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“No editorial "As digitais da gestão
Dilma", mais um agressivo ataque à presidente, o jornal comandado por
Francisco Neto diz que o governo da presidente será marcado pelo boato sobre o
fim do programa assistencial; erro episódico é comparado ao confisco das
aplicações financeiras em 1990
O Estado de S. Paulo perdeu de vez a mão em seus editoriais. A
peripécia mais recente é a comparação entre a crise recente do Bolsa-Família e
o confisco da poupança em 1990. Confira:
Entre as muitas distinções duvidosas
que hão de marcar o primeiro - talvez o único - mandato da presidente Dilma
Rousseff, está o ato da administração federal que levou o pânico a milhões de
brasileiros, como não se via desde o catastrófico anúncio do confisco da
poupança, há 23 anos, sob o governo Collor. No fatídico 16 de março de 1990, o
grosso da população foi induzido a acreditar que, a partir de então, teria de
viver com Cr$ 50 mensais até a liberação dos recursos sequestrados, prevista
para daí a 18 meses. No dia 18 de maio último, uma parcela dos cerca de 50
milhões de inscritos no Bolsa Família (ou 13,5 milhões de famílias) foi
induzida a acreditar que o programa estava para ser extinto - o que provocou
uma corrida aos postos de pagamento do benefício em 13 Estados, com filas
enormes, tumultos e depredações.
No caso da poupança, tratava-se, não
obstante a trapalhada da comunicação, de um fato real. No caso do Bolsa
Família, tratou-se de uma inverdade que se alastrou com a rapidez e o alcance
característicos das comunicações em redes sociais, a partir de uma mensagem
disparada por uma internauta de Cajazeiras, na Paraíba, conforme apurou a
Polícia Federal (PF). O falso rumor sobre o fim próximo do Bolsa Família não
surgiu do nada. Confirmando o que se veio a saber graças à imprensa - e que a
cúpula da Caixa Econômica Federal, mentindo, ocultou enquanto pôde -, a PF
apontou como origem da boataria as mudanças feitas pela instituição nas datas
escalonadas dos pagamentos mensais do benefício e as alterações em cadastros de
inscritos pelas prefeituras dos respectivos municípios. Foram os únicos
mencionados no "conjunto de fatores desassociados" que alarmaram os
bolsistas.
Os federais deixaram claro que a investigação completada em 54 dias tinha por objetivo verificar se houve crime por trás da corrida aos caixas eletrônicos naquele final de semana de maio; não se técnicos da Caixa, por incompetência ou indiferença ao destino dos seus clientes compulsórios, fizeram uma barbeiragem (digamos assim) ao antecipar pagamentos programados para o fim do mês - sem avisar os seus superiores, ao que tudo indica, e, muito menos, a população interessada. Se antes não houve crime, depois foi um festival de leviandade e exploração política. A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, foi a primeira a dizer o que não sabia nem devia. Pavlovianamente, culpou a "central de notícias da oposição" pela produção e distribuição do rumor que tirou do sério muitos milhares de famílias dependentes do programa.
Repreendida a mando da presidente, Rosário recuou. Mas, no dia seguinte, o seu colega da Justiça, o petista José Eduardo Cardozo, recorreu à sua coleção de advérbios para insinuar que houve, sim, uma conspirata. "Evidentemente", entoou, "houve uma ação de muita sintonia em muitos pontos do território nacional, o que pode ensejar a avaliação de que alguém quis fazer isso deliberadamente, planejadamente, articuladamente." Dilma guardou-se de chegar a tanto, mas afirmou que "o autor" do boato é alguém "absurdamente desumano" e "criminoso também". O seu preceptor Luiz Inácio Lula da Silva preferiu um tom mais filosófico. "O Brasil tem milhões de pessoas boas, decentes, e tem gente assim. Gente que veio ao mundo para fazer o mal." Enquanto isso, corria a maldade deliberada, planejada e articulada, como diria o ministro Cardozo, de que uma empresa de telemarketing do Rio de Janeiro teria sido contratada - decerto pelos inimigos do governo - para injetar em quantas linhas telefônicas pudesse a mensagem apocalíptica sobre o Bolsa Família.
Nada mais natural que, divulgado o relatório da PF, nenhum dos personagens referidos tenha tido a decência elementar de vir a público reconhecer o seu "erro", para repetir o eufemismo a que Lula recorreu quando os companheiros foram flagrados pagando o mensalão, o Bolsa Família dos aliados corruptos. Tampouco a direção da Caixa quis se manifestar sobre essa combinação perfeita de irresponsabilidade administrativa, má-fé política e, afinal, impunidade - as inconfundíveis digitais deste governo.”
Os federais deixaram claro que a investigação completada em 54 dias tinha por objetivo verificar se houve crime por trás da corrida aos caixas eletrônicos naquele final de semana de maio; não se técnicos da Caixa, por incompetência ou indiferença ao destino dos seus clientes compulsórios, fizeram uma barbeiragem (digamos assim) ao antecipar pagamentos programados para o fim do mês - sem avisar os seus superiores, ao que tudo indica, e, muito menos, a população interessada. Se antes não houve crime, depois foi um festival de leviandade e exploração política. A ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário, foi a primeira a dizer o que não sabia nem devia. Pavlovianamente, culpou a "central de notícias da oposição" pela produção e distribuição do rumor que tirou do sério muitos milhares de famílias dependentes do programa.
Repreendida a mando da presidente, Rosário recuou. Mas, no dia seguinte, o seu colega da Justiça, o petista José Eduardo Cardozo, recorreu à sua coleção de advérbios para insinuar que houve, sim, uma conspirata. "Evidentemente", entoou, "houve uma ação de muita sintonia em muitos pontos do território nacional, o que pode ensejar a avaliação de que alguém quis fazer isso deliberadamente, planejadamente, articuladamente." Dilma guardou-se de chegar a tanto, mas afirmou que "o autor" do boato é alguém "absurdamente desumano" e "criminoso também". O seu preceptor Luiz Inácio Lula da Silva preferiu um tom mais filosófico. "O Brasil tem milhões de pessoas boas, decentes, e tem gente assim. Gente que veio ao mundo para fazer o mal." Enquanto isso, corria a maldade deliberada, planejada e articulada, como diria o ministro Cardozo, de que uma empresa de telemarketing do Rio de Janeiro teria sido contratada - decerto pelos inimigos do governo - para injetar em quantas linhas telefônicas pudesse a mensagem apocalíptica sobre o Bolsa Família.
Nada mais natural que, divulgado o relatório da PF, nenhum dos personagens referidos tenha tido a decência elementar de vir a público reconhecer o seu "erro", para repetir o eufemismo a que Lula recorreu quando os companheiros foram flagrados pagando o mensalão, o Bolsa Família dos aliados corruptos. Tampouco a direção da Caixa quis se manifestar sobre essa combinação perfeita de irresponsabilidade administrativa, má-fé política e, afinal, impunidade - as inconfundíveis digitais deste governo.”
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