foram enviados para o
Ministério Público de São Paulo e para o Ministério Público Federal.
Promotores confirmaram a veracidade de informações ali contidas. No
entanto, ainda não conseguiram colher o depoimento da testemunha,
localizada agora pelo R7.
O promotor Valter Santin confirmou que o caso já vem sendo investigado,
mas disse que não pode revelar detalhes “por ser sigiloso e envolver
conexões internacionais”.
Documentação
Uma documentação bem mais ampla – só agora exibida ao R7 – foi enviada
por F., em 2008, ao escritório de advocacia Nuremberg, Beckstein e
Partners, da Alemanha. Na época, o escritório atuava como uma espécie de
ombusdman da Siemens.
“Por que a Siemens não investigou as denúncias encaminhadas e por que a
companhia no Brasil foi poupada nas investigações? Não foi por falta de
informação, pois a carta mencionada revelava todos os nomes e detalhes e
incluía provas dos esquemas de corrupção”, avalia F.
Por meio de uma nota, a Siemens diz conduzir seus negócios “dentro dos
mais rígidos princípios, legais, éticos e responsáveis” e afirma não ter
firmado contrato em parceria ou consórcio “com nenhum concorrente no
que tange à manutenção de metrôs”.
Na mesma linha, a Alstom afirmou em um comunicado que segue “um rígido
código de ética, definido e implementado por meio de sérios
procedimentos, de maneira a respeitar todas as leis e regulamentações
mundialmente”. A empresa disse que está colaborando com as investigações
e “até o momento, as suspeitas de irregularidades em contratos não
foram comprovadas e não estão embasadas em provas concretas”.
O Metrô de São Paulo e a CPTM afirmaram, por meio de nota, que
desconhecem os fatos mencionados e esclarecem que os seus contratos
firmados com qualquer empresa “obedecem à legislação específica que
norteia a lisura do processo licitatório, além de serem submetidos ao
Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE)”.
Já o Metrô do Distrito Federal afirmou, em nota, que desconhece as
irregularidades apontadas e que “a licitação foi acompanhada em todas as
suas etapas pelos órgãos de controle externo, em especial o Tribunal de
Contas do Distrito Federal”. Veja a íntegra da nota:
O Metrô/DF desconhece as supostas irregularidades apontadas anonimamente pela reportagem do Portal R7 e, ressalta que:
– O processo de licitação para a manutenção do Metrô/DF (transcorrido em gestão anterior), seguiu a modalidade de licitação de concorrência pública tipo técnica e preço, sendo que no primeiro aspecto as duas empresas finalistas receberam a pontuação máxima;
– No quesito preço, o consórcio Metroman apresentou a melhor proposta (menor preço), vencendo então a licitação;
– A licitação foi acompanhada em todas as suas etapas pelos órgãos de controle externo, em especial o Tribunal de Contas do Distrito Federal;
– O consórcio Metroman vem atendendo satisfatoriamente todas as demandas de manutenção apresentadas pelo Metrô/DF.
Coordenação de Comunicação do Metrô/DF
Clique aqui para ver o vídeo.
Do Amoral Nato
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