O jornalista Fernando Rodrigues, da Folha, não morre de amores pelas
forças de esquerda. Muito pelo contrário. Mas ele tem o mérito de mexer
com números, tabelas, dados concretos. Quando expõe o resultado destes
estudos, sem partidarizar os seus textos, ele ajuda na complexão da
realidade. Com base nestas pesquisas, ele hoje concluiu que o PT e o PSB
foram os vencedores do primeiro turno das eleições municipais e que o
PSDB saiu do pleito fragilizado. Vale conferir o seu "balanço
preliminar":
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O PT e o PSB saem mais fortes das eleições municipais. Embora menor
em tamanho, e até por isso conseguiu avançar mais, o PSB teve mais
sucesso do que o PT.
O PSDB está mais frágil. Poderá minimizar esse fato com vitórias em
disputas de segundo turno para as quais a legenda se qualificou –
sobretudo em São Paulo.
Partidos que perderam em tamanho e devem fazer uma autocrítica: PMDB,
PP, PDT, PTB e DEM. O Democratas é o que enfrenta a maior crise, pois
perdeu mais de 200 prefeituras e quase 5 milhões de votos se comparado
ao que obteve em 2008.
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O festival de besteiras dos "calunistas"
A conclusão de Fernando Rodrigues deveria servir de reflexão – ou de
internação – para alguns outros “calunistas” da mídia, metidos a
especialistas em política e eleições. Eles apostaram na derrota do PT e
das esquerdas e no ressurgimento da direita nativa. Sem adotar o receita
de FHC, a que tanto bajulam e veneram, eles não deviam esquecer as
besteiras que escreveram durante a campanha. O blog do jornalista Luis
Nassif ajudou neste esforço ao listar as previsões – ou torcida – destes
“formadores de opinião”. Cito alguns delas:
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1. Dora Kramer (Estadão - 4/10)
a) Citando "outros".
Lula não é mais aquele, sua liderança se esvai e sua influência míngua, constatam analistas, cientistas, especialistas em geral.
b) Opinando.
Verdade que ele [Lula] não inspira o mesmo entusiasmo entre os que
até outro dia o consideravam um oráculo nem provoca o mesmo temor entre
aqueles que, na oposição, evitavam enfrentá-lo. No ambiente dos
políticos e partidos aliados tampouco priva da reverência de antes.
2. Merval Pereira (7/10)
A “mais complicada” eleição paulistana pode acabar deixando de fora
da disputa Fernando Haddad, o candidato que o ex-presidente tirou do
bolso de seu colete, outrora considerado milagreiro. Terá sido a
primeira vez em que o PT não disputará o segundo turno na capital
paulista, derrota capaz de quebrar o encanto que se criou em torno das
qualidades quase mágicas do líder operário tornado presidente.
3. Ricardo Noblat (27/9)
Enquete: Pesquisas mostram PT fraco nas capitais. Aponte o motivo
4. Editorial do "Estado de S. Paulo": Lula está definhando? (30/9)
5. João Ubaldo Ribeiro (30/9)
Ele [Lula] insistirá e talvez ainda o vejamos perder outra eleição em
São Paulo. Não a do Haddad, que aparentemente já perdeu. Mas a dele
mesmo, depois que o mundo der mais algumas voltas e ele quiser iniciar
uma jornada de volta ao topo, com esse fito candidatando-se à prefeitura
de São Paulo.
6. Fernando Gabeira (28/9)
Ao longo de minhas viagens observei que o mensalão não havia afetado
as eleições municipais. Mas o processo está em curso. Algumas cidades já
estão afetadas, como São Paulo e Curitiba. Nesta ocorre algo bastante
irônico: o candidato Gustavo Fruet (PDT) é acusado de ter o apoio do PT e
por isso perde votos. Fruet foi um dos deputados que investigaram o
mensalão na CPI dos Correios.
7. José Roberto de Toledo - Consumismo, mensalão e voto (24/9)
Um resultado possível a sair das urnas é o PT, desgastado pelas
condenações do mensalão, perder espaço nas capitais mas crescer no
interior. Será mais um passo para virar o novo PMDB.
8. Rogério Gentile (20//9)
O julgamento no STF tem afetado Haddad, que está com um desempenho
inferior ao tradicional do PT.Uma eventual condenação de José Dirceu
pode agravar sua situação, por mais que ele tente se desvincular do
colega de partido.
9. Cláudio Humberto (22/8)
SÓ NO TRANCO
Apadrinhado de Lula, Haddad esperava atropelar Serra com a entrada da
presidente Dilma e de Marta Suplicy na campanha. Deu chabu.
10. Marco Antonio Villa (7/10)
O grande perdedor é o Lula. Até agora, ele fracassou em suas
principais movimentações. Se a candidata fosse Marta Suplicy em São
Paulo, ela estaria no segundo turno.
11. Tuíte da revista "Veja" (7/10)
@VEJA: Derrocada do PT e disputas acirradas marcam eleições
PT campeão de votos; PSB é o que mais cresce
Fechadas as urnas e anunciados os resultados em todo o País,
contrariando as pesquisas e a torcida dos analistas da grande mídia, que
previam a sua derrocada por conta do julgamento do mensalão, o PT
surge como o grande campeão de votos do primeiro turno destas eleições
municipais.
Com um crescimento de 4,3% em relação à disputa de 2008, o PT somou
17,3 milhões de votos e ficou em primeiro lugar. Em segundo, aparece o
PMDB, principal aliado da base governista, com 16,7 milhões de votos,
registrando uma queda de 9,8% na comparação com a eleição anterior.
Também o maior partido da oposição, o PSDB, que explorou o mensalão em
suas campanhas, caiu em relação a 2008: com um total de 13,9 milhões de
votos nas eleições de domingo, sofreu uma queda de 4,3%.
Em número de prefeituras, o PMDB se manteve na liderança, embora tenha
caído 15% no total de vitórias, passando de 1.200, em 2008, para 1.061
agora. O PSDB continua em segundo, mas sofreu queda de 13% no total de
prefeituras, tendo ficado com 688. Com 627, o PT aparece em terceiro
lugar, mantendo um crescimento contínuo desde 1996.
E quem mais cresceu nesta eleição foi o PSB, que derrotou o PT, seu
antigo aliado, em Belo Horizonte e no Recife. O partido de Eduardo
Campos registrou um crescimento de 51% no total de votos, passando de
5,7 para 8,6 milhões, e no número de prefeituras (433), 41% a mais do
que em 2008.
Assim mesmo, o PSB ainda ficou abaixo do PSD de Gilberto Kassab, que
nem existia na eleição anterior, e agora já aparece com 493 prefeituras
conquistadas.
Na outra ponta, o DEM, que se chamava PFL quando chegou a eleger 1.028
prefeitos nas eleições de 2.000, despencou para apenas 274 nesta
eleição.
Passando a régua nestes números, ainda faltando as eleições de segundo
turno em 50 municípios, no próximo dia 28, chega-se a uma importante
vitória dos partidos da base aliada da presidente Dilma Rousseff,
enquanto os dois maiores partidos de oposição registram queda, tanto em
quantidade de prefeituras conquistadas como em total de votos.
Os "não votos"
Confirmando as constatações feitas aqui no Balaio, na semana passada,
sobre o desencanto com a política demonstrado nesta campanha eleitoral,
2,5 milhões dos 8,5 milhões de eleitores de São Paulo não votaram em
ninguém (1,5 milhão nem foi votar).
Entre abstenções, votos brancos e nulos, o total chegou a 28,9% dos
eleitores, recorde nos últimos anos, exatamente o mesmo índice (28,98%)
de votos alcançado por Fernando Haddad, do PT, que disputará o segundo
turno contra José Serra, do PSDB, vencedor do primeiro turno, com
30,75%.
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