Filósofo afirma que esquema de arapongagem é “coerente” com ações da direção da universidade
Mario Henrique de Oliveira
A classe docente da USP parece não se surpreender mesmo com o esquema de espionagem de alunos e funcionários que a edição de janeiro da revista Fórum revelou, agora foi a vez do professor aposentado do Departamento de Filosofia, Paulo Arantes, fazer sua avaliação sobre o caso. “É curioso, mas totalmente coerente com as medidas até agora implantadas pelo reitor João Grandino Rodas. A reitoria da universidade hoje, toda ela, não só o Rodas, é uma organização criminosa. Tem muito mais coisa a se averiguar”, revela o filósofo.
"Pouco importa a violência, o que importa é que nenhuma vidraça tenha sido quebrada", diz Paulo Arantes
Mesmo dizendo que o esquema de arapongagem surpreende pela ousadia de usar um tipo de estratégia da época da ditadura, Arantes indica por onde uma investigação deveria passar. “O grande problema hoje é saber o que acontece com o orçamento da USP, o que a reitoria faz com ele. A maior universidade do país nada em dinheiro, mas não contrata, não faz nada a não ser serviços de zeladoria dentro do campus. Por que isso?”, questiona. “O esquema da arapongagem é mais um elemento na luta contra a reitoria, pois evidencia mais uma de suas ferramentas, mas gostaria de ver uma investigação sobre o dinheiro”, completa ele.
Arantes até levanta a suspeita de que Rodas pudesse ter facilitado o acesso aos documentos que provam as espionagens. “Não sei como vocês (da Fórum) conseguiram esses documentos, mas não duvidaria que ele, de alguma maneira, tivesse facilitado que isso fosse encontrado. É mais uma provocação dele e o Rodas vive de provocar”, fala.
Para o filósofo não é novidade alguma que alunos e funcionários são constantemente fotografados durante assembleias, até porque, pelo número de pessoas presentes, fica difícil o controle. No entanto, ele alerta para quando as reuniões são menores. “Há grampos, e com isso tem que se tomar cuidado.”
Arantes diz que a sociedade hoje vive em uma “paranoia de segurança”, o que contribui e facilita ações, não só como as de Rodas, mas também outras como a operação na Cracolândia e no Pinheirinho. “Hoje, quem está no poder tem que dar uma satisfação sobre a segurança, mostrar serviço e que ele está zelando pelo bem comum. A questão é que, ao contrário dos tempos da ditadura, hoje não existe mais a chamada subversão, apenas propriedade privada. Quando dizem que estão perturbando a ordem, se referem apenas a ordem patrimonial”, afirma o professor. “Quem me dera fazer parte de um partido que realmente ameaçasse o capitalismo como alegam. Quanto a isso, nós estamos comendo poeira ainda”, fala ele, sobre as justificavas das ações policiais.
O filósofo continua dizendo que a polícia nada mais faz do que o seu papel na sociedade atual, que é o de vigiar, controlar e reprimir e que todos movimentos hoje, seja de quilombolas, sem teto, de camponeses ou indígenas, todos constantemente monitorados. “Desde quando a polícia foi criada, já era dito que ela atuaria à margem da lei e que toda ação policial seria um ato de exceção. Estão apenas continuando isso”, finaliza Arantes.
O que a USP diz
A reportagem do SPressoSP procurou a reitoria da Universidade de São Paulo para que pudesse responder às acusações do professor Paulo Arantes. Por meio de sua assessoria de imprensa, a reitoria nos enviou a seguinte nota:
“Anualmente, a Comissão de Orçamento e Patrimônio submete ao Conselho Uníversitário, órgão máximo da Instituição, a proposta de diretrizes para aplicação dos recursos da USP no exercício seguinte. Essa proposta é baseada na análise da execução do orçamento vigente, nas informações e sugestões obtidas junto às Unidades de despesa da USP sobre suas necessidades específicas e nas contribuições dos membros do Conselho Universitário e dos órgãos da Administração da Universidade. As diretrizes orçamentárias tem como objetivo a destinação de recursos a atividades consideradas prioritárias para a realização dos objetivos da Univesidade, a modernização institucional, o desenvolvimento de novas atividades e o fortalecimento de sua inserção na sociedade. As diretrizes orçamentárias 2012, bem como a destinação do orçamento por áreas, estão disponíveis para o acesso público no site da Coordenadoria de Administração Geral (Codage), no endereço www.usp.br/codage.”
Do SpressoSP
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