Via Correio da Cidadania
Será que as esquerdas em geral estão dispostas a enfrentar seus próprios paradoxos na questão socioambiental?
Roberto Malvezzi (Gogó)
Mirando a Rio+20, as esquerdas em geral fazem uma ácida crítica da “economia verde”. Por detrás das palavras mágicas, de tecnologias inovadoras, está também o objetivo claro de privatizar e mercantilizar os bens naturais como água, solos, ar e biodiversidade. Portanto, não há dúvida que o capital lança suas garras sobre o patrimônio que é bem comum da humanidade e de todos os seres vivos.
Mas, será que as esquerdas em geral estão dispostas a enfrentar seus próprios paradoxos na questão socioambiental? Aparentemente se diz que sim. Então, damos por pressuposto que as esquerdas em geral, mais de origem marxista, estão dispostas a reconhecer os imensos territórios indígenas, de quilombolas, de comunidades tradicionais, do Brasil e da América Latina, mesmo que eles contenham imensas riquezas, como minérios, petróleo, potencial hidrelétrico, madeira, assim por diante. As esquerdas reconhecem que esses povos tem o direito de “dormir” sobre essa riqueza sem que ela seja explorada.
Outro caso exemplar, o Pré-sal. Sabidamente as energias fósseis estão poluindo o planeta e elevando a temperatura global. As consequências já são terríveis em grande parte do globo terrestre, particularmente nos meios mais pobres e tende a se agravar conforme o aumento da temperatura média da Terra. Nesse caso, as esquerdas, de forma consequente, serão contra a exploração do Pré-sal e concordarão que o melhor lugar desse petróleo é o lugar onde ele está, numa evidente negação da “realpolitik”.
Claro que regra geral nos posicionaremos contra as mudanças no Código Florestal, lutaremos contra os agrotóxicos, proporemos uma agricultura orgânica, daremos prioridade ao abastecimento humano no uso da água doce, optaremos pelo transporte público, nos esforçaremos para que as energias com menos emissão de CO2 como eólica e solar sejam implantadas com benefícios e participação do povo como produtor, não apenas como consumidor.
Em alguns pontos nossa concordância é pacífica. Em outros, nossos paradoxos permanecem fantasmagóricos.
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