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terça-feira, 15 de maio de 2012

NÚMEROS MOSTRAM MAIOR QUALIDADE DA UNIVERSIDADE PÚBLICA


Números mostram que a qualidade de ensino da universidade pública é superior à da particular, pelo menos no centro-sul do país.

 

A quase total ausência de pesquisa faz com que a instituição privada mais se assemelhe a escolas vocacionais, de treinamento, e não a verdadeiras universidades. A superioridade numérica das matrículas em instituições privadas ainda não é gritante, mas será difícil sustentar e expansão que a universidade pública viu na primeira década deste século.

 

Por Maurizio Ferrante

 
Numericamente falando, 2069 a 245: o número de instituições privadas de terceiro grau é quase dez vezes o das públicas. O total de matrículas é, respectivamente, 3.764.728 e 1.232.992, isto é, de cada 100 alunos, 32 cursam a universidade pública . Quanto a concluintes, a proporção pouco se altera, com 26% dos formandos oriundos da universidade pública. Os dados mencionados a seguir se referem sempre a ensino presencial, exceto quando diferentemente especificado.

Os números mostram que a predominância da educação privada sobre a pública não é tão esmagadora como se imagina, o que se deve ao grande esforço do governo Lula que, entre 2001 e 2009, praticamente aumentou em uma vez e meia o número de matrículas. No entanto, não fez nada mais que acompanhar a certa distância a expansão das instituições privadas que, no mesmo período, duplicaram esse indicador. Enfim, em 2009 havia pouco mais de cinco milhões de universitários, em cursos presenciais e quase um milhão a mais, se cursos à distância forem considerados.

MAS E A QUALIDADE? ANALISADA NUMERICAMENTE, COMO SE COMPARA?

Apesar de algumas falhas, muito amplificadas pela imprensa, o Ministério de Educação e Cultura (MEC) está construindo uma estrutura de avaliação que inicia a mostrar sua utilidade. Para o terceiro grau, utiliza o “Índice Geral de Cursos” (IGC) composto pelo resultado do “Exame Nacional de Desenvolvimento Escolar” (ENADE), e pelo “poder de fogo” da instituição, representado pela qualidade do corpo docente, instalações físicas, biblioteca, e que é julgado por avaliações in loco realizadas por comissões de especialistas, bastante sérias, diga-se de passagem. Além do IGC, há notas referentes aos cursos oferecidos por cada Instituição, o CPC. Essa massa de avaliações é transformada em notas indo de um a cinco, que assim aparecem na grande imprensa e, quando conveniente, na propaganda de esta ou aquela instituição.

O que é necessário saber é que o IGC publicado é oriundo de uma aproximação para mais, que acaba comprimindo as notas e dificultando a avaliação comparativa. Por exemplo, a universidade X com nota 1,97 aparece com IGC igual a 3, enquanto a Y, que aparece com o mesmo IGC tem 2,82.

Assim, pesquisando os dados brutos, não os aproximados (“IGC continuado”, na nomenclatura do MEC), obtêm-se a real distância entre as instituições. A Figura 1 compara o “IGC continuado” de Instituições públicas - quadrados, e privadas – losangos; os dados foram publicados em 2011.

O universo aqui representado é relativamente pequeno, são 20 instituições públicas e igual número de particulares, todas da região centro-sul do país, do Rio Grande a Minas Gerais. Isso significa que foram pesquisadas as melhores escolas, localizadas nas regiões economicamente mais abastadas e industrialmente mais produtivas do país. Em outras palavras, a indústria, finanças, serviços e cultura brasileiros dependem em grande parte dos formandos e das atividades de pesquisa dessas escolas.

A figura mostra, claramente, duas nuvens de pontos, bem destacadas e com um mínimo de superposição. De fato, apenas uma instituição pública desceu até ser capturada pela nuvem das particulares. Dessas, três ascenderam à nuvem superior. Adiante serão comentadas algumas particularidades dessas três instituições, que, aliás, numa visão global se encontram entre as melhores do país. Concluindo, a superioridade das Instituições públicas é indiscutível, pese as quatro exceções. 

 
Figura 1 (acima) - Índice Geral de Cursos - IGC continuado - de Instituições de quarenta instituições de ensino do terceiro grau, públicas e particulares, localizadas na região centro-sul do Brasil. [Losangos: públicas; quadrados: particulares].

A Figura 2 (abaixo) - resume uma análise mais detalhada, que focou três áreas do conhecimento: engenharia, ciências humanas e economia. Os dados são de 2009 e os cursos escolhidos são os mais representativos dessas três áreas; assim:

 
Já foi dito que o indicador para cursos específicos, engenharia civil, letras, pedagogia etc. é o CPC – e vale o mesmo raciocínio feito para o IGC continuado e aproximado. Novamente, formam-se duas elipses, mas com maior incidência de superposição.

Nas engenharias, a migração é uma rua de uma só mão: nenhuma Instituição particular ascendeu à elipse superior, mas um bom número de públicas mostrou-se deficiente. A troca de posições é mais acentuada nas ciências humanas compostas por quatro cursos (se considerarmos Direito como ciência humana). A mesma mão de direção é seguida, significando um grande número de Instituições públicas migrando até as posições inferiores da elipse das particulares, com apenas uma dessas percorrendo o sentido inverso.
 
Figura 2 . Distribuição entre Instituições públicas e Instituições particulares, da pontuação CPC estendida referente a cursos de três diferentes áreas do conhecimento: engenharias, ciências humanas e economia. [Losangos: públicas; quadrados: particulares].

Por fim, as ciências econômicas apresentam um panorama diferente; a Figura 2 ressalta claramente a qualidade da Instituição pública, com apenas três pontos fora de sua elipse. É um panorama semelhante ao das engenharias, exceto pela emergência de oito instituições privadas, três das quais próximas ao topo da pontuação, região onde, aplicando a aproximação, todos os cursos teriam o mesmo CPC igual a cinco. A maior resolução do indicador bruto, porém, indica que, em ciências econômicas e administração de empresas, a primazia ainda fica com o sistema público de ensino.

Em resumo, da Figura 2 emergem três panoramas bem distintos:

(i) nas engenharias o desempenho do sistema privado é entre 1,5 e 3,0, resultado muito pouco satisfatório. Deve ser lembrado que esses são cursos que exigem laboratórios e aulas práticas, o que envolve custos, evitados como praga por qualquer negociante. Por outro lado, 20% dos cursos de engenharia ministrados pela universidade pública são deficientes, isto é, tem CPC menor que três.

(ii) Situação semelhante é observada nas ditas ciências humanas. Aqui, a migração para baixo de cursos dados pelas instituições públicas repete a observada nas engenharias: 25%. Uma observação interessante é que a massa de pontos forma uma nuvem mais baixa do que as nuvens correspondentes às engenharias e às "econômicas". Esse é um indicativo do status das ciências humanas que, nos tempos que correm, são consideradas “ornamentais”, desconectadas que seriam com as necessidades do mercado e da indústria.

(iii) Na área econômica, porém, o comportamento surpreende, pois a superposição se dá no sentido privadas → públicas, isto é, aquelas invadem estas. Esse comportamento retoma o mostrado na Figura 1, ou seja, as instituições lá mostradas que emigraram para a nuvem das instituições públicas são todas da área econômica. Certamente, a qualidade dessas escolas particulares de economia e/ou administração espelha o cuidado com que o sistema educacional privado cuida de si mesmo, ou seja, do mundo financeiro e da alta administração e, importante isso, lida com estudantes capazes de pagar altas mensalidades e que exigem ser retribuídos à altura. Pode-se ainda especular que a proliferação dos vários MBA´s de economia e administração, e nos quais, por força estatística, há de muito bons, qualidade [que passa] para os correspondentes cursos de graduação.

Em conclusão, os dados aqui apresentados mostram que a qualidade de ensino da universidade pública é definitivamente superior à da particular, pelo menos no universo educacional do centro-sul do país. Um aspecto positivo foi a constatação que a superioridade numérica das matrículas em instituições privadas ainda não é gritante, mas será difícil sustentar e expansão que a universidade pública viu na primeira década deste século.

Por fim, embora seja preciso admitir que, hoje, a massificação da universidade pública (inevitável verso da valiosa moeda da expansão e democratização de vagas) borrou a distinção entre ela e a particular, ainda há uma grande diferença. Assim, a quase total ausência de altos estudos e pesquisa faz com que a instituição privada mais se assemelhe a escolas vocacionais, de treinamento, e não a verdadeiras universidades.

E quanto à pergunta inicial – a “como estamos?” Bem, não estamos muito atrás da Inglaterra, parece; notícia nem muito recente (Revista Veja, 16/12/2011) nos conta que a “Kroton Educacional” comprou a UNOPAR (Universidade do Norte do Paraná - líder nacional em educação a distância) por R$ 1,3 bilhões. Com essa transação, a “Kroton“ se coloca dentre as maiores organizações educacionais do mundo, com 264 mil alunos e 45 campi em todas as regiões do Brasil. Alguém aqui se preocupa?”

FONTE: escrito por Professor do Departamento de Engenharia de Materiais, na Universidade Federal de São Carlos. Transcrito no site “Carta Maior”  (http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20142). [Imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

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