Eu tenho um primo evangélico que está sendo “treinado” para se tornar pastor da igreja dele. Um belo dia, ele veio aqui em casa e me fez uma pergunta bem estranha:
— E aí, Barros, já encontrou Deus?
— Eu não! Era pra eu tá procurando?
Isso levou a uma conversa já bem comum pra mim: o crente fanático querendo me vender a droga que ele usa. Daí que eu aproveitei que o interlocutor era meu primo — e muito provavelmente não iria me descer a porrada depois que eu não aceitasse a droga oferecida — e testei uma nova abordagem da discussão.
Eu disse a meu primo que iria conversar com ele sobre Deus, desde que ele concordasse em imaginar que eu também estaria sendo abordado, naquele exato momento, por um crente em Lord Brähma. Ele topou. E aí estão os melhores momentos:
— Mas por que você não acredita em Deus, Barros?
— Uai! O cara tá me fazendo lá a mesma pergunta: “Por que eu não acredito no Lord Brähma?”. E tu? Por que não acredita no Lord Brähma?
— Eu creio no único Deus verdadeiro.
— Não perguntei no que você crê. Perguntei por que você não acredita no deus do meu amigo lá do outro lado do Atlântico.
— Porque Deus é único!
— Ó, o cara disse que discorda de você.
— Não faz a menor diferença que ele discorde.
— Pois é: ele disse também que não interessa que você discorde dele. E que foi Lord Brähma o criador do universo.
— Ele pode pensar o que quiser. Deus é o criador do universo e a Bíblia é a sua revelação para a humanidade.
— Mas ele falou a mesma coisa, acredita? Que você pode pensar o que quiser, e que nada vai mudar a verdade. Que, no caso dele, é outra. E que, também, a revelação do deus dele para o povo dele é bem anterior à do seu deus para os hebreus… Que esse “para a humanidade” tá forçando a barra. Qual de vocês está certo, afinal?
— Está certo aquele que está do lado da verdade.
— Qual é a verdade? Deus criou o universo? Ou Lord Brähma criou o universo?
— A verdade está na Bíblia.
— E por que a verdade não está no Mahabharata, por exemplo?
— O que é isso?
— Mas você não sabe? Então que garantia você tem de que a verdade não está nesse texto sagrado e não no seu?
— A garantia que eu tenho é a de que Deus apenas deixou a Bíblia para ser sua forma de comunicação com o homem.
— E se num livro sagrado hindu estiver escrito que outros deuses falsos serão venerados e isso levará uma grande parte da raça humana para o Inferno de Lord Brähma? Você não estaria lascado?
— Barros, não dá pra discutir com quem rejeita a Bíblia como a palavra de Deus.
— E o crente lá da Índia tá dizendo que não dá pra discutir com quem rejeita o Mahabharata e os outros textos sagrados deles como a revelação de Brähma. Não é interessante?
— Só existe um Deus.
— Você, então, não acredita em Lord Brähma…
— Claro que não.
— E por quê?
— Porque não existe outro deus além do Deus vivo!
— Você não toparia estudar alguns textos hindus, frequentar alguns templos onde se pratique o hinduísmo, conhecer a filosofia deles, enfim, você não toparia procurar por alguma revelação de Brähma pra você?
— Não.
— Por quê?
— Não vejo razão para isso.
— Então não me peça pra procurar o seu Deus também. Porque você não vê razão para procurar Brähma, o hindu não vê razão para procurar mais outro deus além dos milhares que eles já têm, e eu não vejo razão para procurar deus nenhum.
Fonte: DeusILUSÃO/ Blog Cultura e Religiosidade
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