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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Juíza-política estreia com ataque a Dilma e Lula

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Candidata ao Senado, Eliana Calmon reclama de que a legislação eleitoral brasileira "é muito esquisita", pois, em sua interpretação, Dilma e Lula, por exemplo, conseguem fazer "campanha antecipada" sem punição; "Pela legislação, eu nem posso dizer que vou ser candidata a senadora... A presidente Dilma e o ex-presidente Lula estão fazendo propaganda claríssima, na televisão, de forma que esta Legislação Eleitoral é uma coisa esquisita. São dois pesos e duas medidas"; Eliana defende necessidade de ampla reforma política, reclama da "injustiça" que a Rede sofreu ao não conseguir registro no TSE e admite que foi 'apadrinhada' pelo ex-senador e ex-governador ACM no início de sua carreira no TJ da Bahia

Bahia 247 - Ex-ministra do Superior Tribunal de Justiça e pré-candidata a senadora pela Bahia, Eliana Calmon (PSB), começa sua caminhada político-partidária com investidas altas, já contra a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula.

Juíza-política reclama de que a legislação eleitoral brasileira "é muito esquisita", pois, em sua interpretação, Dilma e Lula, por exemplo, conseguem fazer "campanha antecipada" sem punição. "São dois pesos e duas medidas".
"Pela legislação, eu nem posso dizer que vou ser candidata a senadora, mas como é que se faz política se a gente não diz o que quer ser? A presidente Dilma e o ex-presidente Lula estão fazendo propaganda claríssima, na televisão, de forma que esta Legislação Eleitoral é uma coisa esquisita. São dois pesos e duas medidas".

Em entrevista ao site Bahia Notícias, Eliana defende necessidade de ampla reforma política no Brasil, reclama da "injustiça" que o Rede Sustentabilidade sofreu ao não conseguir obter registro no Tribunal Superior Eleitoral e admite que foi 'apadrinhada' pelo ex-senador e ex-governador Antônio Carlos Magalhães no início de sua carreira no Tribunal de Justiça da Bahia.

Abaixo os principais trechos e aqui a entrevista completa.

Como está a preparação para a eleição? Já está sendo feito o planejamento de pré-campanha?

Ainda não, porque a minha filiação aconteceu no dia 19 de dezembro, minha aposentadoria no dia 18 e eu não posso lutar em duas frentes. Eu estava com a cabeça totalmente voltada para o Judiciário porque eu queria deixar os processos mais complicados resolvidos. Trabalhei muito, nos últimos dias, e não pensei em política. Depois da filiação, vieram as festas de Natal e Ano novo. Combinamos que, a partir da segunda-feira seguinte, começaríamos. O partido vai alugar uma sala para montar um escritório, já que não podemos ter comitê até junho, de acordo com a Legislação Eleitoral. O que eu acho engraçado é que é tudo muito camuflado. Pela legislação, eu nem posso dizer que vou ser candidata a senadora, mas como é que se faz política se a gente não diz o que quer ser? A presidente Dilma e o ex-presidente Lula estão fazendo propaganda claríssima, na televisão, de forma que esta Legislação Eleitoral é uma coisa esquisita. São dois pesos e duas medidas. Esta não possibilidade de Marina Silva regularizar a Rede de Sustentabilidade, por exemplo, foi algo que, para a Justiça, ficou muito difícil de explicar. Com relação aos partidos, acho que são verdadeiras camisas-de-força para manter o sistema. Precisávamos modernizar esta ritualística eleitoral, pois ela faz parte de um sistema que favorece os candidatos "profissionais". Foi justamente isto que me deu ânimo para enfrentar [as eleições]. Os profissionais chegam à política e não fazem nada ou fazem aquilo que não deveriam fazer e nós ficamos a dizer "não tem candidatos bons, isso é um absurdo!", "Hoje a política é muito feia, só existe corrupção". A pergunta é a seguinte: E você, cidadão brasileiro, fez o quê? Ficou com medo de enfrentar isso? Para quem não é profissional do ramo é muito difícil enfrentar o eleitorado, mas eu acho que nós precisamos começar, senão não muda. A mudança só vem a partir do momento em que tomamos a deliberação de querer mudar.

Quando a senhora tomou a deliberação de querer mudar na política? Quem chegou com o convite primeiro? O próprio PSB ou outros partidos?

O primeiro partido que me fez o convite foi o PTN. Eles me deram uma medalha ao mérito legislativo e depois me convidaram para tomar um café, mas eu não pude ir, pois tinha uma sessão de julgamento. Recebi a medalha e saí antes de a solenidade terminar. Depois, me convidaram para outro encontro, eu fui e eles me fizeram o convite. Naquela época, eu não pensava nisso [candidatar-se a senadora]. Eles insistiram e eu disse que pensaria. O segundo convite veio do PSB. Eu estava na Bahia, quando uma pessoa, através de meu irmão, disse que precisava falar comigo. Esta pessoa disse que Eduardo Campos estava querendo conversar comigo sobre a possibilidade de um convite para se candidatar ao governo do Estado ou ao Senado e que as portas do PSB estariam abertas.

Isto foi quando mais ou menos?

Isto foi antes de junho, antes das manifestações sociais. A partir daí, aconteceram sucessivos convites e eu fiquei assustada. A primeira conversa mais séria que eu tive foi quando o PDT me convidou, através de Cristóvão Buarque [senador pelo DF], e eu disse para ele que eu achava que eu tinha uma popularidade muito periférica: pessoas que lêem jornais e sabem o que é o CNJ. Disse, ainda, que eu achava que não teria uma candidatura que penetrasse no povão. Além disso, que eu ouvia dizer que uma campanha custa milhões e eu estava saindo da Justiça com um patrimônio muito pequeno, não tinha dinheiro para gastar em política, de forma que eu teria de ser carregada pelo partido. Falei também que eu não era mulher para ficar pedindo dinheiro a empresário e ele disse que eu não me preocupasse. Todos me acenavam com a possibilidade de ser muito mais fácil a eleição em Brasília por eu ser mais conhecida, o eleitor ser mais consciente e por não ter municípios. Cristóvão Buarque chegou a dizer "Eu fiz campanha e dormi na minha casa todos os dias. Saía para as cidades satélites e voltava".

Algum outro partido te fez o convite?

O DEM convidou, através do Agripino Maia [senador pelo RN], o PMDB também convidou, inclusive o presidente, Valdir Raupp [senador por RO], esteve comigo. Mas todos eles me empurravam para Brasília e eu comecei a refletir: o que é que eu tenho a ver com Brasília? O fato de ser fácil se eleger? Eu estou querendo partir para uma política diferente e já começaria errando, no primeiro passo, se escolhesse uma cidade que não é minha, onde não tenho raízes. Eu continuo baiana, nunca deixei de ter casa na Bahia, venho constantemente quando estou estressada porque é onde eu consigo me energizar. Então decidi que seria candidata pela Bahia, mas ainda resistindo muito. Depois, vieram os movimentos de junho que me deixaram muito impressionada, com uma vontade de ir para rua. Se os meus netos fossem maiores, eu iria e diria: "Eu tinha que tomar conta dos meninos, por isso que eu fui". Neste momento, eu vi, por meio da TV Senado, quatro gatos pingados discutindo a situação. Entre eles, Cristóvão Buarque juntamente com o Pedro Simon [senador pelo PMDB-RS]. Logo depois, assisti uma longa entrevista de Pedro Simon, na qual ele falava sobre o que vivenciou na República a partir de Ulysses Guimarães [ex-deputado federal pelo PMDB-RJ e líder da Constituinte de 1988]. No final da entrevista, ele criticava alguns políticos e o jornalista perguntou a ele: " Se o senhor tivesse que dar um conselho a um jovem, o senhor diria para ele se envolver na política ou não?" Ele respondeu que diria ao jovem que fosse imediatamente, que ligasse o computador e começasse, nas redes sociais, a fazer política. Ao refletir sobre tudo isto, tomei minha deliberação. Muita gente me reprovou por eu ter vindo para a Bahia. Diziam que eu gostava de coisas difíceis e que seria impossível.

Aqui na Bahia, o DEM dava como certa a candidatura da senhora ligada à oposição. Nas discussões também foi retomado o discurso do juiz Fernando da Rocha Tourinho que disse que a senhora pediu a bênção de Antônio Carlos Magalhães para o STJ. Mas, o ideário do que Eliana Calmon pensa sobre política está mais ligado a um pensamento de direita ou esquerda? Porque a senhora se filiou ao PSB...

Totalmente de esquerda. Embora tenham me ligado muito a Antônio Carlos Magalhães, eu nunca estive ligada a ele. Pelo contrário. Quando eu me candidatei a uma vaga no STJ, me disseram que ele tinha um candidato: Lázaro Guimarães. Todos os políticos me perguntavam: a senhora é da Bahia, porque a senhora não está com Antonio Carlos? Soube que o senador dizia: "Eu não conheço bem esta moça, mas eu só sei que ela não fez nada pelo carlismo". Terminei indo, por um amigo, conversar com Edison Lobão [Ministro de Minas e Energia e senador licenciado pelo PMDB-MA] e Jader Barbalho [senador pelo PMDB-PA]. O Jader disse para mim: "Eu conheço a senhora, a senhora votou contra mim no caso do polígono dos castanhais [que foi um processo contra grilagem], mas eu gosto de juiz correto. Eu vou ajudar a senhora". Eu não acreditei, mas ele ajudou. Durante o processo, o candidato de ACM não entrou na lista de escolhidos, quem entrou fui eu concorrendo com Ellen Gracie, do Rio Grande do Sul. Eu soube que já estava tudo certo para ela ser apresentada como a primeira mulher a entrar no Superior Tribunal de Justiça no dia 8 de março (Dia internacional da Mulher). Segundo Jader, Ellen era a candidata do presidente [Fernando Henrique Cardoso]. Liguei para Edison Lobão e ele disse que apenas uma pessoa desmancharia isso: Antônio Carlos Magalhães. Entrei em contato com Tomás Bacelar, que foi meu professor, expliquei a situação e disse que eu precisava de alguém que chegasse até Antônio Carlos Magalhães e dissesse que, embora eu não fosse a candidata dele, eu era da Bahia. Pedi também a outros amigos que falassem com o senador, mas ninguém me dava resposta. Decidi ligar para ele. Consegui o telefone com Josafá Marinho [ex-senador pelo PFL-BA], liguei a primeira vez, em um domingo, e ele não atendeu. Um dia, de noite, o telefone tocou. "Doutora Eliana, aqui é Antônio Carlos." Eu nem acreditei, pensei que fosse trote. "Está nervosa?", eu respondi: "A alma está saindo pela boca". Ele deu risada e disse "Fique calma, já tomei todas as providências. Não vai sair nada amanhã, vai demorar. Não estou prometendo nada, porque o presidente está irredutível, mas disse a ele que nós precisávamos conversar porque ele tinha um compromisso com a Bahia. Era doutor Lázaro, mas ele não entrou. Então, vamos ver." Foram três meses esperando. Algumas vezes, ele ligava e dizia: "Esta gaúcha está danada, mas estamos no páreo, eu estou insistindo". Neste período, fizeram dossiê contra mim, disseram que eu julgava contra a União e eu tive que fazer um contra-dossiê. Foi um inferno. Finalmente, fui eleita pelas mãos de Jader e Antônio Carlos, porque os dois ficaram unidos. Esta é a história de Eliana unida a Antônio Carlos. Não tive mais nada a ver com ele.

Este apadrinhamento já te prejudicou de alguma maneira?

Fiquei muito preocupada com este apadrinhamento e, no Senado, quando fui sabatinada, disse que achava muito política a escolha de um ministro de um tribunal superior. Disse que o escolhido chegava ao cargo comprometido politicamente e, como tinha muitos interesses para julgar, isto não era bom. Perguntaram se eu havia me comprometido politicamente. Eu disse que não tive compromisso, mas tive padrinhos políticos: Edison Lobão, Jader Barbalho e Antônio Carlos Magalhães. Todos acharam que eu era uma anta política e que eu tinha enlouquecido quando assumi isto. Mas foi o mais certo que eu fiz, pois, a partir dali, eu não podia julgar nada que eles tivessem interesse, já que todo mundo sabia que eles haviam sido meus padrinhos. Antonio Carlos sempre me fez os maiores elogios e muita gente que ia pedir para ele para que eu interferisse em julgamento, ele dizia: "Nem a mim ela atende. É melhor não pedir". Eu joguei as regras do jogo. Eu não poderia ser diferente, senão eu não seria ministra. É diferente de agora. O que eu acho importante para a nação é a gente mudar as regras do jogo e eu sei que não é fácil. Mas a população quer mudança e a maior prova disso foram os movimentos nas ruas. Não estou achando que eu vou ganhar, mas estou colaborando para uma mudança. Se eu não mudar, eu acho que eu apresso o processo e isso é o que basta para mim. No Judiciário, eu sempre fiz isto e quando eu cheguei à Corregedoria, consegui mudar algumas coisas. Este é o meu objetivo nesta campanha.

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