O candidato do PSDB à sucessão de Gilberto Kassab (PSD), José Serra,
reforçou ontem a tentativa de se descolar da imagem do atual prefeito,
cuja administração é rejeitada por 48% dos eleitores paulistanos de
acordo com pesquisa Datafolha.
Kassab, que é aliado do tucano, foi eleito vice de Serra em 2004 e
assumiu a prefeitura quando ele deixou o cargo para concorrer ao governo
de São Paulo, um ano e três meses depois da posse.
"O Kassab assumiu porque era meu vice. Completou meu mandato, foi
eleito, ganhou por 61% contra 39% da Marta Suplicy [PT]. A partir daí,
desenvolveu o seu mandato", afirmou em entrevista ao "SPTV", da TV
Globo.
Com as declarações, Serra tenta separar os dois mandatos de Kassab e se
desvincular do segundo, que é mal avaliado pelos paulistanos. Diz que,
quando o prefeito continuou sua gestão, foi "superaprovado", mas tenta
dividir com o eleitor a responsabilidade por seu segundo período na
prefeitura.
Quando foi reeleito em 2008, Kassab recebia avaliação boa ou ótima de
61% dos eleitores. Segundo a última pesquisa Datafolha, esse índice
agora caiu para 20%.
A avaliação de tucanos é a de que os eleitores veem Serra como o
responsável pelo desempenho de Kassab. Por isso, ele tem se esforçado
para dar "autonomia" ao segundo mandato do prefeito.
Ontem, Serra creditou a rejeição a Kassab "ao fato de que ele passou a
criar um partido político". "As pessoas identificaram: 'Ah, está criando
partido, não está preocupado com a cidade'. Não é verdade, mas passou
essa imagem porque o prefeito tem imagem de síndico".
Eleito pelo DEM, Kassab foi o principal articulador da criação do PSD em 2011.
O candidato à Prefeitura de SP José Serra (PSDB) fala ao lado de FHC em evento no Cinema Reserva Cultural
Em debate anteontem, após ser questionado sobre o fato de 85% dos
eleitores esperarem ações diferentes do próximo prefeito, Serra já havia
reconhecido que "o paulistano quer mudanças". "O que eu me proponho é
ser o prefeito da mudança", disse.
FERNANDO HENRIQUE
Ontem, em ato com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB),
Serra voltou a dizer que a cidade está melhor do que a avaliação que
recebe dos paulistanos.
O candidato disse que a eleição é tempo em que os problemas são tratados como catástrofes e que é preciso rebater a percepção.
O encontro foi organizado para divulgar sua candidatura para
intelectuais e artistas. FHC, anfitrião do ato, fez um discurso repleto
de ataques velados ao mensalão e à corrupção no Brasil para defender
Serra como sinônimo de "recuperação da moral".
"Depois de vários anos que o Brasil conquistou a democracia, conseguiu
avanços econômicos e avanços sociais, essa mesma democracia começa a ser
minada por dentro", afirmou.
"O momento vai além do banal. Mas nós temos, ao mesmo tempo, uma
possibilidade de recuperação. É também o momento da recuperação moral",
concluiu.
O candidato falou depois. Citou o mensalão, mas não vinculou o caso à
candidatura de Fernando Haddad (PT), como tem feito em sua propaganda
eleitoral.
Confessou ainda ter sido "surpreendente" ver o caso se desenrolar no STF
(Supremo Tribunal Federal). "Nós estamos vendo virtudes saírem de onde
não se esperava. Não esperava que a coisa chegasse a esse ponto em
matéria de ação do Judiciário." (PAULO GAMA E DANIELA LIMA)
Da Folha
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