"GRÉCIA É UM PROTETORADO DA BANCA"
Por Saul Leblon
“O 'acordo' de ajuste assinado entre Atenas e a troika do euro [FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia] na madrugada de ontem, 3ª feira (21), em Bruxelas, passará à história como o mais draconiano e humilhante exemplo da rendição de um país aos mercados em tempos modernos. O que se deliberou é pior até que os termos devastadores do Tratado de Versalhes, de 1919, que colocou a derrotada Alemanha da Primeira Guerra de joelhos, impondo-lhe reparações equivalentes a 3% de um PIB em frangalhos, ademais de autorizar os saques de fábricas e da então poderosa marinha mercante germânica.
A pilhagem associada à crise mundial de 29 esfarelou a moeda alemã e exauriu a poupança das famílias. O desespero e a hiperinflação pavimentaram a chegada de Hitler ao poder. Em 1933, a ascensão nazista jogou o mundo na Segunda Guerra Mundial.
Negociador pelo lado britânico em Versalhes, Keynes renunciou à missão em protesto contra o massacre. Em 1920, escreveria 'As Consequências Econômicas da Paz', antecipando o desastre em marcha. O que se decidiu em Bruxelas neste 21 de fevereiro de 2012 conecta as gerações gregas do presente e do futuro a um implacável sistema de transfusão que as condena a servir aos credores até a morte. Todo o dinheiro do 'socorro' acertado (130 bilhões de euros) - liberado em troca de demissões em massa, corte de salários e aposentadorias, vendas de patrimônio público, supressão de serviços essenciais e até de medicamentos à rede pública de saúde - não poderá ser tocado pelo Estado grego.
Depositado em conta bloqueada e supervisionada por um diretório do euro, o recurso será destinado, prioritariamente, ao pagamento de juros aos credores. Troca-se, assim, um desconto de 53% sobre papéis que enfrentam desvalorização de mercado superior a isso, por juros sagrados. Ao aceitar a lógica da coação, Atenas renunciou, ainda, à soberania orçamentária. A partir de agora, as contas do país passam à condição de protetorado de uma junta da "troika" sediada fisicamente no coração do Estado grego, com poder de veto sobre decisões de governo.
Dentro de dois meses, a Grécia vai às urnas eleger novo parlamento. A esquerda tem 40% das intenções de voto e mais de um centurião do governo alemão já sugeriu adiar o pleito, para "o bem do ajuste". O que se acertou em Bruxelas na madrugada de ontem, 3ª feira (21), foi ainda pior: a troika arrancou de Atenas a promessa de que o acordo está acima do que decidirem as urnas em abril. Em outras palavras, a elite política grega comprometeu-se, também, a ceder a soberania democrática aos mercados, tornando inalteráveis os termos do arrocho. Ao reduzir uma nação a uma entidade excretora de juros, expropriada de soberania orçamentária e política, Bruxelas, involuntariamente, emitiu a mais pedagógica e contundente convocação à resistência contra a agenda ortodoxa dominante na UE. De agora em diante, fica claro que a escolha é resistir nas ruas ou render-se à servidão financeira.”
FONTE: postado por Saul Leblon no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=895).
Por Saul Leblon
“O 'acordo' de ajuste assinado entre Atenas e a troika do euro [FMI, Banco Central Europeu e Comissão Europeia] na madrugada de ontem, 3ª feira (21), em Bruxelas, passará à história como o mais draconiano e humilhante exemplo da rendição de um país aos mercados em tempos modernos. O que se deliberou é pior até que os termos devastadores do Tratado de Versalhes, de 1919, que colocou a derrotada Alemanha da Primeira Guerra de joelhos, impondo-lhe reparações equivalentes a 3% de um PIB em frangalhos, ademais de autorizar os saques de fábricas e da então poderosa marinha mercante germânica.
A pilhagem associada à crise mundial de 29 esfarelou a moeda alemã e exauriu a poupança das famílias. O desespero e a hiperinflação pavimentaram a chegada de Hitler ao poder. Em 1933, a ascensão nazista jogou o mundo na Segunda Guerra Mundial.
Negociador pelo lado britânico em Versalhes, Keynes renunciou à missão em protesto contra o massacre. Em 1920, escreveria 'As Consequências Econômicas da Paz', antecipando o desastre em marcha. O que se decidiu em Bruxelas neste 21 de fevereiro de 2012 conecta as gerações gregas do presente e do futuro a um implacável sistema de transfusão que as condena a servir aos credores até a morte. Todo o dinheiro do 'socorro' acertado (130 bilhões de euros) - liberado em troca de demissões em massa, corte de salários e aposentadorias, vendas de patrimônio público, supressão de serviços essenciais e até de medicamentos à rede pública de saúde - não poderá ser tocado pelo Estado grego.
Depositado em conta bloqueada e supervisionada por um diretório do euro, o recurso será destinado, prioritariamente, ao pagamento de juros aos credores. Troca-se, assim, um desconto de 53% sobre papéis que enfrentam desvalorização de mercado superior a isso, por juros sagrados. Ao aceitar a lógica da coação, Atenas renunciou, ainda, à soberania orçamentária. A partir de agora, as contas do país passam à condição de protetorado de uma junta da "troika" sediada fisicamente no coração do Estado grego, com poder de veto sobre decisões de governo.
Dentro de dois meses, a Grécia vai às urnas eleger novo parlamento. A esquerda tem 40% das intenções de voto e mais de um centurião do governo alemão já sugeriu adiar o pleito, para "o bem do ajuste". O que se acertou em Bruxelas na madrugada de ontem, 3ª feira (21), foi ainda pior: a troika arrancou de Atenas a promessa de que o acordo está acima do que decidirem as urnas em abril. Em outras palavras, a elite política grega comprometeu-se, também, a ceder a soberania democrática aos mercados, tornando inalteráveis os termos do arrocho. Ao reduzir uma nação a uma entidade excretora de juros, expropriada de soberania orçamentária e política, Bruxelas, involuntariamente, emitiu a mais pedagógica e contundente convocação à resistência contra a agenda ortodoxa dominante na UE. De agora em diante, fica claro que a escolha é resistir nas ruas ou render-se à servidão financeira.”
FONTE: postado por Saul Leblon no site “Carta Maior” (http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=6&post_id=895).
Nenhum comentário:
Postar um comentário
”Sendo este um espaço democrático, os comentários aqui postados são de total responsabilidade dos seus emitentes, não representando necessariamente a opinião de seus editores. Nós, nos reservamos o direito de, dentro das limitações de tempo, resumir ou deletar os comentários que tiverem conteúdo contrário às normas éticas deste blog. Não será tolerado Insulto, difamação ou ataques pessoais. Os editores não se responsabilizam pelo conteúdo dos comentários dos leitores, mas adverte que, textos ofensivos à quem quer que seja, ou que contenham agressão, discriminação, palavrões, ou que de alguma forma incitem a violência, ou transgridam leis e normas vigentes no Brasil, serão excluídos.”