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quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

"Por que os generais não imitam a Rede Globo"

Edição/247 Fotos: Reprodução:
Em artigo para a revista Brasileiros, o jornalista Luiz Cláudio Cunha contrapõe a inércia dos militares ao mea culpa feita pelas Organizações Globo no ano passado em relação à Ditadura Militar Brasileira; no texto, ele questiona a dificuldade do Brasil em debater o seu passado; o autor diz ainda que a mea culpa da família Marinho tem a ver com a pulverização da opinião pública nas redes sociais e cobra uma mudança de mentalidade das Forças Armadas do Brasil; leia o artigo na íntegra 

247 - Em consistente artigo produzido para a revista Brasileiros, o jornalista Luiz Cláudio Cunha, que já ocupou diversos cargos de direção em veículos de imprensa como Veja e Estadão e que foi um dos consultores da Comissão Nacional da Verdade, contrapõe a inércia dos militares ao mea culpa feita pelas Organizações Globo no ano passado em relação à Ditadura Militar Brasileira. O texto é intitulado "Por que os generais não imitam a Rede Globo".

Na texto, Cunha cita, além do reconhecimento da Globo de que errou ao apoiar o golpe militar, o processo de elucidação da morte do ex-presidente João Goulart. Para o jornalista, os dois fatos colocaram em xeque duas forças poderosas na implantação e essenciais na sustentação da ditadura: as Forças Armadas e as organizações Globo.

O artigo questiona, em vários trechos, "o drama de um país que ainda se debate com o trauma de um passado mal resolvido". Para o jornalista, esta questão pode ser medida entre seis homens, "os dois trios que comandam as duas corporações, hoje circunstancialmente apartadas, que representam as duas caras da ditadura que um dia definiram e que juntas defenderam, com a irmandade de parceiros e aliados".

E prossegue: "De um lado, a face risonha do trio global, os irmãos Marinho, filhos do patriarca Roberto Marinho (1904-2003), que herdaram junto com o império de comunicação da Globo a penosa fama de ser o mais importante sustentáculo civil do regime autoritário. De outro lado, a face sisuda, cada vez mais tensa do trio das Forças Armadas, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, que suportam o fardo da instituição armada que, fiel a seu lema de hoje, foi o “braço forte, a mão amiga” da ditadura. Nada ilustra melhor a intimidade entre as duas forças, a global e a fardada, do que a foto emblemática de João Figueiredo, o último dos cinco generais-presidentes do ciclo autoritário, de braços dados com o “doutor” Roberto, conforme o tratamento reverencial dispensado por paisanos ou generais ao comandante em chefe da Globo".

A matéria lembra ainda o tamanho da fortuna dos irmãos Marinho (considerada a família mais rica em todo o mundo no setor de mídia) e relaciona isto com a necessidade de fazer o mea culpa pelo envolvimento com a ditadura. "Justifica, em parte, o mea culpa que a família adota, agora, para um aggiornamento exigido pelos tempos de transparência obrigatória e crescentes demandas de uma opinião pública pulverizada e excitada pelas redes sociais cada vez mais ativistas".

E contrapõe com as Forças Armadas: "A mentalidade dominante dos generais brasileiros, contudo, rechaça qualquer avaliação do passado recente, escorregando pelo raciocínio simplório e fácil do “revanchismo”. Eles ignoram, talvez por razões subalternas, o princípio jurídico internacional de accountability,a devida prestação de contas exigida pelas sociedades que trafegam da ditadura para a democracia. É a justiça de transição que, na definição do Conselho de Segurança da ONU, engloba mecanismos e estratégias, judiciais ou não, para avaliar o legado de violência do passado, atribuir responsabilidades, tornar eficaz o direito à memória e à verdade, fortalecer a democracia e garantir que não se repitam as atrocidades. Estranhamente, os três comandantes das Forças Armadas brasileiras teimam em sufocar o passado, esquecidos de que eles nada têm a ver com os excessos cometidos há mais de 40 anos por militares que mancharam a farda e a história de suas corporações. Preferem ser solidários aos abusos cometidos por camaradas que desrespeitaram a Constituição e até o exclusivo Estatuto dos Militares, em vez de fazer o necessário mea culpa de transcendência e de peso moral que os reconciliaria com a História, com a Nação e com o futuro".

Confira o artigo na íntegra. Clique no link abaixo.

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