Em artigo para a revista Brasileiros, o jornalista
Luiz Cláudio Cunha contrapõe a inércia dos militares ao mea culpa feita
pelas Organizações Globo no ano passado em relação à Ditadura Militar
Brasileira; no texto, ele questiona a dificuldade do Brasil em debater o
seu passado; o autor diz ainda que a mea culpa da família Marinho tem a
ver com a pulverização da opinião pública nas redes sociais e cobra uma
mudança de mentalidade das Forças Armadas do Brasil; leia o artigo na
íntegra
247 - Em consistente artigo produzido para a revista
Brasileiros, o jornalista Luiz Cláudio Cunha, que já ocupou diversos
cargos de direção em veículos de imprensa como Veja e Estadão e que foi
um dos consultores da Comissão Nacional da Verdade, contrapõe a inércia
dos militares ao mea culpa feita pelas Organizações Globo no ano passado
em relação à Ditadura Militar Brasileira. O texto é intitulado "Por que
os generais não imitam a Rede Globo".
Na texto, Cunha cita, além do reconhecimento da Globo de que errou ao
apoiar o golpe militar, o processo de elucidação da morte do
ex-presidente João Goulart. Para o jornalista, os dois fatos colocaram
em xeque duas forças poderosas na implantação e essenciais na
sustentação da ditadura: as Forças Armadas e as organizações Globo.
O artigo questiona, em vários trechos, "o drama de um país que ainda
se debate com o trauma de um passado mal resolvido". Para o jornalista,
esta questão pode ser medida entre seis homens,
"os dois trios que comandam as duas corporações, hoje
circunstancialmente apartadas, que representam as duas caras da ditadura
que um dia definiram e que juntas defenderam, com a irmandade de
parceiros e aliados".
E prossegue: "De um lado, a face risonha do trio global, os irmãos
Marinho, filhos do patriarca Roberto Marinho (1904-2003), que herdaram
junto com o império de comunicação da Globo a penosa fama de ser o mais
importante sustentáculo civil do regime autoritário. De outro lado, a
face sisuda, cada vez mais tensa do trio das Forças Armadas, os
comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, que suportam o
fardo da instituição armada que, fiel a seu lema de hoje, foi o “braço
forte, a mão amiga” da ditadura. Nada ilustra melhor a intimidade entre
as duas forças, a global e a fardada, do que a foto emblemática de João
Figueiredo, o último dos cinco generais-presidentes do ciclo
autoritário, de braços dados com o “doutor” Roberto, conforme o
tratamento reverencial dispensado por paisanos ou generais ao comandante
em chefe da Globo".
A matéria lembra ainda o tamanho da fortuna
dos irmãos Marinho (considerada a família mais rica em todo o mundo no
setor de mídia) e relaciona isto com a necessidade de fazer o mea culpa
pelo envolvimento com a ditadura. "Justifica, em parte, o mea culpa que a
família adota, agora, para um aggiornamento exigido pelos tempos de
transparência obrigatória e crescentes demandas de uma opinião pública
pulverizada e excitada pelas redes sociais cada vez mais ativistas".
E contrapõe com as Forças Armadas: "A mentalidade dominante dos
generais brasileiros, contudo, rechaça qualquer avaliação do passado
recente, escorregando pelo raciocínio simplório e fácil do
“revanchismo”. Eles ignoram, talvez por razões subalternas, o princípio
jurídico internacional de accountability,a devida prestação de contas
exigida pelas sociedades que trafegam da ditadura para a democracia. É a
justiça de transição que, na definição do Conselho de Segurança da ONU,
engloba mecanismos e estratégias, judiciais ou não, para avaliar o
legado de violência do passado, atribuir responsabilidades, tornar
eficaz o direito à memória e à verdade, fortalecer a democracia e
garantir que não se repitam as atrocidades. Estranhamente, os três
comandantes das Forças Armadas brasileiras teimam em sufocar o passado,
esquecidos de que eles nada têm a ver com os excessos cometidos há mais
de 40 anos por militares que mancharam a farda e a história de suas
corporações. Preferem ser solidários aos abusos cometidos por camaradas
que desrespeitaram a Constituição e até o exclusivo Estatuto dos
Militares, em vez de fazer o necessário mea culpa de transcendência e de
peso moral que os reconciliaria com a História, com a Nação e com o
futuro".
Confira o artigo na íntegra. Clique no link abaixo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
”Sendo este um espaço democrático, os comentários aqui postados são de total responsabilidade dos seus emitentes, não representando necessariamente a opinião de seus editores. Nós, nos reservamos o direito de, dentro das limitações de tempo, resumir ou deletar os comentários que tiverem conteúdo contrário às normas éticas deste blog. Não será tolerado Insulto, difamação ou ataques pessoais. Os editores não se responsabilizam pelo conteúdo dos comentários dos leitores, mas adverte que, textos ofensivos à quem quer que seja, ou que contenham agressão, discriminação, palavrões, ou que de alguma forma incitem a violência, ou transgridam leis e normas vigentes no Brasil, serão excluídos.”